domingo, julho 20, 2014

Televisão: Quando o direto corre mal



Rui Reininho é o mais recente exemplo dos riscos da produção televisiva em direto. Mas antes do amuo do cantor e jurado na RTP, muitos outros episódios idênticos fizeram corar os responsáveis dos canais. Como o título da música que compôs um dia para os GNR, Rui Reininho assumiu sem rodeios a 'falha humana' que protagonizou no domingo. "Passei-me um bocado dos carretos", disse ao "Diário de Notícias", quando questionado sobre os motivos que o levaram a abandonar o estúdio na fase final da emissão em direto do programa "The Voice", da RTP1. O momento insólito foi partilhado e comentado exaustivamente nas redes sociais. Com muitas teorias: desde o alegado excesso de álcool a chatices com os restantes membros do júri. Reininho desmentiu. Invocou "falhas técnicas", falou num "ataque de ansiedade" e até assumiu um "princípio de mau feitio". A produção e a RTP desvalorizam o assunto e remetem o ocorrido para uma simples consequência do excesso de horas de trabalho. A sua continuidade como júri do programa não está, de resto, em causa. Até porque, ao contrário do que canta noutra música dos GNR, em matéria de abandonos de estúdio na televisão portuguesa, Reininho está longe de ser um homem (temporariamente) só. O Expresso Diário recorda-lhe alguns protagonistas de situações similares. 
Santana Lopes: Silenciado por Mourinho 


O antigo primeiro-ministro e ex-presidente do PSD falava sobre a crise do partido, em 2007, numa entrevista a Ana Lourenço, quando foi interrompido para que a emissão seguisse em direto para o aeroporto da Portela. Motivo? José Mourinho acabava de aterrar em Lisboa após ter rescindido contrato com o Chelsea. Quando a emissão voltou para o estúdio Santana Lopes recusou retomar a palavra. "Só lhe pergunto se é assim que o país anda para a frente. Com todo o respeito, acho que o país está doido e não vou continuar a entrevista", justificou. Ana Lourenço lamentou, insistiu, mas Santana não mudou de ideias. O noticiário foi para intervalo. 
Rui Moreira: O auto de fé 


Em 2010, Rui Moreira insurge-se contra a divulgação de escutas referentes ao processo Apito Dourado e critica a insistência no assunto por parte do seu colega de painel, o benfiquista António Pedro Vasconcelos. "Não vou participar passivamente em programas que se transformam em autos de fé", ameaçou o atual presidente da Câmara do Porto quando António Pedro Vasconcelos voltou a colocar o assunto em cima da mesa. O programa prossegue, a câmara foca Vasconcelos, que continua a falar sobre o tema. Em som de fundo ouve-se uma cadeira a arrastar. No plano seguinte, a cadeira de Rui Moreira já estava vazia. E assim ficou até ao fim da emissão. Moreira não mais voltou ao painel do programa.

João Teixeira Lopes: "Este grosseirão ao meu lado" 


No programa "Pontos de Vista", da RTPN, o deputado do Bloco de Esquerda João Teixeira Lopes critica uma declaração do deputado do PS Strecht Ribeiro. O socialista diz que está a ser mal interpretado e interrompe sucessivamente o discurso do bloquista. Nos três minutos seguintes, perante o olhar incrédulo dos restantes convidados e as tentativas infrutíferas da jornalista para acalmar a situação, são trocados alguns insultos. "Grosseiro", "malcriado" e "ordinário" são os mais contundentes. Irritado com Strech Ribeiro - a quem se referiu como "este grosseirão que está ao meu lado" - , João Teixeira Lopes levanta-se em pleno debate e sai do estúdio, enquanto ambos trocam promessas recíprocas de "nunca mais" aceitarem debates televisivos.

Dias Ferreira: "Não gosto de si" 


Em 2013, irritado com a condução do programa "Dia Seguinte", Dias Ferreira senta-se de costas quase viradas para o moderador Paulo Garcia. Este pede ao comentador sportinguista que olhe para ele. A resposta indicia o que viria a suceder. "Não sou obrigado a isso. Não gosto de si. Tenho de olhar para outro lado." A troca de palavras entre ambos sobe de tom, Dias Ferreira exalta-se e Paulo Garcia responde. "Não tenho medo dos seus gritos." Dias Ferreira diz que "não tem de engolir tudo", levanta-se da cadeira e sai do estúdio. Em som de fundo, ouvem-se os gritos do comentador sportinguista, indignado. Paulo Garcia pede desculpa aos telespetadores e o programa prossegue. Dias Ferreira não voltou mais ao painel do programa. 
Jaime Antunes. Camionetas de sérvios 


Num dos espaços de comentário e debate sobre futebol na CM TV - em abril deste ano, numa altura em que o Benfica já tinha garantido o título de campeão -, o empresário e antigo candidato à presidência do Benfica Jaime Antunes é confrontado por outro convidado, o benfiquista Pedro Guerra, sobre supostas críticas feitas por Antunes, no início da época,  às "camionetas de sérvios" que o clube contratara. Jaime Antunes indigna-se com a interpelação, ameaça abandonar o programa, a conversa sobe de tom, há acusações mútuas e o programa vai para intervalo. No regresso, Jaime Antunes já não está em estúdio.

Merche Romero. À terceira parte foi de vez

Em 2007, depois de uma série de alegados desentendimentos com a produção - e insatisfeita por estar a fazer parceria na apresentação com Júlio Isidro -, Merche Romero decide não voltar a estúdio para a terceira parte de uma das emissões em direto do programa "Portugal no Coração", emitido nas tardes da RTP1. A birra valeu-lhe um afastamento temporário dos ecrãs no operador público” (trabalho do jornalista do Expresso, Adriano Nobre, com a devida venia)