segunda-feira, setembro 14, 2009

Irlanda: vale tudo no referendo sobre o Tratado...

Segundo o jonalista do Jornal I, Enrique Pinto-Coelho, "um grupo de eurodeputados irlandeses condena a "vergonhosa" publicidade inserida num jornal católico. Houve um tempo, num passado não tão longínquo, em que a ameaça eram os comunistas. "Eles comem crianças", dizia-se; "ao pequeno-almoço", acrescentavam alguns. No século XXI, os boatos não só sobrevivem como ganharam novo fôlego graças às novas tecnologias - nomeadamente a internet. A má-língua, imitando os vírus e os parasitas, adapta-se às circunstâncias. Sofre mutações, se for necessário, para continuar a infectar novas vítimas. Na Irlanda, o alvo escolhido numa inovadora campanha são os fiéis cristãos, e o agente portador é um jornal católico mensal. "Lisboa vai roubar as vossas crianças", alerta uma publicidade inserida no gratuito "alive!", uma publicação que alega ter 359 mil cópias distribuídas pelas igrejas da República da Irlanda. "Lisboa", neste caso, não designa a capital portuguesa mas sim o tratado constitucional que pretende alterar a natureza jurídica da União Europeia (UE). O Tratado de Lisboa, assinado em 2007 durante a presidência portuguesa dos 27, continua pendente da ratificação da Irlanda, único país que o submeteu a referendo. A campanha é financiada pelo Éire go Brách (Irlanda para Sempre), um movimento nacionalista contrário ao aborto. "Amparando-se no Tratado de Lisboa, a União Europeia poderia apreender as casas e as poupanças dos idosos e retirar as crianças a pessoas com problemas leves de alcoolismo ou depressão ou carentes de casa familiar", garante o anúncio. A mensagem provocou a indignação de um grupo de eurodeputados irlandeses, que exigem à hierarquia eclesiástica da ilha que proíba a "vergonhosa" propaganda anti-Lisboa das igrejas e publicações católicas. Gay Mitchell, representante em Bruxelas do partido Fine Gael (democrata-cristão, o segundo mais votado na Irlanda), critica a Igreja por "facilitar a divulgação de uma mensagem completamente enganadora". Em conversa com o i, recomenda à instituição que pense se "quer de facto apoiar este tipo de mensagens". "Não sei nada desta campanha", garante Scott Schittl, porta-voz da Cóir, uma organização partidária do "não". Em declarações ao diário "EUobserver", uma referência em assuntos europeus, Schittl afirma que "os eurodeputados não estão preocupados com o anúncio do Éire go Brách mas sim com a 'alive!'". "'A alive!' tem vindo a publicar informação que conta a verdade sobre o tratado. [Os eurodeputados] receiam que as pessoas conheçam o que o tratado verdadeiramente contém", sublinha Schittl. No portal do Éire go Brách enumeram--se nove motivos para rejeitar o tratado. O ponto três sustenta o "não" para "tomar conta das crianças e eliminar a pobreza fabricada e a repressão do Estado". O seguinte ponto propõe "defender os nossos fetos dos campos de extermínio da Europa e do bloco liberalista". A 12 de Junho do ano passado, os irlandeses chumbaram o Tratado de Lisboa e adiaram, mais uma vez, a reforma da UE. Daqui a três semanas terão uma nova oportunidade de ratificar em referendo o acordo. A última sondagem, publicada há uma semana, mostra um aumento dos indecisos (de 18% para 25%) e uma quebra de oito pontos nos partidários do "sim" (de 54% para 46%). O "não" é defendido por 29% dos inquiridos".

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