Têm surgido vários modelos feitos por matemáticos, economistas,
epidemiologistas e virologistas para estimar o impacto da epidemia em Portugal
e a velocidade da sua propagação. Os modelos são muito úteis, mas qualquer
previsão tem sempre um grau de incerteza
1. Como são feitos estes modelos matemáticos?
Os modelos servem para fazer previsões e traçar cenários, como
acontece na Meteorologia. São uma forma simplificada de representar a realidade
de forma matemática. No caso de uma epidemia, são usados para estimar o número
de infetados que um país poderá vir a ter, conjugando algumas variáveis, como a
velocidade de contágio de um vírus (o chamado R0, o número de pessoas que
alguém infetado irá contaminar). Numa fase inicial de contágio de um vírus numa
população sem imunidade (como é o caso atual), o mais comum é que a propagação
seja exponencial e que mesmo os modelos feitos por quem não é epidemiologista o
consigam mostrar.
2. Que variáveis têm em conta?
O número de pessoas que um infetado deverá contagiar, o número
de novos casos diários ou a estrutura etária da população são exemplos. Mas nos
modelos mais especializados, feitos por epidemiologistas, entra-se em terrenos
mais complexos. O objetivo é ir percebendo a dinâmica do vírus, seja através do
período de incubação, do número efetivo de pessoas que alguém contagia quando
já há medidas de contenção e distanciamento social em vigor, além de perceber
que parte da população já esteve infetada e vai ganhando imunidade. A densidade
populacional é outra variável a ter em conta para perceber o impacto das
medidas e contágio no território.
3. São fiáveis?
Todas as previsões têm um certo grau de incerteza. Além disso,
a dinâmica de um vírus depende do comportamento da população: um mesmo vírus
pode propagar-se mais depressa num local e menos noutro. Por isso, quanto maior
o intervalo de tempo entre o momento atual e o momento futuro da previsão,
maior é a incerteza. Ou seja, quanto a mais longo prazo for feita uma previsão,
maior é o risco de errar, uma vez que se parte do pressuposto que durante esse
tempo a dinâmica do vírus não muda. O problema neste momento é não se saber
quando irá ocorrer um abrandamento no número de casos e, por isso, há quem
esteja a evitar fazer previsões superiores a três dias.
4. Quem faz estes modelos?
Matemáticos, economistas, engenheiros ou investigadores noutras
áreas científicas, que habitualmente usam modelos matemáticos, foram
partilhando os seus cálculos, muitas vezes nas redes sociais e admitindo, em
alguns casos, serem apenas abordagens simples e exploratórias. Entre os
especialistas na área, como os epidemiologistas e virologistas, destacam-se os
modelos da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública. Tanto o Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge como a Direção-Geral da Saúde, que esta
semana convocou vários especialistas para mostrarem as suas previsões, estão a
desenvolver os seus modelos específicos.
5. Estão a coincidir com a realidade?
Os modelos que são públicos e têm sido partilhados mostram que
o número de casos esteve a aumentar de forma exponencial nos últimos dias,
coincidindo com a linha traçada. Ou seja, cresceram a uma taxa constante, mas
como a base é cada vez maior o número final também. De dois em dois dias, o
número tendeu a duplicar. Recentemente, houve ligeiras oscilações, com o número
de casos divulgados pela DGS a ser inferior ao estimado pelos modelos. O que se
sabe é que há sempre um desfasamento entre o dia de hoje e os números, devido ao
tempo de incubação do vírus (Raquel Albuquerque, Expresso)
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