quarta-feira, novembro 05, 2025

Como se combate o populismo? "Com eleições", responde Fukuyama

O filósofo norte-americano acredita que um dos principiais problemas da atualidade está relacionado com a falta de confiança dos cidadãos nos partidos tradicionais e na ciência. E espera que as eleições locais desta terça-feira nos EUA representem uma mudança. Com a ascensão do populismo, como se pode combatê-lo? A pergunta teve uma resposta por parte do politólogo norte-americano, Francis Fukuyama, que vê apenas nas eleições a capacidade de combater esta vaga mundial, sobretudo do populismo, apontando casos concretos como os próprios EUA, mas também a Hungria, a Índia ou a Turquia. "Como combater o populismo?", questionou Fukuyama. "Com eleições", respondeu, admitindo que "é um trabalho duro, lento, mas é assim que se evita o retrocesso - como na Polónia recentemente. Talvez nos EUA no próximo ciclo eleitoral - veremos".

Para o investigador da Universidade de Standford, "a eleição de Donald Trump representa uma ameaça muito mais séria à democracia liberal do que qualquer um dos seus predecessores, porque os Estados Unidos são a maior democracia, a mais poderosa, a mais influente -  o país que usou o seu poder nos últimos 70 anos para construir uma ordem liberal internacional." Mas numa nota de atualidade, referindo-se aos resultados das eleições locais e estaduais desta terça-feira nos EUA, Fukuyama, antecipa o que poderá ser uma mudança. "As eleições de ontem são um sinal de esperança", afirmou, referindo-se em concreto à eleição do mayor de Nova Iorque, o democrata Zohran Mamdani. Para Fukuyama, "a democracia nos EUA não está morta - ainda existem travões significativos ao poder presidencial. Os tribunais têm sido o principal. Muitos dos decretos executivos de Trump foram contestados e anulados por juízes federais inferiores", lembrou.

A crise da confiança

Para Francis Fukuyama, muito do que temos na atual crise e ascensão do populismo nacionalista está relacionado com a falta de confiança - "a questão mais profunda" - em diversas camadas da sociedade. Para o filósofo norte-americano, o populismo é o primeiro fator. "Numa democracia, um líder populista afirma que as instituições são ilegítimas, que são manipuladas por elites, que a política deve ser sobre personalidade e não políticas - e conduz a uma erosão do Estado de direito", lembrando o caso paradigmático do peronismo na Argentina e que teve ramificações noutros países da América Latina.

Para Fukuyama, outra mudança "importante ocorreu na definição do conservadorismo", dando o exemplo da era de [Ronald] Reagan, quando o "conservadorismo se baseava em políticas: baixos impostos, desregulação, privatização". Hoje, afirma o politólogo, "o conservadorismo nos EUA baseia-se em teorias da conspiração. É populista porque supõe que a realidade é manipulada por elites malévolas" (Jornal de Negócios)

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