domingo, março 16, 2025

Nota: o desafio (da unidade interna) do PSD-Madeira sob pena da derrocada

Miguel Albuquerque disse há dias, numa entrevista, que o PSD-Madeira sem unidade interna e combate concertado pelos mesmos objectivos, não vai chegar lá. É uma verdade incontestável. Obviamente que o problema é saber o que vão fazer depois de lá chegarem, se vão querer manter tudo na mesma como se nada se tivesse passado.

O PSD-Madeira foi confrontado, desde Janeiro de 2024, com uma sucessão de casos inesperados, com claro impacto social e, por essa via, com fortíssimo impacto político, gerando uma instabilidade que nunca foi resolvida devido à configuração do parlamento regional, eleito antes de Janeiro de 2024, e depois de Maio de 2024.

Ocorre que nestes tempos de eleições, o que faltava a um partido, seja ele qual for, seria ter que perder tempo com alguns arrufos internos, só porque alguns acham que é chique vir para a praça pública perorar sobre coisas e coisinhas que nada têm a ver, nem com o processo eleitoral em curso, nem com os legítimos objectivos políticos e parlamentares do PSD-Madeira, enquanto partido com história e com um legado político inegável - e que não se pode confundir, nem dissipar, por causa de erros alegadamente cometidos por alguns dos seus membros, por actos de permissividade excessiva ou conivência (tudo isso a aguardar a urgente clarificação de tudo o que se passou por parte da única instituição com competência para tal, a justiça através dos seus tribunais) nem, em última instância, com os interesses da própria Região.

Acresce que os "contadores de histórias" não podem ter nem memória curta, nem serem selectivos apenas para um dos pratos da balança, "esquecendo" tudo o que antes aconteceu, os procedimentos adoptados durante anos, a gestão política de determinadas situações internas, etc, etc. Acresce que os alegados e legítimos candidatos à liderança do PSD-Madeira, precisam de saber estabelecer as suas linhas vermelhas e de escolher o tempo adequado para se movimentarem, algo que parece que felizmente tem acontecido (resta saber o que se passa nas catacumbas da política social-democrata regional): ou cavam a sepultura que será não só a deles mas a do partido no seu todo, nada restando para que eles possam, depois, dar corpo às suas ambições legítimas.

Outro erro infantil que repetidamente se insiste em querer "vender" às pessoas - chamaria antes a farsa, mais uma, para enganar parolos - é querer comparar o que hoje se passa, em termos de escrutínio dos políticos, das instituições públicas, etc, com o que se passava no passado recente. E nem é precioso recuar muito na linha do tempo - apenas uns 8 anos – não só porque a capacidade de intervenção e de fiscalização de entidades públicas competentes, casos do Ministério Público, da Procuradoria Geral da República ou do Tribunal de Contas e outras é hoje substancialmente superior e está mais consolidada e dotada de meios que antes não tinham, mas porque a “fiscalização” e a “condenação” acelerada nas redes sociais é uma nova realidade que alguns nunca tiveram que enfrentar no passado recente. Portanto acabem com isso de quererem comparar tempos diferentes na política regional. O impacto das redes sociais foi determinante para essa mudança, mesmo que saibamos todos que estamos a falar - eu sei que desregulado e criminoso, mas existente - de um fenómeno real.

Não vale a pena escamotear o impacto dessa frente comunicacional, desse novo "mundo" marcado por uma lógica de justiça popular generalizada, sem regras e sem regulação que nalguns casos até prescinde das chamadas denúncias anónimas que parecem agradar a alguns, sobretudo aos que estão longe do poder mas que escondem, por causa disso, os seus pequenos mundos de corrupção, compadrio, favorecimento, etc. Uma "varredura" mais demorada, competente e atenta, por exemplo, às contas de alguns partidos revelaria por certo muita coisa e suscitaria muitas dúvidas... E não é preciso serem apenas os maiores partidos ou os chamados partidos do poder.

Isto é como o futebol: se o VAR permite que os grandes sejam beneficiados é logo uma "escandaleira" e suscita uma berraria entre os comentadores e nas redes sociais. Mas se o VAR permitir, pela omissão, que os mais pequenos lixem os grandes à custa de irregularidades sancionadas, temos então um manto de silêncio e cumplicidades várias porque ninguém valoriza o que se passou, ninguém contesta ou comenta com a mesma indignação, insistência calorenta e verborreia contestatária, esta situação. Na política é o mesmo, o tratamento diferenciado entre os grandes e os pequenos partidos. Só porque não foi um grande a ser beneficiado pela arbitragem, tudo muda de figura. Sabemos todos que é assim. O resto são tretas, na política ou no futebol.

Depois esqueceram-se por acaso que o perfil dos militantes e simpatizantes (eleitores) nos partidos mudou muito desde 2011, o ano da troika, com tudo o que foi então aprovado e imposto ao país e aos portugueses? Esqueceram-se que o universo eleitoral regional, em termos etários, e as suas opções, se tem vindo a alterar muito desde os anos oitenta e que existem explicações plausíveis que facilmente indicam as causas para as perdas de votos que alguns distorcem e tentam considerar como demérito de quem lidera os partidos? Por exemplo, as prioridades e as expectativas de vida dos jovens, nos dias que correm, pouco ou nada têm a ver com as prioridades dos pensionistas ou dos reformados ou mesmo dos funcionários públicos que sempre tiveram uma maior capacidade reivindicativa comparando-os com os privados. Cada grupo de cidadãos, em cada tempo do quotidiano, luta pelos seus interesses e dá corpo aos seus níveis de satisfação, frustração, desilusão, etc. E contra esta lógica indesmentível não há milagres nem milagreiros que a contenha. Talvez não seja tão difícil, como alguns tentam fazer crer, perceber as oscilações eleitorais de alguns partidos e o aumento da abstenção. Abordar esta temática sem o decisivo ano de 2011 – ano da troika e do PAEF na Madeira – é desonesto. Basta que consultem os resultados, basta que investiguem a mudança de protagonistas nos principais partidos, basta que recordem quantos partidos surgiram na política nacional depois desse ano negativamente marcante. O resto são tretas... (LFM)

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