Segundo o DN de Lisboa, num texto do jornalista Hugo Coelho, "como num thriller de espiões, a história começa com um telefonema anónimo a marcar um encontro. Horas depois, David Stewart Nozette, o cientista, entra no bar do Hotel Mayflower em Washington, senta-se frente ao "contacto", um suposto espião de Israel, diz-lhe que sabe segredos militares dos EUA e está pronto a vendê-los. O outro acena-lhe com os dólares, dois mil, levanta-se e sai. Nozette caíra na cilada. Ao FBI restava apenas esperar. Não foi necessária muita paciência. Semanas depois, no final de Setembro, o cientista "vendido" deixou num marco de correio o primeiro envelope selado com informações ultra-secretas sobre a tecnologia dos satélites americanos. O golpe repetiu-se, pelo menos, uma vez mais e a troco de nove mil dólares. Na segunda-feira, o contacto marcou novo encontro no Mayflower, mas desta vez não apareceu sozinho. O bar estava cercado e o traidor foi preso. Nozette, 52 anos, está desde então em prisão preventiva, é acusado de espionagem e arrisca uma pena de prisão perpétua, de acordo com o Departamento de Justiça. O cientista tentou vender segredos sobre o sistema de alerta e os meios de defesa e retaliação dos EUA contra um ataque em larga escala. Embora não tenha sido confirmado, acredita-se que nos documentos também era descrito o conhecimento que os EUA obtiveram através dos serviços secretos sobre o programa nuclear israelita. O Estado judaico tem armas nucleares, embora nunca o tenha reconhecido publicamente. "O alegado comportamento do acusado é muito grave e ele tem de servir de aviso para qualquer pessoa que pense revelar os segredos da nossa nação para obter lucro", disse à AFP David Kris, conselheiro do procurador-geral para assuntos de segurança nacional. Nozette, doutorado em Ciência Planetária pelo MIT, foi um dos cientistas mais destacados da equipa que descobriu água no Pólo Sul da Lua. Nos anos 1980, ele trabalhou no projecto da "Guerra das Estrelas" de Ronald Reagan e depois esteve no Conselho Espacial Nacional durante a presidência de George H. W. Bush. Na NASA e na Casa Branca, Nozette tinha carta branca e podia consultar informações sobre o programa nuclear americano. "De 1989 a 2006, teve autorização para aceder a informação ultra-secreta e pelas suas mãos passavam com regularidade documentos sobre a segurança nacional dos EUA", admitiu fonte do Departamento de Estado. Não se sabe ao certo o que levou o FBI a armar uma cilada contra Nozette. A polícia federal, encarregada da contra-espionagem, disse só que "está empenhada em proteger os segredos da nação e perseguir aqueles que os querem vender para lucrar com isso". Mas a imprensa americana entregou-se à especulação e enumerou as razões possíveis. De acordo com fontes do FBI, em Janeiro, o cientista confessou a um colega que, se os EUA o tentassem prender, ele iria para Israel ou outro país não identificado e contaria "todos os segredos" que sabia. Um argumento mais forte é o de que, de 1998 ao final de 2008, Nozette trabalhou como consultor técnico de uma empresa aerospacial controlada por Israel. Diz-se também que em Janeiro de 2009 ele saiu dos EUA em viagem para um país desconhecido com duas pen-drives e no regresso não as tinha. Os EUA não acusaram Israel de espionagem. O Estado judaico não reagiu à notícia".
Sem comentários:
Enviar um comentário