domingo, junho 02, 2013

Opinião: "O problema não são os palhaços"



 "Já correu muita tinta sobre a resposta de Miguel Sousa Tavares na entrevista ao Negócios. Mas, estranhamente, não correu nenhuma sobre a pergunta. Não sobre a sua legitimidade, mais do que natural, mas sobre a sua oportunidade. É que dois dias depois da entrevista ser publicada, o ex-palhaço Beppe Grillo teve um resultado desastroso nas eleições locais italianas, falhando a segunda volta nas 16 maiores cidades de Itália. O "seu" movimento 5 estrelas, que tinha sido o partido mais votado das últimas legislativas, foi quase reduzido a pó. A sua insignificância foi visível por todo o lado (em Roma caiu de 27% para 12%) e nem nos locais onde o populismo tem razões para existir, Beppe Grillo não foi a lado nenhum. Em Siena, sede do Banco Monte dei Paschi, envolvido num gravíssimo e caríssimo escândalo financeiro, Grillo ficou pelos 8,4%. E não foi por falta de esforço: o líder do 5 estrelas fez campanha por todo o país. Fez campanha mas não teve frutos.
É neste ponto que vale a pena regressar à pergunta. O problema europeu não são os palhaços que podem aproveitar as brechas em democracias desacreditadas por uma austeridade sem fim e por lideranças fracas e ziguezagueantes. Um palhaço como Beppe Grillo não tem programa político, protesta mas não propõe alternativas, sabe fazer campanhas mas não consegue governar. Pode ter momentos de glória - como teve nas legislativas - mas depois tem dificuldade em viver com a realidade. Grillo não conseguiu dar uma ideia para ajudar a formar governo e, agora, os eleitores castigaram-no. Era inevitável.
O problema europeu não são os palhaços, repito. Pelo menos literalmente. O problema são os extremismos e os partidos antissistema que têm nesta crise um campo de ação enorme. Esses movimentos e partidos têm ideologia e programa e os exemplos surgem por todo o lado, da Finlândia ao Reino Unido. O modelo social-europeu nasceu no pós-guerra por várias razões e uma delas foi a de impedir o crescimento de movimentos extremismos, habituados a cavalgar crises profundas. Não me lembro de algum palhaço ter feito muito mal a um país, mas dos extremistas não posso dizer o mesmo. Foi por isso que me fixei na pergunta" (texto de Ricardo Costa, Expresso com a devida vénia)