Segundo o Dinheiro Vivo, “foi concluído com sucesso o exame regular do programa de ajustamento de Portugal. A avaliação cumpriu os três pilares do programa: consolidação orçamental, diminuição do endividamento da economia e estabilidade do sistema financeiro e transformação estrutural”. A expressão de Vítor Gaspar tem-se ouvido de três em três meses como sinal de que Portugal vai conseguir mais dinheiro. Já foi dita seis vezes e, se tudo correr bem, voltar-se-á a repetir no início do próximo mês quando terminar a sétima avaliação da troika. O programa, iniciado em 2011 é revisto trimestralmente como forma de assegurar se Portugal está a cumprir e se pode receber mais uma parcela dos 78 mil milhões de euros (26 mil milhões do FMI e 52 mil milhões do MEE e FEEF) que compõem a ajuda externa. Até agora, nenhuma das avaliações impediu Portugal de receber mais dinheiro, e Vítor Gaspar já conseguiu vários elogios e até uma flexibilização das metas acordadas pela 'confiança' gerada nos parceiros e credores.
O primeiro desembolso da ajuda externa surgiu em agosto de 2011. Como depois de tornou habitual, os líderes internacionais visitaram Lisboa durante duas semanas, vasculharam as contas públicas e deram o veredito. A 12 de agosto desse ano, Vítor Gaspar anunciava que os parceiros estava confiantes e que permitiam o desembolso dos primeiros 11,5 mil milhões de euros do programa de ajuda. Do lado da troika dizia-se que acolhiam “com entusiasmo o empenho do novo Governo” nacional e esperavam uma grande evolução futura. Para passar neste exame, o Governo (recém-eleito) teve de o Governo desenvolver uma proposta para alterar o sistema fiscal de forma a reduzir os custos de trabalho e promover a competitividade. Três meses depois, os técnicos voltaram para autorizar mais 8 mil milhões de euros para Portugal. Desta vez advertiram para os riscos de desvios orçamentais devido à insuficiente orçamentação dos salários na função pública e lembravam que as receitas podiam ficar abaixo do esperado pelo Executivo. Foi nesta segunda avaliação que a troika sugeriu a redução da Taxa Social Única paga pelas empresas em seis pontos percentuais. A medida acabou por cair, com o Governo, no Orçamento para 2012, a dar o aumento do horário do trabalho no setor privado, em meia hora diária, como alternativa.
A terceira avaliação, que veio acompanhada pela quarta tranche do pacote de ajuda, surgiu em fevereiro de 2012. À data a troika sublinhava que “o programa está no bom caminho, apesar de subsistirem alguns desafios”. Portugal recebeu, nessa altura, mais 14,9 mil milhões de euros, que vieram com um louvor da troika pelo “amplo consenso político e social subjacente ao programa constitui um elemento fundamental”. Nas preocupações dos credores mantinham-se o desemprego jovem que caminhava nos 35% (agora está em quase 40%), a desalavancagem da economia, a dívida do Estado às empresas e o buraco da Madeira. As preocupações não impediram, contudo, que em maio os técnicos voltassem para autorizar a entrega de mais 4,1 mil milhões. Nessa quarta revisão, a avaliação foi surpreendente e o bom comportamento das exportações fazia crer que “o crescimento em 2012 pode[ia] ser maior que o esperado”. Diziam os técnicos que “o ambicioso objetivo para o défice orçamental – previsto para 4,5% - continua[va] a ser possível”. Contudo, ficou a saber-se que a troika estava insatisfeita com os salários praticados em Portugal já que os considerava demasiado rígidos, impedindo assim uma descida do desemprego.Uns meses depois, o discurso internacional mudou e os técnicos anunciavam “vários riscos pela frente” e uma flexibilização das metas do défice. Os 4,5% ficaram adiados por mais um ano, e o Governo comprometeu-se a cumprir um limite de 5% do PIB para 2012; 4,5% em 2013 e 2,5% (um valor abaixo do limite de 3% imposto por Bruxelas) em 2014.
Na sexta avaliação do programa, Portugal recebeu mais 2,5 mil milhões de euros e chegou a metade das avaliações trimestrais previstas no programa. Elogiaram a “redução de pessoal” conseguida até aqui pelo Governo, mas insistiram que “metade dos serviços das Finanças são para fechar”. Para a troika era ainda imprescindível um corte no valor pago aos excedentários. “ O objetivo é simplificar procedimentos, limitar as compensações e aplicá-la a todos os setores da administração pública”.A Comissão escrevia que o número de funcionários deveria cair entre 2% e 3% mas que as metas de redução de pessoal não podiam ser alcançadas porque o Governo teria atrasado pagamentos. Para as boas notícias ficou guardado o primeiro excedente externo, com as exportações a terem um papel fundamental".