
O modelo criado por Mário Lino e Paulo Campos, responsáveis pelas Obras Públicas do primeiro governo de Sócrates, não serviu para reduzir os encargos financeiros do Estado, como pretendido, mas antes para aumentá-los, já que a dívida da EP cresceu brutalmente. A forma de financiamento do sector rodoviário mudou, mas mesmo juntando todas as receitas da EP (539 milhões de euros anuais provenientes das receitas líquidas de parte do imposto sobre os produtos petrolíferos e da introdução das portagens nas SCUT), estas foram insuficientes para fazer face às despesas. E a dívida da EP, que era de 50 milhões em 2005, aumentou vertiginosamente para 2 mil milhões de euros em 2010. Até àquela data, as rendas das concessões rodoviárias eram pagas pela EP, através de transferências do Orçamento do Estado, via PIDDAC. Mas com a fórmula inventada pelo governo de Sócrates, a EP passou a financiar-se através de uma receita própria proveniente de uma nova taxa (a Contribuição de Serviço Rodoviário) que incide sobre os produtos combustíveis. Além disso, aquela receita permitiria ainda outra manobra: que a dívida da empresa não contasse para o apuramento do défice e da dívida pública.
Como essa receita não era suficiente para fazer face aos encargos, o Estado resolveu introduzir portagens nas SCUT. Mas, mais uma vez, de acordo com a auditoria do TC, este foi um negócio ruinoso para o Estado. E para o utilizador. Por um lado, a introdução das portagens não anulou "o princípio do contribuinte pagador", já que as receitas de portagem nestas vias "rondarão apenas 30 a 40% dos respectivos custos totais": ou seja, as SCUT continuarão a ser pagas pelos contribuintes e não só pelos utilizadores. Por outro lado, o Estado "não avaliou o custo/benefício dos impactos económicos e sociais" resultantes da introdução de portagens. Para o TC, este foi um negócio de ouro, mas só para as concessionárias. Como as receitas das portagens passaram a ir para a EP, as empresas privadas quiseram uma contrapartida: um pagamento por disponibilidade. Só que o governo renegociou estes contratos tendo por base a projecção de tráfego inicial. E acabou por alinhar sempre no que era melhor para os privados. Os auditores deixam claro que a remuneração anual que o governo acertou com os concessionários privados eram "claramente superiores aos praticados nos mercados". E, feitas as contas finais, o Estado acabou por gastar mais do que gastava nos anteriores contratos"
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