Garante o Económico que "um abrandamento económico mais agressivo na Europa colocará em causa o único motor de crescimento português. A crise financeira internacional já está a pressionar os planos de consolidação das contas públicas portuguesas. Com a ameaça de um abrandamento económico mais acentuado tanto na Europa, como nos EUA, Portugal poderá ser obrigado a reforçar as medidas de austeridade para atingir as metas definidas com a ‘troika'. Itália e Espanha anunciaram mais medidas de austeridade e até o ministro das Finanças irlandês - que, tal como o português, Vítor Gaspar, já tem um plano de austeridade da ‘troika' para aplicar - admitiu a possibilidade de ser arrastado pelas forças externas. Pode ser uma questão de tempo até Portugal anunciar também novas medidas de austeridade, ou admitir que, dadas as circunstâncias, as metas não serão cumpridas ao milímetro. A economia portuguesa está cada vez mais encurralada. Depois de ter sido obrigada a desligar os seus dois principais motores de crescimento - o consumo público e a procura doméstica - arrisca-se agora a uma travagem brusca da única alternativa que lhe restava: as exportações. O Diário Económico sabe que as instituições internacionais que negociaram o resgate português - Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia - estão particularmente atentas ao impacto que o agravamento da situação financeira pode ter nos esforços de consolidação do Governo. Se a economia internacional abrandar, as exportações portuguesas ressentem-se e a recessão poderá ser ainda mais profunda do que os 2,2% de quebra que já estão previstos. Ora, se tal acontecer o objectivo de cortar o défice para 5,9% do produto interno bruto (PIB) fica mais difícil e poderá obrigar a um aperto maior. É também isso que está a ser avaliado pela missão internacional que está neste momento em Lisboa. A resposta deverá ser dada ainda esta semana, entre quinta e sexta-feira, numa conferência de imprensa que fecha a primeira avaliação ao cumprimento do memorando, apurou o Diário Económico. Ontem, na reunião da ‘troika' com a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e os representantes das comissões parlamentares, um dos temas focados foi exactamente a ligação entre a economia internacional e a portuguesa. "Há a ideia de que o memorando de entendimento se executa de acordo com as circunstâncias e que por isso mesmo vai sendo ajustado às necessidades", reconheceu, ao Diário Económico, um deputado que esteve presente na reunião. O próprio documento da ‘troika' frisa que basta que se "espere que os objectivos sejam falhados" para serem aplicadas "medidas adicionais". Recorde-se que o Governo já assumiu um desvio face aos objectivos da ‘troika' de dois mil milhões de euros, mas a retenção do equivalente a metade do subsídio de Natal cobre menos de metade do buraco. Os economistas contactados pelo Diário Económico reconhecem o risco que uma degradação da economia internacional traz. "Em termos de receitas fiscais, uma situação dessas tem um impacto negativo. Ou as metas orçamentais são postas em causa, ou aplicam-se medidas adicionais", admite João Loureiro, professor na Faculdade de Economia do Porto. "No pior cenário isso [ser preciso mais austeridade] poderá acontecer, mas as autoridades a nível mundial estão à procura de soluções que limitem a incerteza", acrescenta Teresa Gil Pinheiro, economista do departamento de research do BPI. Para Filipe Garcia, economista da consultora IMF, "mais do que atingir metas com números mágicos, a ‘troika' quer ver empenho através da implementação das medidas concretas que foram negociadas", pelo que pode aceitar que os objectivos não sejam cumpridos "ao milímetro". Durante o fim-de-semana, BCE, G7 e G20, reuniram-se de emergência para tentar conter o pânico nos mercados e decidir acções conjuntas para resolver a crise da dívida soberana, que é cada vez mais global. Os líderes políticos reafirmaram a determinação em corrigir o excessivo endividamento dos países da moeda única e Itália, Espanha, Bélgica, Espanha e Chipre já se comprometeram com medidas adicionais. O BCE anunciou que vai intervir "significativamente" no mercado secundário de dívida. Mas o dia de ontem provou que, ainda assim, os esforços foram insuficientes e as bolsas afundaram. Os indicadores avançados da OCDE dão força ao pior cenário: todas as grandes economias deverão desacelerar nos próximos seis meses”.
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