quinta-feira, maio 20, 2010

Alberto João Jardim: "A Europa não sabe a saída para ultrapassar os problemas gravíssimos"

"Creio que a Europa, nomeadamente a zona euro, não vê bem a saída para necessariamente ultrapassar os problemas gravíssimos em que andamos mergulhados. Continua a ser dada prioridade absoluta à questão do défice, quando este problema, que também tem de ser convenientemente controlado, não tem solução se não forem tomadas medidas para a dinamização das Economias. É que não se gerarão as receitas necessárias, nem sequer pela via discutível de mais impostos, se por causa da dureza das medidas que andam a ser tomadas a nível europeu, as Economias não forem dinamizadas através dos investimentos públicos e privados, através do crescimento dos seus sectores terciários e através das exportações. Mediante soluções para maior produtividade em todos os países e para maior competitividade destes, incluso com redução da permeabilidade a que temos andado sujeitos em relação a países terceiros.
Portanto, a não se fazer isto, nem se conseguirá a redução dos défices. Dá a impressão de que a Europa, nomeadamente a zona euro de que Portugal não pode sair, está mergulhada numa espécie de «pescadinha de rabo na boca», num círculo vicioso, persistindo em estratégias que nos arrastaram para uma crise globalizada, bem à vista desde o ano passado.
Só aumentar os impostos, sem eliminar no interior de cada Estado aqueles organismos públicos que são absolutamente dispensáveis, trata-se de prolongar uma agonia. Só aumentar os impostos, cortando irracionalmente em tudo quanto seja investimento, público ou privado, implica um desastre para a grave situação do Emprego na Europa. Há que pensar mais, nessa prioridade absoluta que é a dignidade da Pessoa Humana, o que exige um combate sem tréguas ao desemprego.
Antes do défice, no meu entender, as questões fulcrais que se põem, são o Emprego e a Economia. As finanças são meramente instrumentais.
Por exemplo, quanto a Portugal, já há alguns anos que defendo o TGV, dada a nossa periferia e em coerência com as minhas apostas de sempre nas acessibilidades internas e exteriores. Como, a par disto, também sempre disse um novo aeroporto ser um disparate, quer para a cidade de Lisboa, quer para os futuros utentes, quer depois do dinheiro que se investe anualmente na Portela. Ali é possível expropriar mais, mas só se, apesar da crise europeia previsivelmente durável, houver certezas sobre aumentos substanciais de tráfego aéreo. Como também venho defendendo que, na Europa e nomeadamente na zona euro, as políticas dominantes dos países mais ricos, substancialmente também responsáveis pela crise global, têm de reconhecer que as receitas que vêm impondo para a situação presente, não podem ser iguais para um País mais débil como Portugal, nem sujeitas aos mesmos prazos. Tudo o que disse, está em coerência com posições diferentes que sempre assumi perante algumas políticas, quer do Partido Socialista, quer do Partido Social Democrata. Mas embora assim desmarcado de muito do que até agora aconteceu, é meu imperativo patriótico convergir, cooperar e participar nos sacrifícios que são exigidos a todos os Portugueses. O contrário é que seria imoral, sobretudo depois de toda a solidariedade do País inteiro com a Madeira, quando da catástrofe que tanto nos atingiu
” (crónica de Alberto João Jardim na TVI24, esta semana)

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