quinta-feira, outubro 08, 2009

Hipócritas e hipocrisias

"Por um lado, sublinhando a necessidade de ser desmistificada, de uma vez por todas, essa ideia idiota e estapafúrdia, de que os candidatos da maioria, sobretudo quando se recandidatam a um novo mandato, pelo simples facto de serem autarcas no poder, passam a ser rotulados de incompetentes, ladrões, corruptos, autistas, bandidos e outros adjectivos próprios dos pacóvios idiotas que ofendem para disfarçarem o vazio de ideias e de inteligência, enquanto que os coitadinhos dos candidatos da oposição, só por isso(!), são os melhores do universo…e arredores, os competentes, os sobredotados, os iluminados, os detentores de ideias, os portadores em exclusivo das soluções dos nossos problemas, os sérios, os que não deixam a mãozinha cair na “gamela”, etc. Deixe-se disso. Se o conceito da seriedade for fundamental para a opção eleitoral, então podem os eleitores acreditar crer que muitas vezes são os mais “discretos”, menos expostos, com menos protagonismo mediático porque afastados do poder, os maiores mafiosos, os que se comportam em função de negócios e negociatas, os que vivem em permanente conflitualidade com a ética e as incompatibilidades, porque optam por encher-se, muitas vezes, o que é caricato, vivendo à custa de tetas montadas junto ao poder, vivendo de prestação de serviços ocultados num estranho emaranhado de empresas que se cruzem, e escondem umas atrás das outras, numa teia complicada de interesses e de “chupa-chupa” que os eleitores não podem ignorar. Aliás – e repetindo o princípio de que não podemos generalizar, porque não temos o direito de misturar na mesma panela suja, pessoas sérias com as outras – vejam como vivem e se comportam alegados políticos do “contra”, particularmente os que não são autarcas com responsabilidades e que por isso passam mais…”discretos”, para os quais é uma chatice ter que participar em campanhas eleitorais, ou fogem de candidaturas a lugares menores como o “diabo-da-cruz”, porque não se sujeitam a cargos menores, que lhes garantem pouco protagonismo. Não há, para esses, qualquer convicção, nem sequer um conceito de disponibilidade e de servir.A corrupção, o enriquecimento ilícito, o uso abusivo dado dos dinheiros públicos são cancros que mancham a democracia e ameaçam os alicerces de qualquer sistema democrático. Não há alternativa possível, senão combater essa praga que existem em todas as democracias, porque tem tudo a ver com o carácter das pessoas. Mas os que se dizem combatentes da corrupção, do gamanço, do enriquecimento abusivo e ilícito e do uso indevido de dinheiros públicos, comportam-se como hipócritas, provavelmente porque não têm espelhos em casa. De que nos servem tesos com fama de ricos, combater por inveja os que alegadamente estão melhores que eles, mesmo que nesse baralho juntem situações duvidosas e polémicas? Será que o povo aceita ser manipulado ao ponto de tolerar que pessoas verdadeiramente endinheiradas, muitas depois de acumularem fortunas à custa da exploração indevida de terceiros, que nunca se preocuparam com os problemas da pobreza, da fome, do endividamento das famílias, com a marginalidade ou a exclusão social, etc, venham agora vestir a pele de cordeiro armados em, “zorros” de pacotilha, denunciando corrupção, quando já lá estiveram, denunciando sinais exteriores de riqueza, quando ostentam os mesmos sinais, criticando o uso indevido de dinheiro público, quando vivem, politica e partidariamente, à custa dos dinheiros públicos, chupando até ao tutano os dinheiros que deveriam ser melhor aproveitados, para outros fins? O regime parlamentar regional é uma hipocrisia: os partidos, todos eles, sem excepção, recebem verbas do orçamento regional, mas depois são as instituições de que fazem parte a suportar encargos com correspondência eleitoral, por vezes milhares de cartas, distribuídas em campanhas eleitorais e que inclusivamente pagam gastos com participações a entidades públicas. Uma pouca-vergonha que revela o descaramento e a hipocrisia que por aí anda, beneficiando da impunidade de um sistema que foi criado para alimentar-se a si próprio, tornando o sistema partidário num sorvedor de dinheiros públicos intolerável. Mas esses combatentes contra a corrupção e o enriquecimento, têm ou não a pança cheia e as algibeiras manchadas por comportamentos vergonhosos que nalguns casos passaram de geração em geração? Publiquem as declarações de rendimentos entregues nas Finanças – não as declarações de rendimentos entregues no Tribunal Constitucional porque valem zero – mostrem que rendimentos têm, quando auferiram nos últimos anos, e depois, se for caso disso, justifiquem certos rendimentos declarados com os rendimentos de trabalho. Mas mostrem tudo o que declararam nas Finanças, incluindo os anexos, sem excepção! Depois disso, então sim, a gente fala da desfaçatez destes “zorros” bem-falantes, perfumados, penteadinhos, bem-nascidos e bem-vestidos, que escondem o outro lado de uma histeria política que tem muito a ver com a inveja, com a vingança, com a intolerância perante as mudanças políticas e sociais numa terra que em tempos foi uma coutada de uma mão de privilegiados bem protegidos. De onde saem hoje as suspeições, os insultos, as ofensas, porque tudo isso tem uma motivação e um propósito deliberado, o de enfraquecer o sistema político e a democracia responsável pela perda de direitos, regalias e estatutos sociais.A segunda questão – mas sobre a qual abordarei amanhã – tem a ver com a abstenção e com a necessidade do sistema partidário mobilizar as pessoas para um exercício de cidadania, essencial a qualquer democracia que se preze. Aliás, quando maior a abstenção, mais fragilizado se apresenta o poder local, particularmente junto de entidades colocadas hierarquicamente num patamar superior, e com as quais os autarcas precisam de negociar" (LFM)

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