terça-feira, setembro 22, 2009

Dois milhões de pobres: dar dinheiro não compensa

O Jornal I revela hoje que "o combate à pobreza em Portugal não funciona e é caro. A conclusão é dos especialistas que se reuniram este sábado na Faculdade de Economia do Porto para perceber "o que sabemos sobre pobreza em Portugal". Mas não resulta porquê? Para Aurora Teixeira, organizadora do evento e professora universitária, a resposta é simples: "Porque funciona numa lógica assistencialista, necessária em casos de emergência, mas que não resolve o problema, não quebra o ciclo instalado." É por isso que a pobreza no país é considerada estrutural. O número de pobres não se altera significativamente há dez anos, mantendo-se estável nos 18%, 2 milhões de pessoas. Segundo as estatísticas, um indivíduo é considerado pobre quando o seu rendimento é inferior a 60% do rendimento médio dos portugueses. "É difícil dizer isto, mas as pessoas habituam-se à pobreza. É preciso dar-lhes os instrumentos para se autonomizarem", diz Aurora Teixeira. O que aconteceu no país, adianta a mesma responsável, é que "as medidas provisórias tornaram-se permanentes".mudança "Estamos condenados à persistência da pobreza se não se mudar a forma como este problema é abordado", anunciou Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome, na conferência. Todos os responsáveis presentes defenderam a necessidade de um novo paradigma, que, nas palavras de Isabel Jonet, consiste em que "as ajudas sociais sejam acompanhadas de capacitação dos beneficiários para que, no final do apoio, possam estar realmente preparados para integrar o mercado". "Quanto mais instrução tem a pessoa, menor é o risco de pobreza", explicou Nuno Alves, do Banco de Portugal e autor de um estudo que aponta a educação como "um importante factor explicativo da pobreza em Portugal". Nuno Alves diz que "um quarto da população pobre é trabalhadora, mas condenada à precariedade devido à parca instrução". O padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, a principal organização de instituições de solidariedade social do país, coincide no diagnóstico. No entanto, acredita que a mudança já está a ocorrer: "Nas instituições da infância e juventude a tónica na educação e no empreendedorismo tem sido claramente desenvolvida." Dos 2 milhões de pobres portugueses, 15% são crianças. Aurora Teixeira duvida, porém, da evolução anunciada e diz que a mudança necessária "não se compadece com um ciclo eleitoral em que é preciso mostrar resultados". "Todos os especialistas estão de acordo: o assistencialismo, tornando-se sistemático, é mais oneroso", conclui Aurora Teixeira".

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