segunda-feira, junho 22, 2009

Açores: a economia "sobe, sobe" como o balão mas a estatística não consegue provar...

É mais uma demonstração da "seriedade" que por lá vai. Escreve o jornalista Manuel Moniz, do Diário dos Açores, que "a taxa média de inflação dos últimos doze meses caiu nos Açores para os 2,6%, mas esse é um valor que se mantém ainda longe de acompanhar as médias nacionais, que neste mês de Maio atingiram os 1,3% – sensivelmente metade da média regional. Produtos essenciais, como a alimentação, continuam a subir como se não houvesse crise: uma taxa de inflação mensal média de 5,3%, quando a nível nacional se ficou pelos 2,3% (ainda menos de metade que o valor regional. Ou seja, a vida continua a encarecer na Região muito mais que no resto do país, crise ou não crise!O atraso do Serviço Regional de Estatística continua, uma vez que as publicações relativas ao Índice dos Preços ao Consumidor referentes a Abril e Maio continuam por aparecer – quando no INE já existem. Mas na área “dinâmica” do site oficial (já nenhum material do SREA é impresso em papel), onde existem os dados que foram fornecidos ao INE, percebe-se que a situação é ainda pior: um crescimento de 7,1% nos produtos alimentares em termos homólogos, percebendo-se igualmente que a média esteve praticamente sempre acima dos 6% nos Açores.Mas o que está a impressionar alguns observadores até nem é a escalada da inflação mas a forma como essa informação é veiculada. E também não é por haver atrasos nas publicações do SREA – apesar do seu orçamento ser de 2,2 milhões de euros, dos quais 1,7 milhões suportados pela Região –, nem sequer por não conseguir aumentar o detalhe da informação que disponibiliza nos Açores – aparentemente não se importando de o Instituto Nacional de Estatística já disponibilizar muito mais informação que o serviço regional. O que já começa a preocupar é se a pouca informação existente pode ser fiável, pelo menos na sua interpretação oficial.Também não é pelo facto do site do SREA estar alojado no interior do portal do Governo, deixando adivinhar uma perigosíssima cumplicidade. O sinal mais sintomático desse clima de alguma desconfiança – entre técnicos superiores, interessados por estes assuntos, pois o povo está ainda um pouco alheado dessas coisas dos números – foi a conclusão do último Boletim Trimestral (1º Trimestre de 2009). Segundo aquela publicação, “a actividade económica regional, no 1º trimestre de 2009, deve ter registado uma evolução positiva, a avaliar pelo aumento da população empregada e pelo consumo de energia eléctrica do sector dos serviços”.“Deve”? O problema começa pela utilização muito pouco científica do termo, mas continua no tipo (e nível) de interpretação que é aplicada aos dados existentes, sugerindo hipóteses pouco abonatórias sobre a qualidade daquele serviço. É que nem o termo “deve” deve ser utilizado neste tipo de publicações, como na realidade os indicadores sobre o qual parece assentar são no mínimo inexistentes.A população empregada aumentou, diz o Boletim. Pois bem, os dados confirmam exactamente o contrário: realmente há um aumento em termos homólogos em relação ao primeiro trimestre de 2008, mas a verdade é que o 1º trimestre de 2009 revela uma contracção do emprego – e não um aumento. Aliás, a redução já se vinha verificando desde o 4º trimestre de 2008, confirmando-se ainda mais no 1º trimestre do ano: 113.121 pessoas empregadas no 3º trimestre de 2008, para 112.463 no 4º trimestre, e 111.809 no 1º trimestre de 2008. É uma realidade estatística que em relação aos 108.630 verificados no 1º trimestre de 2008 há uma subida, mas as quebras de 1,16% relativas ao 3º trimestre, mais a quebra de 0,6% em relação ao último trimestre, não serão mais importantes para traçar um quadro da realidade económica regional?Evidentemente que são, e é isso que está a deixar vários observadores de pé atrás. Porque quando o SREA diz que a economia “deve” ter melhorado devido a dois indicadores, e um deles está falseado, (são 50%...), é fácil desacreditar. Fica o dado do alegado “aumento do consumo de energia eléctrica no sector dos serviços” – um ligeiro aumento de 2,2%, que contrabalança uma quebra de 3,5% na indústria. Seria já de si pouco para justificar uma “provável evolução positiva” da economia, mas nem mesmo isso tem suporte. Quando se analisa os dados mais em profundidade, percebe-se que o que aumentou deverá ter sido o consumo de energia por parte dos serviços públicos – e se esse “modelo” pega de moda, será o caos. Na realidade, sem mesmo ir consultar os dados da EDA, o SREA poderia ter feito uma ginástica que qualquer técnico compreende: “se olhasse para a forte quebra verificada (e publicada neste Boletim) no comércio ou no turismo, podia assumir com alguma naturalidade que, se de facto há uma relação entre a boa performance da actividade económica e o consumo de electricidade do respectivo sector (o que é perfeitamente discutível, embora admissível), então o sector agregado “Serviços”, poderá ser subtraído de, pelo menos, o comércio e o turismo, ficando portanto, maioritariamente, os serviços públicos”. Elementar, poderão alguns dizer...E di-lo-ão com propriedade. Porque são técnicas que são exigíveis a quem tem por missão estudar os números e disponibilizá-los “para desenvolver”, como é o mote. Só que ambos os indicadores utilizados para imaginar uma situação inexistente… são falsos.O que fica? O que fica não são boas notícias: Licenciamento de obras: forte quebra.Venda de cimento: forte quebra.Venda de automóveis: forte quebra.Turismo: quebra.Água facturada: quebra.Comércio: forte quebra.Transporte aéreo: quebra.Leite: subida. No entanto, basta olhar para a série do leite para ver que se trata de uma subida dentro das flutuações normais ou, quanto muito, pouco acima (e o preço do leite a cair…)Pesca: forte quebra.Carne: manteve-se mais ou menos o mesmo.Exportação de gado: forte quebra.Inflação: acima da inflação nacional.Levantamento nos multibancos: subida no valor dos levantamentos equivalente à taxa de inflação, logo, as pessoas não levantaram mais dinheiro.A economia “deve” ter melhorado? É possível, só que não há números para o demonstrar. E o SREA existe exactamente para produzir números, frios, directos, objectivos. O resultado é que é sobretudo a direcção do SREA que começa a ficar sob fogo. Detida por Augusto Elavai, homem de confiança do PS que, entre outros cargos exercidos, já foi deputado regional, suspeita-se que a exigência ética do cargo possa estar a ser sacrificada ao cartão de militante. Mas também a quantidade de informação que tem vindo a ser produzida pelo serviço começa a mostrar uma falta de evolução pouco aceitável. Estará alguma coisa a mexer já nos bastidores? Não se sabe. No entanto, o que é factual é que no portal do Governo, a secção correspondente à direcção do SREA (na área da Vice-Presidência, a que pertence) desapareceu nos últimos dias, dando um erro de “página não encontrada”. Se é um sinal do que pode estar para vir, isso não se sabe. É que pode nem dever ser – ou se calhar, deve, nós não conseguimos é demonstrá-lo. Por agora, pelo menos!"

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