As bolsas mundiais
continuam em alta, mas aumenta o alerta entre investidores de que o boom da
Inteligência Artificial (IA) pode estar a aproximar-se do fim. De acordo com o
jornal alemão ‘Handelsblatt’, os principais índices americanos, como o S&P
500 e o Nasdaq, registaram mais de 30 recordes apenas este ano. Na Europa, oito
bolsas valorizaram acima dos 20% entre janeiro e junho, enquanto o PSI,
principal índice da bolsa de Lisboa, subiu 17% no primeiro semestre de 2025,
alcançando o nível mais elevado desde abril de 2010.
Apesar do otimismo
aparente, o sentimento nos mercados está a mudar. Cada vez mais gestores e
analistas admitem a possibilidade de uma “bolha multibilionária” alimentada
pelo entusiasmo em torno da IA e pelo volume massivo de capitais aplicados no
setor tecnológico.
Entre os avisos
mais sonantes está o de Jeff Bezos, fundador da Amazon, que alertou para o
risco de uma “bolha industrial” na IA. O empresário sublinha que “todas as
ideias, boas ou más, recebem financiamento agora — mas não vai ser sempre
assim”.
David Solomon, diretor do Goldman Sachs, também prevê um colapso nos mercados, avisando que “os enormes investimentos em IA no final não vão trazer retorno — e quando isso acontecer, as pessoas não se vão sentir bem”. Carsten Roemheld, estratega da Fidelity International, destaca que a concentração de capital nas grandes tecnológicas está a inflacionar o mercado: “Se a Nvidia investir 100 mil milhões de dólares na OpenAI, isso impulsiona a formação de uma bolha”. Para o analista, “a primeira onda de IA pode estar a chegar ao fim”, e “o mercado acionista está por um fio”.
Bolha da IA poderá
superar as crises de 2000 e 2008
O economista Dario
Perkins, do TS Lombard, estima que as grandes tecnológicas gastam cerca de 400
mil milhões de dólares por ano numa corrida para criar um “deus digital”,
acrescentando que “o retorno nem lhes interessa”.
Segundo o ‘Handelsblatt’, Julien Garran, da Macro Strategy Partnership, considera que uma eventual bolha da IA poderá ser “17 vezes maior do que a tecnológica de 2000 e quatro vezes superior à bolha imobiliária de 2008”. Em Wall Street, a discussão já não é sobre “se” a bolha vai rebentar, mas sim “quando”, embora persistam vozes mais otimistas sobre uma possível continuidade do crescimento.
Obrigações e
crédito privado também em risco
Os receios alastraram ao mercado obrigacionista, onde os prémios de risco das obrigações corporativas estão nos níveis mais baixos das últimas décadas, sinal de possível “sobreaquecimento”. O investidor Ray Dalio advertiu que a dívida dos Estados Unidos é agora insustentável e pode tornar-se um problema grave para os mercados. Colm Kelleher, presidente do UBS, Jamie Dimon, do JP Morgan, e o especialista Jeff Gundlach concordam que há sinais de uma nova bolha nos mercados de crédito privados. A agência de notação financeira Fitch reforçou a preocupação ao indicar que o rápido crescimento dos ativos geridos e a queda dos prémios de risco estão a criar “características de bolha” nos mercados privados.
A interligação
entre tecnologia e dívida agrava o risco
Outro foco de
alerta é o aumento da interligação entre o crédito privado e a indústria
tecnológica. Gigantes como a Meta, a Google ou a Microsoft, que raramente
recorriam a dívida, estão agora a financiar-se para construir centros de dados
e expandir a capacidade de computação ligada à IA.
Para Dario Perkins, o problema é que “a prioridade destas empresas não é o retorno do investimento, mas manter a liderança”, o que, por si só, “é um sinal de alerta”. Com a incerteza crescente, muitos investidores procuram agora ativos alternativos para proteger o seu capital. O ouro e as criptomoedas tornaram-se opções preferenciais contra a inflação, o aumento da dívida e a instabilidade política. Apesar da natureza especulativa, estes investimentos estão a movimentar milhões de dólares, refletindo a desconfiança crescente nas moedas tradicionais e no sistema financeiro global (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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