Este quadro mostra a evolução, entre 2011 e 2025 - incluindo as regionais de 2024 e de 2023 - dos valores dos inscritos, votantes e abstenção, a votação, percentagem e deputados eleitos pelo vencedor das regionais, os mesmos indicadores no caso dos partidos da oposição parlamentar, a votação do CDS em separado - por ter sido aliado do PSD-Madeira em coligações - e finalmente os votos e percentagem de todos os partidos concorrentes às eleições mas que não elegeram deputados. Uma das conclusões é que no caso dos 4 actos eleitorais escolhidos para este quadro, os resultados do PSD-Madeira obtidos domingo passado apenas não superaram os de 2011. Curiosamente, apesar da diferença significativa das duas votações, os social-democratas entre 2011 - 25 deputados - e 2025 - 23 deputados - não alcançaram uma grande diferença de eleitos.
segunda-feira, março 24, 2025
Legislativas nacionais 2025: Sousa e Gomes para Lisboa. CDS coligado?
Não parecem existir dúvidas que Filipe Sousa, actual Presidente da Câmara de Santa Cruz e Francisco Gomes, eleito deputado do Chega pela Madeira nas últimas legislativas, devem voltar a encabeçar a candidatura do JPP e do Chega às legislativas nacionais. Admito, segundo me confidenciaram, que alguns sectores do JPP terão pensado na actual autarca de Santa Cruz, Elia Ascensão. Contudo a autarca admitiu domingo na RTP que apenas estará disponível para a edilidade santa-cruzense, sabendo eu que essa candidatura é apoiada por Filipe Sousa. Contudo, aliás tal como Élia reconheceu na televisão, existem outros interessados nessa candidatura, facto que pode levar o JPP a grandes movimentações internas, não estando sequer excluída uma sondagem em moldes que serão definidos, caso essa solução arriscada seja implementada.
Mantendo a votação de domingo a JPP elegerá um deputado para São Bento, algo que seria inédito, até porque se tratar de um deputado fora do universo dos chamados partidos nacionais tradicionais. Tal desfecho abriria uma nova frente política e parlamentar importante para o JPP e com visibilidade mediática, mas sei também que há sectores do PS regional, preocupados com a derrota de domingo, que querem jogar "tudo por tudo" numa candidatura política que não represente risco para o partido e sobretudo não mantenha o voto útil a favor da JPP quer funcionou nas regionais deste ano.
Há também quem no JPP defenda a necessidade de não se confundir eleições e que a JPP não tem a obrigação de repetir votações em actos eleitorais diferentes entre si, até na mobilização de eleitores E com alguma razão como podemos ver:
PS
- Legislativas 2024 - 29.723, 19,8%, 2 deputados
- Regionais 2024 - 28.981, 21,3
- Regionais 2023 - 28.844, 21,3%
- Legislativas 2022 - 40.004, 31,5%, 3 deputados
JPP
- Legislativas 2024 - 14.344, 9,6%
- Regionais 2024 - 22.958, 16,9%
- Regionais 2023 - 14.933, 11,0%
- Legislativas 2022 - 8.7721, 31,5%
CHEGA
- Legislativas 2024 - 26.296, 17,6%, 1 deputado
- Regionais 2024 - 12.541, 9,2%
- Regionais 2023 - 12.028, 8,9%
- Legislativas 2022 - 7.727, 6,1%
CDS em coligação?
Quanto ao PSD-Madeira os três actuais deputados estão garantidos mas pessoalmente não excluo que o CDS de Jose Manuel Rodrigues esteja disponível para fazer um acordo com o PSD regional e formalizar uma coligação que funcionou em 2024 e em 2022. Tudo indica que esse será um dos temas que Rodrigues e Albuquerque, hoje ou amanhã, terão ou poderão debater, dada a exiguidade de tempo par a preparar as legislativas nacionais de Maio (LFM)
Regionais 2025: Notas ao acaso
- O PAN foi afastado da Assembleia da Madeira tendo obtido menos 209 votos que em 2024 mas foi ultrapassado pelo PCP ultrapassou-o. O PAN derrotou-se a si próprio com aquela triste mania - desconfio que imposta pela fraquíssima liderança nacional em Lisboa - de "maria vai atrás das outras" e pelas declarações em relação a Albuquerque que me pareceram deslocadas e despropositadas, dado que nada de novo aconteceu desde que PAN e o PSD regionais se entenderam em 2023;
- A coligação de Raquel Coelho foi um fracasso porque obteve menos votos que o PTP sozinho em 2024. Faltou uma liderança clara a uma coligação de três pequenos partidos que nunca podia ser colocados num mesmo plano de igualdade eleitoral que o PTP. E Raquel Coelho, comparativamente a outros tempos pareceu-me claramente sem o gás desses idos...;
- O CDS perdeu 1 deputado e mais de 1.096 votos, perdeu o estatuto de grupo parlamentar pelo qual lutava - porque lhe daria outra capacidade de manobra e de iniciativa no parlamento - mas é essencial ao PSD para obter uma maioria absoluta estável para uma Legislatura de 4 anos. Não me repugna que José Manuel Rodrigues - mesmo penalizando a participação do CDS nos debates parlamentares - dado que com um deputado os centristas ficarão sem intervenção no hemiciclo - tenha percebido isso mas seja "obrigado" a um entendimento com o PSD-M em moldes que hoje ou amanhã ficará clarificado;
- O Chega perdeu 1 deputado e cerca de 4.720 votos e a IL desceu mais de 385 votos face a 2024. Não sei se o Chega foi penalizado pela moção de censura ao Governo Regional ou pela sucessão de casos graves que a nível nacional penalizam a imagem e a credibilidade do partido, particularmente os casos de pedofilia e os roubos das malas. Ou se a uma conjugação de ambas as situações ou mesmo se o partido já atingiu o seu pico eleitoral na Região. Sei que perdeu milhares de votos e um deputado face aos eleitos em 2024. Quanto à IL obteve uma tremenda "vitória" própria, pois com a saída de Nuno Morna e a ascensão do desconhecido - falo em termos eleitorais - novo líder, muitos vaticinavam uma IL fora da Assembleia, aliás as sondagens apontavam para essa possibilidade. Manteve o mesmo deputado que tinha, por isso conseguiu os propósitos embora admita que pretendesse ter elegido um grupo parlamentar que lhe daria maior visibilidade e intervenção;
- O JPP aumentou 8.136 votos entre 2024 e 2025 e o PS perdeu 6.626 votos na Madeira. Tenho a certeza que há uma partilha do mesmo eleitorado, por parte destes dois partidos, mas o JPP além de conseguir uma vitória - mesmo que venha a perder eleitores que "roubou" ao PS - a de passar a ser a segunda força regional, teve obviamente mérito próprio pelas características da oposição que desenvolve que também pode vir a ter um efeito eleitoral que o tempo pode esbater. Veremos. Facto é que PS e JPP perderam, juntos, 1 mandato face a 2024 e apenas subiram 510 votos que facilmente se encontrarão nas perdas de outros partidos à esquerda, nomeadamente o PAN que perdeu 209 votos;
- Assembleia da Madeira passou a ter apenas 6 partidos, PSD, JPP, PS, CHEGA, CDS e IL. Quem sabe se os partidos vão achar que provavelmente terá que ser feita alguma adaptação à lei eleitoral regional
- Claramente a subida eleitoral do JPP foi feita, para além do mérito próprio dos "verdinhos", à custa das perdas assinaláveis do PS que ficou privado de demasiados votos para quem diz ser, repetidamente, a..."alternativa" aos social-democratas. A tudo isto acresce um cenário inegável de voto útil que penalizou a coligação de Raquel Coelho e o PAN, entre outros partidos de menor expressão;
- O PSD-Madeira obteve mais cerca de 13 mil votos, comparativamente aos resultados de 2024 elegeu mais 4 deputados que no ano passado, só perdeu em 3 freguesias para o JPP, Santa Cruz, Gaula e Santo da Serra. Foi o mais votado em 10 dos 11 municípios regionais - perdeu em Santa Cruz para a JPP, tal como ocorreu em 2024. Alguma oposição regional já percebeu que isso aconteceu? Parece que não.
Legislativas nacionais 2025: Câmara, Cedras e Franco para Lisboa?
A primeira tarefa de Cafofo tem a ver com as eleições legislativas antecipadas para a Assembleia da República, a terem lugar em Maio próximo. Não sei como é que o líder socialista - que já recusou qualquer candidatura ao parlamento nacional - vai resolver o problema, na medida em que o PS-Madeira tem dois deputados - Miguel Iglésias e Sofia Canha, que substituiu Paulo Cafofo no lugar - mas estes resultados das regionais, ressalvando que se tratam de actos eleitorais diferentes, coloca muita coisa em dúvida.
Projecção para as nacionais...
Numa projecção - que vale o que vale porque recuso comparar eleições e resultados eleitorais diferentes - que fiz, apenas para curiosidade, os resultados das regionais, caso os partidos mantivessem nas legislativas nacionais as mesmas votações, algo que não acredito, o PSD elegeria 4 dos 6 deputados, contra 1 deputado do JPP e 1 deputado apenas do PS.
Neste contexto o PS dificilmente candidatará Miguel Iglésias ou Sofia Canhas como cabeça-de-lista às legislativas. Se a ideia é enfrentar a candidatura do JPP, que será liderada por Filipe Sousa, actual autarca de Santa Cruz - e não tenho dúvidas quanto a isso - e dado quer Carlos Pereira que foi "saneado" por Cafofo nas últimas eleições, não tem condições para ser o 1º da lista socialista, acredito que o antigo líder do PS, Emanuel Câmara, em final de mandato autárquico juntamente com Sara Cedras e eventualmente Ricardo Franco, autarca de Machico, até podiam ser uma solução, porque os socialistas vão precisar de uma lista politicamente forte (Iglésias e Sofia Canha estão demasiado colados a um fragilizado Cafofo que vai ter grandes dificuldades em gerir este processo depois da derrota de domingo). A grande aposta, se não tivéssemos autárquicas em Setembro, seria Miguel Gouveia que, depois, suspenderia o mandato para se candidatar oposição à CMF. Politicamente, e neste contexto, seria uma jogada arriscada e que os demais partidos usariam para mais umas estocadas nos socialistas.
Se, entretanto, Cafofo, pressionando como está a ser, resolver bater com a porta, apresentar a demissão e deixar de envolver-se na actividade partidária, quem pode assumir a coordenação desse processo e coimn que autoridade política? Essa dúvida existirá, na certeza de que Carlos Pereira, neste momento, está longe de constituir uma solução forte. Muito menos será uma solução se o grupo de Cafofo se se mantiver na liderança dos socialistas e a controlar o aparelho. Portanto estamos perante um processo com mais dúvidas que certezas. Uma coisa é certa. mesmo tratando-se de eleições diferentes a derrota de domingo obriga o PS-Madeira a uma mudança total de candidatos a Lisboa. Nas últimas legislativas nacionais o PSD elegeu 3 deputados, contra 2 do PS e 1 do Chega (LFM)
Regionais 2025: Paulo Cafofo devia agendar já directas e Congresso extraordoinário
Cafofo foi o grande derrotado da noite eleitoral, não há volta a dar apesar de ter anunciado que vai ficar na liderança do PS-Madeira até as autárquicas altura em que admitiu abrir um processo eleitoral interno com directas e Congresso. O problemas de Cafofo é que parece estar deslocado da realidade. Um político que sofre uma derrota com esta dimensão, que fez uma campanha marcada por promessas a pataco, que escolheu como alvo - ele que já foi arguido e até pode voltar a ser arguido se alguns processos saírem da gaveta da PGR onde estão desde 2021 - Albuquerque, alvo constante sobretudo pelo seu estatuto de arguido, que o próprio solicitou, que sabe que o Presidente do Governo não está acusado de nada, que sabe que não devemos julgar ninguém na praça pública, muito menos nas redes sociais, e muito menos por causa de questões pessoais melindrosas - aliás, Cafofo sabe disso... - cometeu ainda uma série de erros que começaram, em meu entender, com no impacto de uma lista de candidatos a deputados que ficou longe de reunir o adequado consenso interno. O real, não aquele que foi expresso nas salas de reuniões onde só existem unanimismos e aclamações de circunstância. Acresce que, para além de tudo isso, Cafofo ficou com um problema em mãos, bem complicado, já que a eleição de 8 deputados deixou alguns dinossauros do PS-M fora do parlamento e sem possibilidades de regressarem devido ao jogo das suspensões de mandatos que não me parecem plausíveis. Admito contudo que nalguns casos, em 2 deles, os eleitos venham a abandonar o parlamento por desilusão com a situação no PS-Madeira, e isso beneficiará os "afastados". Pessoalmente não creio que Paulo Cafofo tenha condições políticas para manter-se em funções como se nada se tivesse passado no passado domingo. Devia imediatamente reunir os órgãos competentes do PS-Madeira, obter a anuência deles para que seja ele a liderar o processo de elaboração da candidatura à Assembleia da República, mas agendado imediatamente as directas e o Congresso Regional extraordinário no final de Agosto ou início de Setembro, porque não em parece que um líder enfraquecido tenha a autoridade política e mesmo a legitimidade para decidir um processo com a complexidade das autárquicas. Mas essa é a minha opinião. O PS já nos habituou, desde 1976, a que nunca existem derrotas eleitorais regionais que sejam suficientemente dolorosas e expressivas ao ponto de provocarem a demissão dos lideres socialistas. Sei que não é fácil, que as decisões como esta são dolorosas, mas pior do que isso será entrar em negação ou deixar protelar a incerteza, fragilizando-se ainda mais. É apenas uma opinião pessoal que, por isso mesmo, vale o que vale. (LFM)
Regionais 2025: o "esquecimento" da esquerda...
O erro da esquerda, falo do PS, JPP e do PAN, foi "esquecerem" - o que é sempre fatal em eleições assentes num círculo eleitoral único - que entre eles há essencialmente uma disputa na área do eleitorado comum e que não tem grande expressão, salvo algumas excepções, a penetração destes partidos no eleitorado abstencionista e mesmo naquele que fielmente - como os resultados de 2025 e os mais de 13 mil votos alcançados pelo PSD-Madeira face a 2024 - vota nos social-democratas por opção. Acresce se alargarmos os efeitos do chamado voto útil - neste caso ao PCP, Bloco e a coligação de Raquel Coelho e mesmo o Livre - o impacto é residual mas no apuramento de mandatos pelo método de Hondt pode penalizar tanto o PS como o JPP. Ou beneficiá-los (como nas regionais de 2019 aconteceu com o PS), tudo depende da amplitude do voto útil conseguido em seu favor e das fatias que consegue no chamado eleitorado comum. Deixo isso para os especialistas e consumidores de literatura sobre esta temática!
Regionais 2025: a disputa eleitoral entre PS e JPP
A explicação para a derrota do PS e de Paulo Cafofo. Este quadro mostra a "disputa" entre PS e JPP nos diferentes concelhos bem como as oscilações eleitorais, em 2025, comparativamente aos resultados das regionais de 2024. Lembro que comparativamente a 2024, PS e JPP, juntos, obtiveram em 2025 apenas mais 510o votos e perderam 1 deputado
Regionais 2025: a "guerra" PSD-JPP em Santa Cruz, nas regionais
Qual a evolução eleitoral do JPP e do PSD e do outsider PS em Santa Cruz? Considerando as regionais de 2023 a 2025, e ressalvando, como é evidente, que as eleições têm naturezas diferentes, não sendo possível comparar actos eleitorais diferentes, constata-se que depois do PSD-Madeira ser o mais votado nas regionais de 2023 como mais 1.08 votos que a JPP que foi o 2º mais votado, em 2024 a JPP foi a vencedora com mais 1.563 votos que o PSD que passou a ser a 2ª força política do concelho, situação que se repetiu em 2025, mas agora com uma diferença de apenas 383 votos a favor da JPP. Por isso alguma cautela nas apreciações, ainda por cima sabendo-se a natureza da campanha da JPP relativamente a Miguel Albuquerque - falando todos os dias no Presidente do Governo e no seu estatuto, a seu pedido, de arguido que ainda nem declarações prestou perante a justiça - fomentando intoleráveis e desonestos cenários de julgamentos populares na praça pública desrespeitando a presunção da inocência. Aliás uma penalização do eleitorado, considerando as regionais de 2023 a 2025, que terá penalizado o JPP incapaz de travar a subida eleitoral do PSD-Madeira em Santa Cruz, mais 2.398 votos neste concelho contra uma subida de apenas 1.218 do JPP claramente quase semelhante aos 1.073 votos perdidos pelo PS. O quadro dispensa mais comentários.
Regionais 2025: o apuramento pelo método de Hondt
De acordo com o apuramento dos 47 mandatos regionais, por via da aplicação do método de Hondt, constatei que os partidos elegeram os seus representantes nas seguintes posições:
- PSD (23): 1º, 2º, 5º, 6º, 8º, 10º, 12º, 14º, 17º, 18º, 20º, 22º, 24º, 26º, 29º, 31º, 34º, 35º, 38º, 39º, 42º, 43º e 47º
- JPP (11): 3º, 7º, 11º, 15º, 19º, 23º, 27º, 32º, 36º, 41º e 45º
- PS (8): 4º, 9º, 16º 21º, 25º 33º, 37º e 44º
- CHEGA (3): 13º, 30º e 46º
-CDS (1): 28º
- IL (1): 40º
Regionais 2025: o mito da abstenção?
Estas regionais também deitaram abaixo o mito - ou mitos - alimentado em torno da abstenção, sobretudo quando os partidos tentam "justificar" resultados adversos com a teoria da abstenção. Sendo certo que se torna urgente actualizar os cadernos eleitorais - ressalvo que em próximas regionais as alterações aprovadas sobre a mobilidade eleitoral, que foram aprovadas pela Assembleia da República mas não entraram a tempo de ser aplicadas este ano, já estarão em vigor o que pode reduzir ainda mais a abstenção ou desmistificar também alguns mitos sobre esta matéria... - o facto de terem votado quase 56% dos eleitores, reduzindo a abstenção, comparativamente a 2023 e 2024 em 2,5% foi significativo. Sendo difícil analisar com rigor as oscilações eleitorais e particularmente as "viagens" de votos de A para B ou de B para C, etc (lembro que tenho tido a cautela de abordar a questão da importância do eleitorado flutuante que vota de forma diferente em cada acto eleitoral, porque não tem qualquer vínculo certo com nenhum dos partidos, o que explica os mais 13 mil votos obtidos pelo PSD-Madeira, e escolhe razões de fundo para o fazer, este ano acredito que foi um voto na estabilidade governativa e para uma Legislatura - é um facto que a análise ao fenómeno da abstenção na RAM não é tão fácil de abordar, contrariando o que alguns sustentam e tentam "vender".
Regionais 2025: os "mistérios" da lista do PS de Paulo Cafofo
O PS de Cafofo é um mistério. Eu conheço o Avelino Conceição há muitos anos, sei que teve muita importância na máquina socialista, hoje menos, sei que é uma figura de peso na pequena estrutura socialista de Machico, mas francamente, superar o autarca de Machico, Ricardo Franco, na lista de candidatos a estas regionais é algo que não lembra ao diabo, mesmo que eu saiba - e sei - que Avelino Conceição tem sido uma chave importante nas diatribes internas de Cafofo no PS e na obtenção de apoios das bases às suas decisões. E sei do que falo!
Recordo os deputados do PS eleitos:
- Paulo Alexandre Nascimento Cafôfo
- Marta Luísa de Freitas
- João Emanuel Silva Câmara
- Sílvia Cristina Sousa da Silva
- Gonçalo Cardoso Leite Velho
- Sancha de Carvalho e Campanella
- Avelino Perestrelo da Conceição
- Maria Isabel de Ponte Garcês
Pior do que isso é ver a lista dos que não foram eleitos pelo menos até ao 16º lugar - e desde já esclareço que não vejo muitos cenários de suspensão de mandatos que possam alterar esta realidade:
- Victor Sérgio Spínola de Freitas, 9º, Vice-Presidente da Assembleia e ex-lider do PS
- Ricardo Miguel Nunes Franco, 10º, Presidente da Câmara de Machico, os socialistas foram derrotados em Machico por quase 1.500 votos
- Maria Elisa Rosa de Albergaria Seixas, 11º, docente, mas sem grande peso político na estrutura socialista
- Jacinto Serrão de Freitas, 12º, ex-lider do PS-Madeira politicamente fragilizado dado que o PS foi derrotado em Câmara de Lobos e superado em cerca de 500 votos pelo JPP colmo 2ª força política local
- Rui Alberto Pereira Caetano, 13º, deputado, ex-lider parlamentar na Assembleia Regional
- Olga Maria de Ascenção Fernandes, 14ºa, actual deputada regional, Ribeira Brava, também sem grande peso político interno na estrutura socialista
- Luís Miguel da Paixão Brito, 15º, deputado do Porto Santo, tinha substituído Sergio Gonçalves, depois das últimas europeias. O PS perdeu no Porto Santo por mais de 700 votos!
- Carlos Manuel Pereira Coelho, 16º, deputado, com ligações à Ponta do Sol onde o PS perdeu por quase 2.000 votos, numa das que foram as mais copiosas derrotas eleitorais concelhias dos socialistas de Cafofo.
E não duvidem, até pela experiência que tenho de vários anos ligado à política activa. Esta situação vai criar problemas internos complexos e Cafofo não vai ser capaz de os gerir por estar altamente fragilizado e ter sido copiosamente derrotado. Aliás acho que politicamente Cafofo, se consegue ser "perdoado2" no processo eleitoral para a Assembleia da República, por falta de tempo para alternativas, dificilmente terá autoridade política para as regionais de Setembro, pelo que devia abrir imediatamente um processo eleitoral - pelo menos fixar calendário - que permitisse aos socialistas um Congresso Regional e directas em Setembro próximo. O PSD-M fez isso no primeiro trimestre de 2024...
Regionais 2025: A (des) solução parlamentar do JPP (PS e JPP tiveram menos 1 deputado e subiram 510 votos em 2025...)
O JPP, eufórico por ter passado a ostentar o estatuto de maior partido da oposição regional à custa do derrotado PS de Cafofo, entrou na note eleitoral numa deriva absolutamente absurdas, diria mesmo a roçar o patético, fazendo lembrar aquele "casamento" falhado e que nem chegou à noite de núpcias ... - entre PS e JPP depois das regionais de 2024 e num contexto político e parlamentar diferente, na medida em que o PS tinha sido a segunda força mais votada e liderava a oposição regional.
Comecemos por recordar a realidade parlamentar pós Março de 2025:
- PSD, 23 deputados (menos 1 que a maioria absoluta, tinha obtido 19 em 2024)
- JPP, 11 deputados (tinha 9 em 2024)
- PS, 8 deputados (tinha 11 em 2024)
- Chega, 3 deputados (tinha 4 em 2024)
- CDS, 1 deputado (tinha 2 em 2024, perdendo o estatuto de grupo parlamentar principal aposta dos centristas)
- IL, 1 deputado (manteve)
- PAN, sem deputados (tinha 12 eleito, mas foi claramente afectado pelo voto útil ou regressou ao seu verdadeiro estatuto eleitoral)
- PCP e Bloco, sem eleitos, o que coloca problemas políticos graves aos dois partidos, em termos de futuro, porque estamos a falar de futuro, de renovação de protagonistas, de mudança e adaptação do discurso aos novos tempos, de eventual desaparecimento de forças políticas sempre activas na rua, sobretudo o PCP, que depois não são compensadas por culpa própria, por instalarem entre o eleitorado a ideia de que votar neles é "desperdício" de votos. Foram claramente sacrificados pelo voto útil e pelas oscilações eleitorais verificadas à esquerda
A JPP, num momento de irracionalidade - parlamentarmente era uma salada russa numericamente possível - mas na qual ninguém acredita a começar pela própria JPP - admitiu que haveria uma solução governativa ao PSD. Ridículo! E qual seria? Uma absurda coligação da extrema-direita à esquerda, juntando no mesmo cesto IL Chega, CDS, JPP e PS, num total de 24 deputados corporizando deste modo uma patética alternativa que de estabilidade nada teria e, mais do que isso, traindo o voto expresso maioritariamente pelos cidadãos nas urnas.
Sinceramente acho que há momentos em que a racionalidade, a lógica, a seriedade e a factualidade devem superar tudo, mesmo o entusiasmo de uma noite eleitoral que no caso da JPP se "explica" apenas facto de ter beneficiado de oscilações do eleitorado à esquerda, penalizando o PS.
Por acaso esqueceram que dos 20 deputados que JPP e PS juntos, tinham em 2024 passaram para 19, menos um do que tinham, em Março de 2025? Mais. PS e JPP em 2025 totalizaram 52.449 votos, contra 51.939 votos em 2024. Estamos a falar de, juntos, mais 510 votos.
Regionais 2025: o fracasso da coligação de Raquel Coelho
A coligação liderada por Raquel Coelho - ou devia ter sido liderada, por ser ela com maior visibilidade e mais experiência - falhou porque se instituiu uma enorme confusão de visibilidades. Numa coligação há sempre uma figura que assume a liderança. Partilhar a visibilidade mediática com as lideranças dos partidos mais pequenos e eleitoralmente mais insignificantes acabou por ser errado e penalizou uma ideia que me pareceu positiva, que poderia pensar num deputado - os resultados depois inviabilizaram essa possibilidade por via do método de Hondt. Mesmo assim os partidos nem foram capazes de manter a sua votação obtida nas regionais de 2023 e 2024, perdendo votos. Ficou a ideia, ficou a tentativa de algo diferente reunindo os partidos mais pequenos, mas ficou também a sensação de aposta fracassada e de um falhanço estratégico e político da coligação, repito, em meu entender por falta de uma liderança devidamente identificada e inequívoca. O quadro ajuda a perceber. Faltaram mais de 1.500 votos para tentarem sonhar com a eleição de um deputado. Também é factual que a votação do PSD e do JPP, quando se tratou da aplicação do método de Hondt, acabou por penalizar os partidos mais pequenos, casos do PAN, PCP, Bloco, etc. Por isso é errado fazer declarações em que quase se critica e culpa os eleitores por se terem expressado livremente nas urnas e não terem correspondido ao que o PTP esperava. E não é preciso grande esforço: teve menos votos que o Livre e menos votos que o PTP sozinho em 2024! Nada mais a dizer