terça-feira, novembro 11, 2025

As mais estranhas coligações pós-eleições autárquicas

As eleições autárquicas já lá vão, mas as notícias continuam. Sobretudo com a formação dos executivos locais, nas Câmaras e nas Juntas. Com muitas surpresas. Como a demonstração de força de Luís Newton em Lisboa ou eleitos socialistas a votarem nos do Chega, na Moita. Quem pensa que os executivos autárquicos se constroem a partir dos resultados eleitorais está muito distraído. Em Lisboa, Setúbal ou Porto há exemplos de que há sempre espaço para algumas surpresas, ou mesmo bizarrias.Nas Avenidas Novas, em Lisboa, o processo nasceu torto e teimava em não se endireitar. O presidente da concelhia do PSD/Lisboa, Luís Newton, decidiu agir e pôr fim a uma série de equívocos, debates e pareceres que adiavam, semana após semana, a tomada de posse do executivo da Junta de Freguesia. O presidente da Junta, Daniel Gonçalves, não gostou: considera que Newton lhe impôs um nome, o de Jorge Barata, quando ainda andava às voltas com pareceres contraditórios, porque queria Henrique Torres no executivo.

O Nascer do SOL sabe que Daniel Gonçalves não é uma escolha de Luís Newton, mas uma indigitação de Carlos Moedas. Enfim, as teias que tece o poder autárquico. A história começa ainda no verão, quando o núcleo B – que agrega as freguesias das Avenidas Novas, Areeiro e Alvalade – se reuniu para propor listas, não ordenadas, à concelhia. Daniel Gonçalves não esteve presente, mas enviou uma lista que elaborou sozinho. A concelhia acabou por fazer uma lista mista, com nomes de uns e de outros, e Daniel Gonçalves como número um.

A lista foi a votos como parte integrante da coligação PPD/PSD-CDS-PP/IL, ‘Por ti, Lisboa’. Nas Avenidas Novas, o resultado foi de 53,13%, muito à frente da coligação PS-Livre-BE-PAN, que obteve 28,77%. O processo parecia encaminhado, mas a primeira proposta para o executivo da Junta de Freguesia, que incluía, além do presidente Daniel Gonçalves, quatro nomes do PSD (Emília Noronha, Hugo Sousa, Odília Vieira e Miguel Torres), um da Iniciativa Liberal (Nuno Miranda) e uma do CDS (Marina Ramos), sofreu um revés. Miguel Torres apresentou um documento a pedir para não fazer parte do executivo, o que caiu mal a Daniel Gonçalves. A posse acabou adiada.

Para substituir Miguel Torres surgiu o nome de Jorge Barata, mas o presidente da Junta considera que esse nome lhe foi imposto pela concelhia, por Luís Newton. Não gostou e afirma: «Esta presidência não pactuará com sombras». E também não gostou, ao longo da noite de segunda-feira, 3 de novembro, de perceber que os nomes que teoricamente lhe eram leais caíam para o lado de Newton. 

Na mesma noite de segunda-feira, 3 de novembro, no concelho da Moita, o PS entregou a presidência da Mesa da Assembleia da União das Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira ao Chega, a terceira força política mais votada. O PS obteve 30,23%, PCP-PEV 28,73% e Chega 26,48% nas eleições autárquicas de 12 de outubro, cada um dos partidos elegeu seis mandatos.

Na primeira votação, nenhuma das listas propostas saiu vencedora. A surpresa chegou com a segunda: a lista encabeçada pelo Chega foi eleita com nove votos. A proposta do PS teve zero, registaram-se três votos nulos, e tudo indica que alguns elementos socialistas não votaram na própria lista e terão apoiado a do partido liderado por André Ventura – o que deve cair muito mal a José Luís Carneiro. O executivo da Junta da União das Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira ficou entregue à CDU, com um total de 15 votos. Um dirigente local do PS falou em «trapalhada brutal» para descrever o sucedido.

Pedro Duarte, o eleito presidente da Câmara Municipal, na coligação PSD/CDS/IL, escolheu um vereador do PS para o executivo municipal. Para o pelouro da Cultura, Pedro Duarte foi buscar Jorge Sobrado, eleito pelo PS – ocupava o quarto lugar na lista liderada por Manuel Pizarro –, mas agora como vereador independente.

A decisão garantiu a Pedro Duarte a maioria no executivo municipal, que conta com sete vereadores da coligação contra seis da oposição, liderada por Pizarro. Jorge Sobrado tem experiência anterior no pelouro da Cultura, tendo sido vereador na Câmara de Viseu entre 2017 e 2021, e desempenhava até recentemente o cargo de vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). A escolha de Sobrado para a Cultura foi apresentada por Pedro Duarte como uma valorização da competência e da experiência acima das filiações partidárias. Seja como for, Sobrado aceitou o convite de Pedro Duarte para assumir o pelouro da Cultura como vereador independente (Sol, texto da jornalista Ana Maria Simões)

Sem comentários: