Uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa para a RTP mostra que a maioria dos portugueses (79 por cento) considera que nem tudo correu bem no processo de descolonização após o 25 de Abril. No entanto, este inquérito, que para além de ter sido feito em Portugal foi também realizado em Angola e em Cabo Verde, mostra que a esmagadora maioria da população nos três países considera que Portugal fez bem em reconhecer a independência das ex-colónias. Cinquenta e um anos após o 25 de Abril e numa altura em que se assinalam os 50 anos desde a independência de várias ex-colónias portuguesas em África, a RTP divulga ao longo desta semana os resultados de três sondagens da Universidade Católica Portuguesa. Os três inquéritos foram feitos em território português, mas também em Angola e Cabo Verde e versam os temas da independência e descolonização.
Uma das principais conclusões é a forma como os portugueses olham para o processo de descolonização: à pergunta sobre se tudo correu bem, uma vasta maioria (79%) responde “não”. Apenas 13% considera que correu tudo bem. Na hora de atribuir responsabilidades, grande parte dos inquiridos (38%) culpa o regime anterior ao 25 de Abril, enquanto 20% aponta aos negociadores portugueses daquela época.
Quanto à
integração dos retornados em Portugal nos anos após a descolonização, a maioria
dos inquiridos (39%) diz que correu “bem” ou “muito bem”. Mas há 30% a
considerar que esse processo correu “mal” ou “muito mal” e ainda 28% que afirma
não ter corrido “nem bem nem mal).
Independência
vista de forma positiva pelos três países
Questionados sobre
se Portugal fez bem em reconhecer a independência das ex-colónias em 1975. A
esmagadora maioria dos inquiridos nos três países respondeu que Portugal fez
bem: 86% em Portugal, 81% em Angola e 91% em Cabo Verde.
Mas a descolonização e os processos de independência são percepcionados nos três países de com algumas disparidades. Em Portugal, há uma clara divisão em três grupos distintos: 36% dos inquiridos considera que a descolonização foi “boa” ou “muito boa”, mas um total de 26% considera que a descolonização foi “má” ou “muito má”. Cerca de um terço (32%) diz que foi “nem boa nem má”.
Para a população angolana inquirida, há 76% a afirmar que a independência de Angola foi “boa” ou “muito boa”. Apenas 11% por cento tem uma visão negativa e outros 16% afirmam que esta foi “nem boa nem má” para o país. Os inquiridos cabo-verdianos veem de forma ainda mais favorável o processo: 88% afirma que a independência como país foi “muito boa” ou “boa” e somente 4% olham de forma negativa para estes acontecimentos. As sondagens procuraram ainda apurar com mais pormenor a forma como os três países percepcionam o pós-descolonização e independência nos aspetos económico, político e cultural.
Os portugueses
consideram que a descolonização foi mais positiva do que negativa para o país a
nível político (54%) e a nível cultural (54%). Quanto à economia, o resultado é
bastante mais renhido: 46% por cento considera que a descolonização foi “mais negativa
do que positiva”. Outros 44% dizem que foi “mais positiva do que negativa”.A
experiência política pós-independência foi bastante díspar nas duas ex-colónias
inquiridas nestas sondagens: em Cabo Verde, o processo decorreu de forma
pacífica e foi visto até como exemplar. Em Angola, o período pós-descolonização
viria a ser marcada por uma violenta guerra civil que se estendeu até 2002.
Para os angolanos
inquiridos, o aspeto cultural foi o que mais beneficiou da descolonização (64%
considera que foi “mais positiva do que negativa”), seguido do aspeto económico
(56% olha de forma favorável para as mudanças económicas desde o período colonial).
Já a nível político, os resultados mostram uma divisão: 45% vê como negativas
as mudanças políticas, a mesma percentagem vê de forma positiva.
Em Cabo Verde, a
grande maioria os inquiridos vê de forma positiva o que ocorreu no país desde a
independência nos três aspetos que foram tema nesta sondagem: 87% vê vantagens
ao nível cultural, 63% considera positivas as mudanças económicas e 61% aponta
como positivas as mudanças políticas.
Questionados
acerca do posicionamento que teriam se o processo de independência e
descolonização ocorresse hoje, 57% dos inquiridos em Portugal garante que teria
apoiado a independência das colónias no decorrer da guerra colonial. Outros 28%
assumem que teriam ficado ao lado do Governo português à época.
Em Portugal, a amostra desta sondagem conta com 29% de inquiridos com mais de 65 anos, 50% tem entre os 35 e os 64 anos e 21% tem entre 18 e 34 anos. Dos inquiridos, há 40% a referir que teve ou tem familiares a residir nas ex-colónias, enquanto 58% não tem laços familiares com estes países. A esmagadora maioria dos inquiridos (85%) nunca residiu numa das ex-colónias africanas. Em Angola, uma maioria alargada de inquiridos (80%) adianta que teria apoiado os movimentos de libertação se tivesse tido essa possibilidade. Em Cabo Verde, um resultado semelhante: 81 por cento teria apoiado os movimentos de libertação. Quanto a este último país, foi ainda questionado se a solução da independência foi mais benéfica do que ficar como território autónomo sob administração portuguesa. A esmagadora maioria dos cabo-verdianos inquiridos (84%) dá preferência à independência.
Ficha Técnica –
Portugal:
Este inquérito foi
realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão
Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa
entre os dias 21 de maio e 13 de junho de 2025. O universo alvo é composto
pelos cidadãos portugueses, com 18 ou mais anos de idade, residentes em
Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista
de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as
entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados
do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1104
inquéritos válidos, sendo 43% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica:
31% da região Norte, 23% do Centro, 32% da A.M. de Lisboa, 6% do Alentejo, 5%
do Algarve, 2% da Madeira e 1% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram
depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões
etários e região com base nos dados do INE. A taxa de resposta foi de 21%*. A
margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1104 inquiridos é de
2,9%, com um nível de confiança de 95% (Foram contactadas 5175 pessoas. De
entre estas, 1104 aceitaram participar na sondagem e responderam até ao fim do
questionário)
Ficha Técnica -
Angola:
Este inquérito foi
realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão
Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa
entre os dias 21 e 31 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos
cidadãos angolanos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Angola. Os
inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de
telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram
efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do
estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1199 inquéritos
válidos, sendo 52% dos inquiridos mulheres. A margem de erro máximo associado a
uma amostra aleatória de 1199 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança
de 95%.
Ficha Técnica:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 29 de maio e 23 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos cabo-verdianos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Cabo Verde. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente, na rua, em várias ilhas de Cabo Verde (maioritariamente Santiago e São Vicente). Todas as entrevistas foram realizadas presencialmente (cara-a-cara). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 810 inquéritos válidos, sendo 49% dos inquiridos mulheres. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e ilha com base nos dados do INE Cabo Verde. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 810 inquiridos é de 3,4%, com um nível de confiança de 95% (RTP, texto da jornalista Andreia Martins)
Sem comentários:
Enviar um comentário