Li no Expresso: “A foto chocou: um
militar francês no Mali com cara de caveira. Erik Thorsten, com uma folha de
serviço exemplar, foi expulso, assaltou uma farmácia e acabou preso. Leia na edição de janeiro, já nas bancas. A
farmacêutica começou por julgar que era uma partida. À sua frente estava um
tipo de olho claro, com sotaque do Leste, que costumava aviar receitas de
tranquilizantes neste estabelecimento do centro de Orange (Vaucluse). Agora
estava alucinado e segurava uma espingarda de assalto Kalachnikov, como se
fosse uma bengala incómoda. A farmacêutica não se desconcertou quando o cliente
reclamou 30 caixas de Valium, repetindo "quero dormir... quero
dormir". Pôs-lhe a mão no ombro e disse-lhe: "A ameaça parece-me
descabida..." e levou-o calmamente à porta. Nunca lhe passou pela cabeça
que o pobre diabo, sujo, com um boné enfiado na cabeça, "nem sequer
agressivo", tivesse sido da Legião Estrangeira.
Preso 45 minutos depois
Bastou uma consulta ao seu computador para a
farmacêutica encontrar o rasto do seu estranho cliente. Três quartos de hora
depois, a polícia entrou num pequeno apartamento, perto do quartel.
Encontram-no "deitado de braços cruzados", registam os inspetores,
"a tresandar a álcool" e incapaz de acordar. Às 21 horas, quando a
advogada de serviço, Anne Grima, o visitou na cela para o primeiro
interrogatório, continuava esgazeado, "como um fantasma". A polícia
já trouxera a sua identificação da Legião, mais uma fotografia que, em janeiro,
dera a volta ao mundo: um legionário francês em missão no Mali, com a cara
tapada por um lenço de caveira. Uma imagem saída diretamente do jogo de vídeo
"Call of Duty", no qual este disfarce é usado por um personagem de
nome Ghost, o fantasma. À data da sua
publicação, fez furor e causou embaraços ao Exército francês, lançado numa
ofensiva contra grupos armados islamitas no Mali. Perante o Tribunal de
Carpentras, que o julga pelo episódio da farmácia, contará o resto muito
simplesmente: "A fotografia foi publicada em França e fui convocado pelo
meu superior hierárquico, que me perguntou se era eu. Respondi que sim.
Informou-me que tinha dado um granel dos antigos em França e que, no regresso,
eu seria punido".
O desertor
Foi castigado com faxinas e 20 dias de detenção. Até
então, não era proibido usar lenços de caveira na Legião, apesar de o
equipamento regulamentar incluir um turbante. Foram as repercussões mediáticas
da fotografia a fazerem o caso mudar de figura. Incidente esquecido? Não pelo
jovem, que começa a beber e experimenta misturas de medicamentos. Em abril
aluga um andar na cidade, a dois passos do quartel, com um camarada legionário.
Em maio deserta uma primeira vez, o que lhe vale mais 20 dias de detenção.
Deserta uma segunda vez, em junho. A 27 de agosto é expulso da Legião
Estrangeira”