sexta-feira, outubro 11, 2013

Se a ideia é fechar não há outros caminhos mais fáceis e rápidos?



A minha opinião é a de que aos olhos da opinião pública parece que no PSD-M andam a brincar com o fogo, diria mesmo com coisas sérias, demasiado sérias, para que as bases social-democratas e os eleitores do PSD sejam obrigados a ter que as aturar. É maia do que evidente que o PSD-M precisa de entender que os tempos mudaram, que 40 anos é muito tempo, provavelmente demasiado tempo para que possamos assistir impávidos a qualquer forma de cristalização – fatal na política - e que o PSD-M precisa de renovar-se (um problema que não diz respeito apenas ao PSD-M mas sim a todos os partidos, regionais ou nacionais, embora as vitórias eleitorais ajudem a disfarçar essa realidade e adiem para data posterior o assumir desta necessidade), precisar de abrir-se a novos quadros, a jovens dotados de novas ideias, de nova dinâmica, de uma nova visão da sociedade e da política, numa confluência geracional sempre importante, salutar e complementar, etc.
Mas isso nunca acontecerá se essa pretendida renovação esbarrar no medo de que as mudanças venham a operar-se, nem os quadros que porventura se identifiquem com o PSD aceitarão envolver-se na vida política e partidária se tiverem a sensação inibidora e desmotivadora de que estão perante um partido armadilhado, temeroso, que parece recear as mudanças que inevitavelmente se fará.
É muito importante perceber que as regionais de 2011 foram um primeiro aviso, que porventura ao PSD-M foram deixaram algumas dicas que não podem ser descartadas, e que as autárquicas deste ano foram as primeiras eleições realizadas na Madeira, depois do programa de ajustamento regional que trouxe, para além de medidas de redução da despesa pública de âmbito regional, uma nova realidade social, económica e orçamental que tem sido a causa de muita insatisfação perceptível e à vista de todos.
É importante que não escondam a verdade de quem de direito.
O pior que se pode fazer é convidar seja quem for a ver um filme da branca de neve e dos sete anões quando vamos todos num barco colhido por uma pesada tempestade que precisamos vencer, coordenadamente, em vez de nos dissiparmos com egoísmos idiotas ou perdermos tempo a ver filmes animados. O barco, ante a tempestade agreste e violenta, precisa de ser levado a bom porto e em última instância os seus tripulantes lutam pelas suas próprias vidas, pela sobrevivência coletiva.
Obviamente que há uma influência decisiva negativa da política nacional. Humanamente quem votaria no PSD, que é o partido líder do governo de coligação nacional, depois de dez dias a ouvirmos falar de um pesadelo de um alegado segundo resgate – uma tremenda farsa e um embuste mentiroso fabricado pela propaganda tonta e ressabiada que Passos Coelho tem ao seu serviço? Quem votaria no PSD depois de ouvir, dia-sim, dia-sim, discursos que indiciavam mais patifarias e mais roubalheira em carteira? Quem votaria no PSD sabendo que os bandalhos tinham escondidas medidas de austeridade agravada, com mais cortes de salários, com cortes de pensões e cortes na chamada despesa pública, tudo ao mesmo tempo para que esta corja de bandalhos agrade e possa submissamente lamber as botas nojentas dos credores, desses crápulas que manipulam e estão a destruir a Europa? Quem é que votaria no PSD quando olha para este governo de coligação e não vê mais do que uma corja de medíocres, que não sabem falar com as pessoas, que não explicam a gravidade da situação, que não desvendam, as medidas, que não mobilizam os cidadãos, só porque gostam de se colocar de traseiro para o ar perante a troika mesmo que isso seja feito à custa do povo, do seu empobrecimento, da fome e da privação criminosa e bandalha?
Neste contexto e com uma situação regional que não é famosa, e todos sabemos que não é – 25 mil desempregados numa terra destas é um drama com uma gravidade que supera tudo o que se possa imaginar e que também tem efeitos eleitorais – com dívidas do sector público, que não explicam tudo nem são a causa de muitas falências, mas que precisariam ser pagas de uma forma mais célere, conforme me referiram, até para se garantir a solvência de empresas, a que se junta uma necessidade urgente de olharmos para os problemas sociais que nos afetam, para a gravidade de muitos dramas humanos que existem na nossa sociedade, muitos deles ao nosso lado, apesar de mantidos escondidos por vergonha, quando devíamos ser todos tolerantes uns com os outros nestes momentos de privação, os problemas dos jovens muitos deles licenciados, que continuam sem emprego – e muito sinceramente não vejo como é que a Madeira neste momento pode dar as respostas necessárias – estas são realidades incontornáveis.
Não sou adepto da caça às bruxas, pelo contrário. Todos temos o nosso estilo, mais ou menos contundente, podemos de quando em vez ser agressivos na emissão de opinião e na defesa de ideias e ideais, mas isso não tem nada a ver com essa regra sagrada de saber ouvir, de respeitar quem pensa diferente de nós, de conviver com os nossos adversários políticos num quadro de tolerância e de respeito. Na política não existem inimigos, tal como não há a perfeição em lado nenhum. Somos todos humanos, com os nossos defeitos e virtudes. Hoje vencem uns, amanhã vencerão certamente outros. É a vida.
Temo que tudo continue na mesma quando estamos a seis meses de eleições europeias que, pela evolução da situação, julgo que poderão constituir um descalabro eleitoral ainda maior descalabro e que delas resulte muita coisa que na sequência destas autárquicas não aconteceu por razões que não vou esmiuçar. As eleições europeias, num país de contestação, perigosamente frustrado com mais austeridade, socialmente amargurado e revoltado e desejoso de queimar vivo no poste este governo de coligação, podem ditar o fim e a tomada de medidas políticas pressionadas pela rua, pelos cidadãos. A fúria popular pode vir a aumentar, infelizmente, porque isso significa que nos afundamos cada vez mais.
Ainda por cima falamos de eleições que na área da direita hiper conservadora e falsamente apresentada com tiques liberais – quando na realidade estamos perante um bando de medíocres impreparados, incompetentes, políticos de gestação tardia, pateticamente armados em “salvadores da pátria” e onde não faltam visões proto-fascistas, quer nas primeiras linhas, mas quer sobretudo nas tecnocráticas segundas linhas – assentarão numa lista nacional única, de coligação PSD-CDS – a coligação em relação à qual o PSD-M manteve e certamente quer manter um distanciamento político efetivo que não sei como será gerido em Maio de 2014.
Por tudo isto, a tranquilidade e a coesão, respeitando as diferenças de opinião entre militantes, sejam eles das bases, de estruturas intermédias ou da cúpula dirigente, são fatores determinantes, a que se junta o pragmatismo e a verdade. Sobretudo na apreciação dos factos, valorizando o que tem que ser valorizado, em vez de divagarmos e não termos a coragem, enquanto partido maioritário, de olhar para o que se passou com sabedoria, inteligência e uma capacidade intrínseca de dar a volta. Retificando erros cometidos, recusando a repetição de precipitações, as cedências a influências locais que se revelaram altamente perniciosas e penosas, etc.
Suspeito, pelos factos mais recentes, que pode haver quem queira seguir em direção oposta. Pior do que isso, quem ache piada que andem a brincar com coisas, repito, demasiado sérias. Se a ideia é destruir, então não seria melhor fechar portas de vez e chamar uma imobiliária qualquer para vender pelo melhor preço?!
Repito, isto nada tem a ver com o respeito que temos que ter pelas pessoas, sobretudo os meus correligionários de partido, independentemente de concordar ou não com eles, de aceitar que tenham naturalmente a legitimidade de aspirarem a uma carreira política, de terem as suas ambições políticas, particularmente quanto ao exercício de funções de acrescida responsabilidade partidária. As pessoas, as bases, depois, no momento próprio, farão as suas escolhas, sem manipulações, sem condicionalismos, sem pressões, sem nada. Escolhendo com liberdade e em liberdade. Como sempre o fizeram.