A minha opinião é a de que aos olhos da
opinião pública parece que no PSD-M andam a brincar com o fogo, diria mesmo com
coisas sérias, demasiado sérias, para que as bases social-democratas e os
eleitores do PSD sejam obrigados a ter que as aturar. É maia do que evidente
que o PSD-M precisa de entender que os tempos mudaram, que 40 anos é muito
tempo, provavelmente demasiado tempo para que possamos assistir impávidos a
qualquer forma de cristalização – fatal na política - e que o PSD-M precisa de
renovar-se (um problema que não diz respeito apenas ao PSD-M mas sim a todos os
partidos, regionais ou nacionais, embora as vitórias eleitorais ajudem a
disfarçar essa realidade e adiem para data posterior o assumir desta
necessidade), precisar de abrir-se a novos quadros, a jovens dotados de novas
ideias, de nova dinâmica, de uma nova visão da sociedade e da política, numa
confluência geracional sempre importante, salutar e complementar, etc.
Mas isso nunca acontecerá se essa pretendida renovação
esbarrar no medo de que as mudanças venham a operar-se, nem os quadros que
porventura se identifiquem com o PSD aceitarão envolver-se na vida política e partidária
se tiverem a sensação inibidora e desmotivadora de que estão perante um partido
armadilhado, temeroso, que parece recear as mudanças que inevitavelmente se
fará.
É muito importante perceber que as regionais
de 2011 foram um primeiro aviso, que porventura ao PSD-M foram deixaram algumas
dicas que não podem ser descartadas, e que as autárquicas deste ano foram as
primeiras eleições realizadas na Madeira, depois do programa de ajustamento
regional que trouxe, para além de medidas de redução da despesa pública de
âmbito regional, uma nova realidade social, económica e orçamental que tem sido
a causa de muita insatisfação perceptível e à vista de todos.
É importante que não escondam a verdade de
quem de direito.
O pior que se pode fazer é convidar seja quem
for a ver um filme da branca de neve e dos sete anões quando vamos todos num
barco colhido por uma pesada tempestade que precisamos vencer, coordenadamente,
em vez de nos dissiparmos com egoísmos idiotas ou perdermos tempo a ver filmes animados.
O barco, ante a tempestade agreste e violenta, precisa de ser levado a bom
porto e em última instância os seus tripulantes lutam pelas suas próprias
vidas, pela sobrevivência coletiva.
Obviamente que há uma influência decisiva negativa
da política nacional. Humanamente quem votaria no PSD, que é o partido líder do
governo de coligação nacional, depois de dez dias a ouvirmos falar de um
pesadelo de um alegado segundo resgate – uma tremenda farsa e um embuste mentiroso
fabricado pela propaganda tonta e ressabiada que Passos Coelho tem ao seu serviço?
Quem votaria no PSD depois de ouvir, dia-sim, dia-sim, discursos que indiciavam
mais patifarias e mais roubalheira em carteira? Quem votaria no PSD sabendo que
os bandalhos tinham escondidas medidas de austeridade agravada, com mais cortes
de salários, com cortes de pensões e cortes na chamada despesa pública, tudo ao
mesmo tempo para que esta corja de bandalhos agrade e possa submissamente
lamber as botas nojentas dos credores, desses crápulas que manipulam e estão a
destruir a Europa? Quem é que votaria no PSD quando olha para este governo de coligação
e não vê mais do que uma corja de medíocres, que não sabem falar com as
pessoas, que não explicam a gravidade da situação, que não desvendam, as
medidas, que não mobilizam os cidadãos, só porque gostam de se colocar de traseiro
para o ar perante a troika mesmo que isso seja feito à custa do povo, do seu empobrecimento,
da fome e da privação criminosa e bandalha?
Neste contexto e com uma situação regional que
não é famosa, e todos sabemos que não é – 25 mil desempregados numa terra destas
é um drama com uma gravidade que supera tudo o que se possa imaginar e que
também tem efeitos eleitorais – com dívidas do sector público, que não explicam
tudo nem são a causa de muitas falências, mas que precisariam ser pagas de uma
forma mais célere, conforme me referiram, até para se garantir a solvência de empresas,
a que se junta uma necessidade urgente de olharmos para os problemas sociais
que nos afetam, para a gravidade de muitos dramas humanos que existem na nossa
sociedade, muitos deles ao nosso lado, apesar de mantidos escondidos por vergonha,
quando devíamos ser todos tolerantes uns com os outros nestes momentos de privação,
os problemas dos jovens muitos deles licenciados, que continuam sem emprego – e
muito sinceramente não vejo como é que a Madeira neste momento pode dar as
respostas necessárias – estas são realidades incontornáveis.
Não sou adepto da caça às bruxas, pelo contrário.
Todos temos o nosso estilo, mais ou menos contundente, podemos de quando em vez
ser agressivos na emissão de opinião e na defesa de ideias e ideais, mas isso
não tem nada a ver com essa regra sagrada de saber ouvir, de respeitar quem
pensa diferente de nós, de conviver com os nossos adversários políticos num
quadro de tolerância e de respeito. Na política não existem inimigos, tal como não
há a perfeição em lado nenhum. Somos todos humanos, com os nossos defeitos e virtudes.
Hoje vencem uns, amanhã vencerão certamente outros. É a vida.
Temo que tudo continue na mesma quando
estamos a seis meses de eleições europeias que, pela evolução da situação, julgo
que poderão constituir um descalabro eleitoral ainda maior descalabro e que
delas resulte muita coisa que na sequência destas autárquicas não aconteceu por
razões que não vou esmiuçar. As eleições europeias, num país de contestação, perigosamente
frustrado com mais austeridade, socialmente amargurado e revoltado e desejoso
de queimar vivo no poste este governo de coligação, podem ditar o fim e a
tomada de medidas políticas pressionadas pela rua, pelos cidadãos. A fúria
popular pode vir a aumentar, infelizmente, porque isso significa que nos afundamos
cada vez mais.
Ainda por cima falamos de eleições que na
área da direita hiper conservadora e falsamente apresentada com tiques liberais
– quando na realidade estamos perante um bando de medíocres impreparados, incompetentes,
políticos de gestação tardia, pateticamente armados em “salvadores da pátria” e
onde não faltam visões proto-fascistas, quer nas primeiras linhas, mas quer sobretudo
nas tecnocráticas segundas linhas – assentarão numa lista nacional única, de
coligação PSD-CDS – a coligação em relação à qual o PSD-M manteve e certamente quer
manter um distanciamento político efetivo que não sei como será gerido em Maio
de 2014.
Por tudo isto, a tranquilidade e a coesão, respeitando
as diferenças de opinião entre militantes, sejam eles das bases, de estruturas intermédias
ou da cúpula dirigente, são fatores determinantes, a que se junta o pragmatismo
e a verdade. Sobretudo na apreciação dos factos, valorizando o que tem que ser
valorizado, em vez de divagarmos e não termos a coragem, enquanto partido
maioritário, de olhar para o que se passou com sabedoria, inteligência e uma capacidade
intrínseca de dar a volta. Retificando erros cometidos, recusando a repetição
de precipitações, as cedências a influências locais que se revelaram altamente
perniciosas e penosas, etc.
Suspeito, pelos factos mais recentes, que pode
haver quem queira seguir em direção oposta. Pior do que isso, quem ache piada que
andem a brincar com coisas, repito, demasiado sérias. Se a ideia é destruir,
então não seria melhor fechar portas de vez e chamar uma imobiliária qualquer
para vender pelo melhor preço?!
Repito, isto nada tem a ver com o respeito que
temos que ter pelas pessoas, sobretudo os meus correligionários de partido, independentemente
de concordar ou não com eles, de aceitar que tenham naturalmente a legitimidade
de aspirarem a uma carreira política, de terem as suas ambições políticas, particularmente
quanto ao exercício de funções de acrescida responsabilidade partidária. As
pessoas, as bases, depois, no momento próprio, farão as suas escolhas, sem
manipulações, sem condicionalismos, sem pressões, sem nada. Escolhendo com
liberdade e em liberdade. Como sempre o fizeram.