quinta-feira, outubro 24, 2013

Gastos do Estado com salários caem para níveis bem abaixo da média da União Europeia




Escreve o jornalista do Jornal I, Filipe Paiva Cardoso que “a estratégia de nivelamento salarial por baixo permite que governo evite reformas estruturais. Salário líquido de 510? passa a 497? Os cortes transitórios nos salários públicos vão atirar a despesa com pessoal do Estado para níveis bem abaixo dos praticados na União Europeia. Se este ano, fruto da redução de 600 milhões de 2012 para 2013, os gastos do Estado com os seus trabalhadores já ficaram ligeiramente abaixo da média europeia, com os cortes cegos do próximo ano a diferença aprofunda-se ainda mais: se a norma europeia é dedicar 10,7% do PIB às despesas com pessoal, Portugal, no próximo ano, vai dedicar apenas 9,5%. Os cortes salariais na função pública impostos pelo governo para 2014 começam logo a partir dos 600 euros brutos, com um corte de 2,5%. Isto traduzido em termos práticos implica que um trabalhador do Estado ou de empresas públicas que ganhe 620 euros brutos, cerca de 510 euros líquidos, vai receber um salário bruto de 605 euros a partir de Janeiro, o que lhe dará 497 euros líquidos ao final de cada mês, menos 13 euros - nestes cálculos não foram considerados os duodécimos, já que estes deturpam o salário mensal real. Segundo a proposta do Orçamento do Estado para 2014, anteontem apresentada, o governo PSD/CDS prevê gastar 15,7 mil milhões de euros em pessoal no próximo ano, valor que compara com os 17,5 mil milhões previstos durante este ano. Considerando a subida do PIB prevista pelo executivo para o próximo ano - de 0,8%, o que elevará o produto da economia nacional para 166,7 mil milhões de euros -, o total das despesas com trabalhadores em 2014 ficará com um peso de 9,5% face ao PIB. Um valor que compara com os 10,6% deste ano - 17,5 mil milhões em despesas com pessoal para um PIB de 165,4 mil milhões de euros.
Se olharmos para a norma europeia, constatamos que, tal como já ocorre no sector privado, agora chegou a hora de os funcionários públicos deixarem de receber conforme os padrões europeus. Na Europa a 27, a média das despesas com pessoal é de 10,7% do PIB, valor que na zona euro desce ligeiramente, para 10,5%. Considerando os 27 individualmente, o peso das despesas com pessoal em relação ao PIB em Portugal baixará da 15.a posição de 2013 para a 20.a em 2014 - Eslováquia, Alemanha, República Checa, Luxemburgo, Roménia, Bulgária ou Letónia serão os países que continuarão com um rácio inferior ao português. "As iniciativas propostas pelo governo têm como princípio global a equidade entre os trabalhadores do sector público e os do sector privado", refere o executivo no relatório que acompanha o OE. Considerando que esta equidade passa por cortes até 12% nos salários, o caminho da igualdade de PSD/CDS é o nivelamento por baixo. A estratégia de esmagar os rendimentos pagos em Portugal está a ocorrer independentemente de o país já em 2010 ter os salários bem abaixo dos padrões europeus: um estudo da Adecco publicado em Maio deste ano mostrou que ainda antes da chegada da troika o salário bruto mensal em Portugal era de 1078 euros, um valor que compara com a média de 1936 euros mensais brutos na União Europeia - ou seja, na Europa ganhava-se em média mais 80%”