quinta-feira, setembro 05, 2013

Alemães e ingleses pioram juros do País à boleia da crise política

Li no DN de Lisboa que os “alemães e ingleses foram os que mais desinvestiram em dívida pública portuguesa, agravando as taxas de juro da República, à medida que a crise política fermentava em Portugal, nos meses de maio e junho, para atingir o seu ponto mais agudo no mês seguinte, com as demissões de Vítor Gaspar e Paulo Portas, na altura, número dois e três do Governo, respetivamente. Os números que foram ontem desvendados pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública ( IGCP), na nova apresentação para investidores estrangeiros ( setembro de 2013), mostram que, só em maio, o Reino Unido vendeu, em termos líquidos ( já descontando as compras), mais de mil milhões de euros em títulos, valor que se situou em cerca de 800 milhões no mês seguinte. Em junho, a fúria vendedora seria reforçada pelos investidores alemães, que desfizeram- se de 450 milhões de euros em obrigações e bilhetes do Tesouro. A Alemanha foi o segundo país que mais penalizou as taxas de juro portuguesas, nesse mês. Em meados de maio, os juros rondavam os 5,3%; em junho chegaram aos 7%. Os norteamericanos também contribuíram para a subida. A puxar em sentido contrário estiveram os investidores nacionais, essencialmente bancos e fundos domiciliados no país, que, em termos líquidos, compraram ( emprestaram) perto de 250 milhões de euros em dívida soberana em maio e cerca de 800 milhões no mês seguinte. Nas alturas de maior aperto e instabilidade, são tradicionalmente os operadores de mercado nacionais que sustentam a dívida do Estado. Os bancos, por exemplo, continuam a precisar desses títulos nos seus balanços para terem acesso aos programas do Banco Central Europeu. Em contrapartida, a dívida portuguesa é bastante apetecível pois dá taxas de rendibilidade bastante elevadas em todos os prazos, quando comparada com os casos mais próximos, como os de Irlanda ou Espanha. Assim, desde janeiro que os fluxos líquidos dos investidores portugueses são consecutivamente positivos, mês após mês. Na última emissão sindicada de obrigações do Tesouro a 11 anos, de 7 de maio deste ano, apesar de os estrangeiros terem dominado o leilão, os investidores portugueses já ficaram com 14% do total emitido, o dobro face à primeira emissão sindicada deste ano ( uma obrigação a cinco anos lançada ainda no mês de janeiro). No entanto, ilustra o IGCP na apresentação, o interesse dos operadores nacionais não é suficiente para contrariar o declínio global nos fluxos dos investidores “não domésticos”. Em junho, o afastamento destes atingiu o pior nível desde maio de 2012, quando o País se encontrava numa crise orçamental profunda. Vários operadores de mercado ouvidos pelo Dinheiro Vivo apontam, essencialmente dois fatores que ajudam a explicar esta fuga à dívida portuguesa: a noção de que o BCE poderá tentar acompanhar a Reserva Federal americana na descontinuação dos instrumentos de alívio monetário ( dinheiro barato para os bancos), mas também o crescendo da crise política que marcou maio e junho e rebentou com estrondo em julho. A envolver tudo isto, está o facto de a economia continuar totalmente apática e de os níveis de dívida parecem incomportáveis aos olhos desses investidores. A maioria não vê no país capacidade para sair da crise, passando a crescer 2%, 3% ou 4% ao ano em termos reais. Aliás, foi o próprio Presidente da República, a 25 de abril, que nomeou o problema latente: “Portugal não está em condições de juntar uma grave crise política à crise económica e social em que está mergulhado.” Em maio, o atualmente vice- primeiro- ministro, Paulo Portas, diria acerca da taxa especial sobre as pensões anunciada por Passos Coelho: “O primeiro- ministro sabe e creio ter compreendido. Esta é a fronteira que não posso deixar passar.” Em junho, seria publicado o resultado da sétima avaliação da troika, com diagnósticos muito críticos, sobretudo do lado do FMI. O clima de tensão, escrutinado diariamente pelos investidores, teria o seu auge em julho com o anúncio da saída “irrevogável” de Portas do Governo”.