quarta-feira, abril 24, 2013

Desemprego duplica em dez anos nos Açores e deixa centenas de famílias à beira da miséria...

Segundo o Correio dos Açores, "o desemprego duplicou nos Açores em dez anos. E, no mesmo período, sextiplicou o número de ‘ocupados’ em serviços públicos, - a maioria esmagadora em sequência à perda de emprego e quintuplicou o número de trabalhadores ‘indisponíveis’. Em contrapartida, ao longo destes anos, a disponibilização de novos empregos tem sido diminuta e surgem, na maioria dos casos, na agricultura, único sector onde a economia está a crescer na Região. Com a perda de emprego, para uma situação de subsídio de desemprego, para um rendimento de trabalhador ‘ocupado’ ou de rendimento de inserção social, a economia familiar era, em média, muito mais saudável há dez anos que na actualidade. A classe média perdeu drasticamente o seu poder de compra e as classes mais desfavorecidas da sociedade açoriana entraram em ruptura. Há, numa primeira linha, a solidariedade na família. Existem casais que suportam outros onde há um irmão, um pai ou filho que perdeu o emprego. Juntam-se nas casas uns dos outros numa entreajuda na alimentação para que o pouco dinheiro que exista se destine a pagar dívidas. E a prestação que está na linha da frente é a da casa. Quando esta falha é porque eventuais créditos pessoais já não estão a ser pagos há algum tempo.
Nestas famílias, a questão nem foi estarem a viver acima das suas posses. O planeamento familiar que as levou à contracção de determinados créditos foi, simplesmente, desfeito pelo desemprego, sobretudo quando um e outro são despedidos em períodos de tempo curtos. Embora a alimentação não lhes falte, vivem no sufoco de – a qualquer momento – o banco entrar judicialmente com um processo e ficarem sem a habitação e, caso não a tenham, perdem os móveis para pagar créditos pessoais. Em situações de casa arrendada, há rendas que ficam para o mês seguinte à espera que as condições melhorem.
Neste enquadramento, tem especial significado a resolução, apresentada pelo PSD/Açores e aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa Regional a pedir a intervenção do executivo açoriano junto da banca para, nesta fase, fazer um compasso de espera antes de levar a tribunal, para cobrança coerciva, o pagamento das prestações das casas, situação que leva, quase sempre, à devolução da habitação à instituição de crédito. Um protocolo entre o Governo dos Açores e os bancos, num clima de compreensão e entendimento, pode evitar na Região uma séria de tragédias familiares anunciadas.
Mas os maiores dramas estão a viver-se nas famílias onde a solidariedade intrafamiliar não é possível, sobretudo porque estão todos em dificuldade. São estas famílias que estão a socorrer-se dos movimentos cívicos que disponibilizam sopas e outros alimentos em determinados dias da semana. Ganha, neste contexto, singular importância a disponibilidade de alimentos a estas famílias ao fim-de-semana, período em que o estado de carência das crianças é maior por não terem as cantinas das escolas.
O drama em números
Em Março deste ano havia 12.782 desempregados inscritos nos centros de emprego dos Açores, 11.472 à procura de novo emprego e 1.310 à procura do primeiro emprego.  No primeiro trimestre deste ano (de Janeiro a Março), surgiram mais 222 desempregados inscritos nos centros de emprego dos Açores e mais 352 desempregados inscritos na rubrica de trabalhadores ‘ocupados’. Havia no final de Março deste ano 17.036 pedidos de emprego, mais 631 do que em Janeiro deste ano. Além do número de desempregados, propriamente ditos e dos ‘ocupados’, haviam 378 trabalhadores indisponíveis e foram empregados 717 trabalhadores. Havia em Março 40 ofertas de emprego, enquanto em Janeiro havia 38 ofertas de emprego. Entre Março do ano passado e Março deste ano surgiram na Região mais 1.747 desempregados e mais 1.913 trabalhadores ‘ocupados’. Este drama do desemprego nos Açores é mais evidente a dez anos. De Março de 2003 para Março deste ano o número de desempregados inscritos nos centros de emprego mais que duplicou na Região passando de 5.072 para 12.784, uma média de crescimento de 771 desempregados por ano. E se encurtarmos o número de anos, verificamos que foi nos últimos anos que ocorreu uma maior densidade de desempregados. Ao longo de dez anos, o número de trabalhadores ‘ocupados’ passou de 463 em Março de 2003 para 3.159 em Março deste ano, cerca de sete vezes mais e um aumento percentual de 582%. E o número de trabalhadores ‘indisponíveis’ passou de 151 em Março de 2003 para 717 em Março deste ano, praticamente cinco vezes mais. Para perceber o impacto destes números é bom ter em consideração que a diferença salarial é pouca entre um trabalhador a receber pelo fundo de desemprego e um trabalhador ‘ocupado’ ou mesmo um trabalhador ‘indisponível’, cuja família, certamente, receberá Rendimento de Inserção Social para garantir o rendimento mínimo que impossibilite a entrada num estrato social de miséria total"