Escreve o Dinheiro Vivo que "os contribuintes portugueses serão, de longe, os mais sacrificados da zona euro (e da União Europeia) com o aumento de impostos diretos aprovado pela maioria PSD/CDS, diz a Comissão Europeia. Apesar da subida "enorme" do IRS e de outras formas de tributação, os resultados orçamentais esperados para 2013 serão pouco palpáveis: segundo Bruxelas, o défice só cairá de 5% do produto interno bruto (PIB) em 2012 para 4,9% este ano. A dívida pública que gera continuará a aumentar até final de 2014. Nas previsões de inverno, ontem divulgadas, a Comissão confirma a leitura mais recente (de janeiro) do Banco de Portugal: a recessão terá o dobro da violência, com o PIB a cair 1,9% e não 1% como afirmou o governo até quarta-feira passada. A principal causa que tem sido apontada dentro de portas para este descalabro tem sido o enfraquecimento da procura externa, isto é, a perda de vigor das exportações. Durante a manhã, durante algumas horas, a Comissão Europeia ainda publicou no seu site previsões para 2015, que apontavam para o regresso da recessão nesse ano, com a economia a cair outra vez 3% depois de um fugaz regresso à superfície (crescimento de 0,8% em 2014). Os números de 2015 foram entretanto retirados e o exercício de projeção termina em 2014 em Portugal e restantes países da União Europeia. Em todo o caso, Bruxelas confirmou que há problemas no motor da economia (exportações só devem avançar 1,4% este ano contra 3,6% defendidos pelo governo), mas demonstrou que as dificuldades vão muito além do sector externo. Num quadro macroeconómico repleto de prognósticos reservados - "riscos para perspetivas macroeconómicas claramente desviados para baixo" - Bruxelas confirma a visão do banco central de que o investimento, a variável mais decisiva para a criação de emprego, vai cair 8% este ano, depois dos 14,9% de 2012. Pedro Passos Coelho manteve a sua versão: "A correção foi imposta pelo contexto europeu" e não por fatores internos. O primeiro-ministro destacou ainda o facto de haver "crescimento positivo" em 2014. "É importante." Mas, como seria de esperar, o mercado de trabalho, já de si totalmente bloqueado, sofre o impacto direto da fuga do Estado e, sobretudo, dos empresários em relação aos novos projetos e ao prolongamento dos investimentos existentes: o emprego cai 2,7%, o desemprego baterá novo máximo de sempre, atingindo 17,3% da população ativa (uma média de 932,6 mil pessoas em 2013). Em 2014, este fenómeno alivia pouco, para 16,8%. Nas contas públicas, a área que ditará mais ou menos austeridade sobre a economia e portanto o agravamento ou não da atual recessão prolongada, o quadro é pouco favorável: o défice, que deveria cair para 4,5%, será afinal de 4,9% devido a "receitas mais fracas em resultado do desempenho mais desfavorável do consumo e mercado de trabalho". Não é por falta de esforço do ministro das Finanças que assim acontece. Os dados da Comissão Europeia mostram, por exemplo, que apesar de os impostos indiretos caírem 1,4% este ano e refletirem, assim, a crise das famílias (desemprego, compressão salarial), Portugal surge na UE a 27 países como o governo que mais sacrificará os seus contribuintes nos impostos diretos sobre os rendimentos de salários, pensões e património. A receita com esta tributação deve subir 17,8% este ano, para 18,2 mil milhões de euros de coleta, acompanhado de perto pela Roménia (mais 17,4% quando a média da zona euro ronda os 3,2%). No ano seguinte, não há alívio: a receita sobe mais 1,3%. Do lado da despesa, a Comissão elogia as "medidas que incluem reduções substanciais na folha salarial, nos consumos intermédios e nas transferências sociais". O agravamento da crise já tornou evidente, no interior do governo, que é complicado reduzir mais o défice e travar a dívida sem destruir ainda mais o tecido produtivo e o emprego. Por isso, surgiram nos últimos dias sinais de que Portugal vai tentar "flexibilizar" as metas acordadas já na sétima avaliação da troika, que começa na próxima segunda-feira, pedindo mais tempo. "Será razoável conjeturar que a Comissão poderá recomendar ao Ecofin o alargamento do prazo de ajustamento até 2015", disse Manuel Rodrigues, secretário de Estado das Finanças. Olli Rehn, comissário europeu da Economia, e Benoît Couré, membro da comissão executiva do BCE, que ontem esteve em Portugal, coincidiram nos comentários aos desejos de Portugal: "Ainda é muito cedo" para falar nisso"