O que se passou com o processo de privatização da RTP (falo do grupo RTP/RDP), com contradições, "casos", ingerências políticas, tentativa de destruição da empresa no âmbito de uma alegada desvalorização da sua imagem pública, continua a ser um mistério. De um lado o ministro Relvas apostado em "despachar" a RTP alegado que a empresa custa muito ao coitado do Estado que não se importa de pagar milhares de milhões com a recapitalização da banca - que está farta de encher a pança com milionários lucros à custa da dívida pública portuguesa - e com as PPP e outros negócios, como o das rendas da energia. E quanto custa ao Estado e aos contribuintes essas PPPs bem como a enigmática recapitalização dos bancos, tudo isto pago com dinheiro emprestado pela troika e que será pago por todos os contribuintes (capital e juros)? O que é que os contribuintes beneficiaram com essa recapitalização? O que é que os contribuintes têm a ver com as PPPs que custam mais de 40 mil milhões aos cofres do Estado?
Mas o mistério deste processo tem a ver com a descoberta tardia de Relvas, feita apenas quando a suposta privatização da RTP falhou, com o enigmático plano de reestruturação que mais não é que um exemplo mais pequeno do pretendido corte das despesas do Estado. Ou seja, aqui não se traata de cortar 4 mil milhões de euros. O que está em causa na RTP, segundo o próprio Relvas, é a redução do seu quadro de funcionários para que a empresa passe a viver a partir de 2014 apenas com as receitas que seja capaz de gerar. Ou seja, no actual contexto de crise económica, com as receitas publicitárias em queda livre, e onde a comunicação social se limita a lutar pela sobrevivência e pela preservação dos postos de trabalho, outros iluminados de pacotilha brincam com coisas demasiado sérias, até numa perspectiva humana, propagandeando a ideia de que a partir do próximo ano o OE deixa de transferir qualquer verba para a RTP. Ou seja, os males do país estão na RTP. Sem a RTP resolve-.se os problemas do Estado! O que se passa é que, falhada a privatização, assistimos a uma significa "vingança servida a frio", aliás bem ao estilo deste governo de coligação. Em vez da paulada que todos viam e gerava repulsa e revolta, usa outros procedimentos mais "discretos".
E nem falo no estado de espírito, na ansiedade que toda esta trapalhada gera junto dos trabalhadores da empresa que ficam obviamente desmotivados quando não sabem qual será o seu futuro daqui a dois ou três meses. Falar em despedimento com a leviandade como tem sido feito é asqueroso. Brincar com a vida das pessoas é criminoso e bandalho
Estranho é o fato de Relvas ter descoberto que a empresa (RTP) está sobre dimensionada e precisa de despedir funcionários e reduzir custos depois de ter falhado a privatização. Afinal, porque razão quando foi lançada a privatização e consultado o mercado esses problemas não se colocaram? Porque é que só agora Relvas se preocupa com isso?
Mais, porque falhou afinal a privatização da RTP? Quem eram os interessados que, segundo o consultor Borges, tinham "categoria" e "prestígio"? Porque não dizem aos portugueses quem estava interessado na RTP, se é que alguma vez houve alguém realmente interessado? Terão sido estabelecidos compromissos com potenciais investidores futuros? Estará a RTP a servir de moeda de troca (ou de chantagem e pressão?) contra as televisões privadas?
E que dizer da absurda recomendação da maioria PSD/CDS na Assembleia da República que no quadro da sua desorientação e falta de categoria, resolve "recomendar" que a RTP reponha um programa sobre agricultura e pescas? Mas isso não é competência das estruturas da RTP responsáveis pela área de informação? Ou será que desejam que a Direcção de Informação da RTP passe para o parlamento? E porquê um programa sobre a agricultura e as pescas e não a saúde, a segurança social, o trabalho, o emprego, a educação, etc?
Tenham juízo, deixem a RTP da mão, respeitem os seus trabalhadores e resolvam os problemas, esses sim, reais e sérios que afectam os portugueses (LFM)