sábado, fevereiro 02, 2013

Expliquem isso à dupla Coelho-Gaspar: "Cortar no subsídio de desemprego não incita a procurar trabalho"

Li no Dinheiro Vivo que "cortar no prazo e no valor do subsídio de desemprego não estimula a procura de emprego. Quem o diz é Raymond Torres, diretor do Centro de Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que se socorre de casos reais que comprovam a sua convicção. Preocupado com o ritmo de destruição de emprego e a fraca capacidade das economias em criar novos postos de trabalho, Raymond Torres defende a suavização dos prazos para a redução do défice, de forma a que possam ser canalizados recursos financeiros para a criação de emprego.
"A lógica de que cortar no tempo e no valor do subsídio de desemprego incita as pessoas a procurar trabalho não tem correspondência com a realidade", precisou ao Dinheiro Vivo o especialista da OIT, que passou por Lisboa para participar num seminário promovido pela representação portuguesa da organização. Raymond Torres aponta o caso real da Dinamarca, onde este apoio aos desempregados tem a duração máxima da 4 anos, e afirma que não há evidência de que este prolongamento incite as pessoas a ficar em casa ou a recusar empregos. Até porque, sublinha "um subsídio de 450, 500 ou de 600 euros já é um incentivo suficientemente bom para que o desempregado tente encontrar um trabalho". Cortar ainda mais em valores e nos prazos apenas "produz mais pobreza". Raymond Torres acentua, contudo, que para haver dinamização no reingresso ao mercado de trabalho é fundamental a ligação entre o desempregado e um orientador (ou gestor de carreira) do Centro de Emprego. Mas esta apenas é eficiente se o rácio rondar uma centena de desempregados por gestor. "Neste momento, em muitos países da Europa do Sul há um orientador por cada 400 desempregados. É impossível que funcione", refere. Há cerca de um ano, o governo dava conta da decisão em criar cerca de 1100 gestores de carreira, número que faz que aquele rácio seja por cá ligeiramente mais elevado.
PME têm de ter crédito
Numa altura em que o mundo se prepara para atingir, pela primeira vez, um número de desempregados superior a 200 milhões, Raymond Torres observa que este recorde mostra que as políticas económicas e sociais tem descurado o problema do emprego. "Da parte dos responsáveis políticos há esta tomada de consciência de que a situação está mal, mas agora há que passar à ação", salienta. E o que pode ser feito? As soluções são várias. "No futuro é importante que do ponto de vista orçamental haja uma mudança de rumo e de ritmo" na redução dos desequilíbrios. Ou seja, vários países tinham uma efetiva necessidade de reduzir os seus défices públicos, mas, para aqueles que já obtiveram resultados, deve "agora equacionar-se um abrandamento no ritmo do ajustamento orçamental", de forma a que possam ser usados dispositivos e recursos que são positivos para a criação de emprego e que têm ainda um efeito benéfico no crescimento económico. A nível europeu - onde a destruição de emprego tem sido particularmente agressiva - poderiam reorientar-se fundos estruturais para, por exemplo, garantir a entrada no mercado de trabalho aos jovens.
Mas há mais. Para Raymond Torres, outra das soluções passa pela manutenção ou mesmo reforço de políticas ativas de emprego. São elas, precisa, que têm permitido a muitas empresas manterem o nível de emprego. Se assim não fosse, a taxa de desemprego na Europa estaria em valores bem mais elevados. Mas ainda que admita, nesta conjuntura de crise, cortes salariais temporários como forma de manter os postos de trabalho, é totalmente contra cortes generalizados. Igualmente essencial é o reforço da união bancária no espaço europeu, para que o crédito comece a chegar às pequenas e médias empresas. "É triste dizê-lo, mas, na verdade, descurou-se este tipo de políticas. Há PME em condições de produzir e exportar mais, mas que não o fazem porque não conseguem crédito", adianta o diretor. Este levantamento de obstáculos tem de ser acompanhado pela "criação de um sistema de garantias".