quinta-feira, novembro 22, 2012

Opinião: "FUTURO"

"O percurso dos partidos faz-se não apenas com a sua história, mas também se alicerça na coerência, na eficácia e no pragmatismo do seu comportamento, propostas e decisões. Numa conjuntura de tremenda crise económica e social, de nada serve aos partidos meterem a cabeça na areia ou limitarem-se a cultivar o saudosismo como se existisse apenas passado e não futuro. O passado é uma página que se abriu no momento próprio e que se fechou quando chegou a altura. Falar no passado é falar de desafios, uns ganhos, outros perdidos, de oportunidades enfrentadas ou desaproveitadas. Mas nada disso resolve os problemas que temos hoje pela frente. Os partidos, os políticos em geral, todos nós, temos que estar concentrados no presente, mas essencialmente temos que saber encontrar as respostas para o futuro. As pessoas estão desiludidas, estão desconfiadas, estão descrentes e praticamente deixaram de sonhar. Deixaram de ter esperança, deixaram de ter objetivos, sobrevivem. Já não sabem o que lhes vai acontecer no dia seguinte. Os jovens não têm emprego, os pobres estão cada vez mais pobres e a exclusão social multiplica-se. A economia está estagnada, sem possibilidades de ser (re) dinamizada, salvo se a austeridade for travada a tempo, antes que o rasto de destruição seja irreversível e maior. O investimento público deixou de ser a mola alavancadora da economia. O desemprego transformou-se num pesadelo inimaginável. E 2013 não será um ano melhor, pelo contrário, os dramas vão multiplicar-se. As pessoas, naturalmente, deixaram de acreditar na política e nos partidos.
Chegamos a uma época em que nos interrogamos para que serve o PSD andar a apontar o dedo a Sócrates se ele se limitou a acelerar, pela sua incompetente e por via de uma governação socialista corrupta, o que já era uma irreversibilidade: a nossa queda no abismo da falência e da austeridade imposta pelos credores estrangeiros? E antes de Sócrates o que fizeram todos os outros?! De que nos serve andarmos a lembrar às pessoas as imposições do memorando de entendimento negociado por Sócrates (Maio de 2011), se este governo de coligação, mentiroso e ladrão, em conluio com a "troika", alterou aquele documento ao longo das seis revisões do programa de ajustamento financeiro já realizadas? Aliás, tal como o confirma a sua prática governativa cega e deliberadamente apostada no empobrecimento do país, no aumento dos impostos, nos cortes de salários, na perseguição de pessoas e de empresas, no decretar dia-sim dia-não de mais taxas e de mais impostos, no facilitar dos despedimentos, no convite aos jovens para que emigrem (!), etc. Um governo de coligação sem legitimidade (submete-se a eleições para dissiparmos as dúvidas!) e que, não satisfeito, quer cortar ainda mais nas responsabilidades financeiras do estado no âmbito do chamado "estado social" para que o Estado poupe pelo menos 4 a 5,5 mil milhões de euros.
É neste quadro de incerteza, de crise, de dificuldade que se realiza este fim-de-semana o Congresso do PSD-Madeira, numa altura em que a região está sob um programa de ajustamento financeiro que colocou muito do poder de decisão em matéria financeira numa espécie de partilha com Lisboa. Os mais de 23 mil desempregados precisam de resposta e são esses, entre outros itens da governação, o principal desafio que se coloca a quem exerce a governação na Região.
De pouco servirá ao Congresso alimentar a polémica sobre as "diretas" ou a discutir propostas que, sendo legítimas no quadro do debate democrático e livre que o PSD da Madeira tem que salvaguardar, não obtiveram o apoio da maioria dos militantes que votaram. Os militantes em condições de votar, votaram de acordo com a sua consciência e com a mesma liberdade que reclamamos sempre que se realizam eleições. Respeitemos os resultados, respeitemos a liberdade de decisão e de escolha.
A legitimidade de quem vence com um voto de diferença é a mesma de quem vence com 1000 votos. Podemos perorar, divagar, mas não mais do que isso. Em França, esta semana, Jean-François Copé foi proclamado presidente do partido de direita UMP sucedendo ao ex-presidente Nicolas Sarkozy. Estamos a falar de um partido com uma dimensão à escala nacional e que até há pouco tempo era poder naquele país. Copé alcançou uma vitória apertada, de apenas 98 votos, sobre seu adversário, o ex-primeiro-ministro François Fillon. Não tem legitimidade por causa disso? O que os madeirenses estarão à espera - aqueles que ainda se dignam seguir estas reuniões políticas cada vez mais isoladas face à opinião pública - é de respostas concretas, da clarificação de objetivos para a governação, da reavaliação da situação e da enumeração de prioridades e de rumos.
As pessoas querem saber como vamos dar a volta a esta situação difícil e que respostas vamos dar-lhes, por exemplo, no desemprego que é o nosso flagelo e desafio principal, na falta de recursos financeiros e na estagnação da economia. Querem saber que saídas temos em matéria de finanças regionais e em vésperas de uma nova revisão da respetiva lei que temo não seja feita para dar mais aos insulares. Em linha com o que tem acontecido no plano nacional, com tudo o que tem sido alterado por este governo de coligação, desconfio que a revisão das leis de finanças regionais e locais será uma oportunidade para que o Estado diminua as suas responsabilidades perante a Madeira, os Açores e as autarquias. Tudo o mais são encenações, diatribes e puzzles que valem o que valem, num contexto de volatilidade extrema, no qual não exclua uma crise política nacional antecipada já antes das eleições autárquicas em Outubro do próximo ano. O povo vai revoltar-se e temo pela dimensão e consequências dessa revolta. Não adormeçam sob a treta dos brandos costumes
O combate eleitoral interno no PSD da Madeira acabou. O tempo é de pensar no que nos espera e no que podemos fazer e que nada tem a ver com qualquer soneca à sombra de saudosismos que não resolvem coisa nenhuma ou a reclamar méritos que, tendo existido, hoje pouco ou nada têm a ver com a dimensão e a complexidade dos desafios que urge vencer. Não tenhamos ilusões: enfrentamos demasiada hostilidade política externa, que não nos ajuda. Se a nossa opção for a de irmos por outro caminho sem saída e sem rumo, de andarmos a discutir o “sexo dos anjos” e insistirmos na radicalização de posições internas, de preferirmos alimentar a discussão interna sem sentido e sem lógica, de semearmos a desconfiança ou a perseguição ou de incentivarmos qualquer "caça às bruxas", isso significa que inevitavelmente nos afundaremos. Será uma questão de tempo.
O futuro do PSD da Madeira, não tenhamos ilusões, depende do êxito da governação até final desta Legislatura e da forma como encontrarmos soluções para os problemas. Caso contrário, podemos correr riscos políticos e eleitorais que têm muito a ver com a mudança geracional acelerada que se regista a todos os níveis da sociedade, consubstanciada na ascensão de uma geração de madeirenses e de portugueses em geral, muito bem preparados, com acesso à informação, para quem as novas tecnologias são instrumentos de uso e de trabalho diário, e cujas prioridades e exigências pouco ou nada têm a ver com as gerações anteriores. A vida é isso, um manancial de novas realidades, que não podem ser escamoteadas e desvalorizadas.
Quando hoje se convocam gigantescas manifestações de contestação ao poder, via Facebook, que mobilizam 1,5 milhões de portugueses de todos os quadrantes partidários, sem que os partidos ou os sindicatos tivessem alguma coisa a ver com esse processo, isso significa que a política, se dúvidas pudessem existir, mudou muito. E vai continuar a mudar num movimento irreversível
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Domingo teremos as eleições gerais na Catalunha, deliberadamente provocadas pelo presidente do governo, Artur Mas. Depois de uma campanha radicalizada, com acusações mútuas e com o separatismo independentista a perder algum terreno, segundo as sondagens, podemos ser confrontados com resultados que podem derrubam qualquer estratégia mais ousada de uma das regiões mais rica de Espanha, simultaneamente uma das mais endividadas e que foi ameaçada, em plena campanha, de expulsão da União Europeia caso os propósitos de independência de Mas se concretizassem! Aguardemos os resultados" (JM)