"Uma das maiores mudanças que pode acontecer na vida de alguém: o nascimento de um filho. O primeiro episódio da série documental procura perceber por que nascem em Portugal cada vez menos crianças e cada vez mais tarde. Passaram 16 horas desde o momento em que os meus pais entraram no hospital. São 23h36 e o meu choro avisa que já nasci. Num instante, a vida deles começa a mudar para sempre. Muito mais do que Andreia e Nelson, para mim, hoje nasceram também como mãe e pai. Eles são um jovem casal de cerca de 30 anos a viverem na zona de Lisboa. E refletem as mudanças que aconteceram no nosso país no campo da natalidade. Em primeiro lugar foram pais bem mais tarde do que acontecia há 20 anos. “Porquê só agora?! Foi quando deu”, perguntam e respondem com um sorriso.
CADA VEZ MENOS… CADA VEZ MAIS TARDE
A verdade é que entre 1992 e 2012 a natalidade foi um dos indicadores sociais que mais se alterou. Decresceu de 11,5‰ em 1992 para 9,5‰ em 2010. Nos últimos 20 anos o número de nascimentos não parou de diminuir – à exceção do ano 2000 onde se regista um pico de 11,7‰ (segundo dados da PORDATA). Os portugueses têm filhos cada vez mais tarde. Em 1992 uma mulher tinha o primeiro filho aos 25 anos (em média).
20 anos depois a maternidade é adiada para lá dos 29 anos. A minha mãe teve o primeiro filho – eu mesmo, um bocadinho mais tarde, aos 33 anos. O prolongamento dos estudos, a entrada tardia no mercado de trabalho e consequente adiamento de uma estabilidade financeira estão entre as causas apontadas para o adiamento da parentalidade. Entre estes, o motivo económico é muitas vezes apontado como uma das principais razões para a diminuição do número de nascimentos. Mas os meus pais dizem que não foi por isso que só agora nasci.,Garantem até que estão a ser pais na altura certa. E que esta foi uma forma de contrariarem o momento que o país vive. Bem diferente da estabilidade dos anos 90. A minha mãe é arquiteta a recibos verdes e não tem um emprego estável. O meu pai é programador informático com contrato há cerca de 8 anos. Representam centenas de jovens casais em que pelo menos um dos membros vive na precariedade laboral.
Com a redução dos apoios à natalidade e com a depressão económica sempre a pairar, a pergunta impõe-se: Será Portugal um bom país para se nascer?A verdade é que ainda agora cheguei e já herdei uma dívida de quase 19 mil euros! Isto é, a dívida direta do Estado português per capita é cinco vezes maior do que há 20 anos. Vivem-se tempos bem diferentes daqueles vividos pelos meus pais e sobretudo pelos meus avós. Ainda assim eles decidiram atirar para trás "a insegurança do «como vai ser?», do ficar à espera das «condições ideais» que tarde ou nunca chegariam”. Se ficassem à espera dessas “condições ideais”, dizem, se calhar eu nunca teria nascido. Ah! Chamo-me Duarte!
Jornalistas: Cândida Pinto e João Nuno Assunção
Diretor de Fotografia: Jorge Pelicano
Edição de imagem: Marco Carrasqueira
Produção:João Nuno Assunção e Jorge Pelicano
Assistente de Produção: Inês Rueff
Grafismo: Alexandre Ferrada
Colorista: José Dias
Pós-produção áudio: Edgar Keats
Coordenação: Cândida Pinto
Diretor de Informação: Alcides Vieira"(SIC)
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