Segundo o DN de Lisboa, "o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusa o Estado de ter viciado estes profissionais em horas extraordinárias, que atingiram valores "inadmissíveis", e acredita que a solução passa pela tão esperada grelha salarial. "Não é admissível que, numa massa salarial de 700 milhões de euros, existam 300 milhões de euros e 90 milhões de euros para empresas [de prestação de serviços], fora do trabalho regular dos médicos", disse à agência Lusa Jorge Roque da Cunha, na sua primeira entrevista como secretário-geral do SIM. Para este dirigente sindical, "o Estado - ao ter viciado os profissionais em horas extraordinárias - escamoteou a degradação dos ordenados dos próprios médicos". A esta situação alia-se outra: "A falta de pessoal". Para Jorge Roque da Cunha, o Estado tem preferido "alimentar alguma ilusão", optando por recorrer a empresas de prestação de serviços, gastando com estas valores "que podia usar mais racionalmente". É "a administração a enganar-se a ela própria", disse, adiantando que "não faz qualquer sentido que o país gaste 300 milhões de euros ano em horas extraordinárias". O secretário-geral do SIM sublinha, contudo, que "os médicos não fazem horas extraordinárias porque querem", mas sim porque "as instituições necessitam e são estas que fazem esses pagamentos". Neste trabalho, e com estes horários, "há muitos médicos que põem em risco a sua capacidade de repouso" e até "a sua sanidade mental". Jorge Roque da Cunha considera que "compete ao Estado não criar condições para ser mais aliciante fazer uma urgência do que estar um mês a fazer consultas e cirurgias programadas, com formação" e lembra que um médico no topo de carreira ganha aquilo que noutras profissões se atinge ao fim de seis anos. Para este dirigente sindical, a solução está nas mãos da tutela e é a esta que compete a apresentação de "uma grelha salarial que organize o tempo de trabalho, deixando de ser necessário tantas horas extraordinárias". A proposta ainda não foi apresentada desde que a negociação coletiva foi reatada, em dezembro do ano passado, o que evitou uma greve às horas extraordinárias que esteve marcada para o mês seguinte. Para já, o SIM não vai faltar às reuniões quinzenais com a tutela, mas espera que esta apresente uma proposta de grelha salarial, sem a qual promete ir à luta, através de medidas que considera prematuro enumerar. Em relação ao pagamento das horas extraordinárias, cuja diminuição do valor motivou a marcação de uma greve, Jorge Roque da Cunha acusou algumas administrações hospitalares de desrespeitarem uma orientação superior. Em causa está uma ordem da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) -- com valores por hora extraordinária mais próximos dos que os sindicato reclamava -- e que "não está a ser cumprida pelos seus subordinados". "Isso acontece porque, de alguma maneira, a secretaria de Estado [da Saúde] não tem tido capacidade de fazer cumprir o que manda", disse. Para Jorge Roque da Cunha, a situação "não ajuda", principalmente "num momento em que o Ministério da Saúde precisa desesperadamente desse trabalho médico para assegurar as urgências". A prosseguir esta situação, deverão aumentar "os médicos que manifestarão a sua intenção de recusa em fazer além das 200 horas extraordinárias anuais, além das 12 que são obrigadas a fazer"
Sem comentários:
Enviar um comentário