"As redes sociais trouxeram toda uma nova dimensão aos mexericos no escritório. Nunca foi preciso saber muito sobre os colegas para falar deles – mal, de preferência; afinal, o que mais há para fazer durante as pausas para um café e um cigarro?! Agora que nos obrigaram a transformar o acto de fumar numa coisa social, é preciso arranjar assunto de debate para preencher os momentos em que nos vemos obrigados a fazer conversa com quem não temos nada para conversar. Claro que o roçar de joelhos entre o seu chefe e aquela secretária oxigenada continua a ter potencial, mas fazer-se amigo de todos os colegas de escritório na rede e explorar metodicamente cada informação e fotografia partilhadas dá-lhe acesso a um universo de material praticamente inesgotável. Aperceber-se daquela relação casualmente descoberta ao ligar os pontos – um olhar numa fotografia publicada no Facebook, um comentário mais íntimo no Twitter... -, deliciar-se com o momento em que as suas informações se cruzam com as de outro colega e juntos vêem finalmente a conclusão óbvia (a mais chocante possível, obviamente, se não, que graça tem todo o exercício?), são momentos que não têm preço. E quando finalmente a porteira lhe confia que a boazona do segundo andar afinal é lésbica – é um facto inquestionável! Afinal, ela viu tudo num post na página do Facebook da outra -, abre-se toda um a nova perspectiva de mexerico. Longe vão os tempos do “Penso, logo existo”. Descartes não é assim tão excitante num mundo em que podemos ter acesso a informação íntima e pessoal sobre qualquer pessoa numa questão de segundos. A nova máxima que domina o mundo é “Se está no Facebook, é obviamente verdade”. Sem mais. Claro que a coisa deixa de ser tão divertida quando se apercebe que o novo tema de conversa é você. Antes de tornar acessível a todos informação que não quer que seja pública, pense duas vezes. Não só pode como vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Se consegue ver os outros, os outros também podem vê-la a si. Usar as redes sociais para a coscuvilhice é assumir um risco de que a maioria das pessoas não se apercebe até ser tarde demais. E fazer-se amigo de pessoas com quem não tem realmente uma relação fora do escritório pode trazer-lhe problemas ou pelo menos momentos pouco agradáveis. Talvez esteja na altura de voltar a ler aos livros de filosofia do liceu. Ou pelo menos de dedicar-se a coisas mais úteis do que os mexericos (texto da autoria da Chefe de redacção adjunta do “Dinheiro Vivo”, com a devida vénia)
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