segunda-feira, maio 02, 2011

Quando Portugal pediu ajuda, os cofres públicos só tinham 300 milhões

Diz o Expresso, num texto do jornalista João Silvestre, que "na semana em que José Sócrates decidiu finalmente avançar para o pedido de ajuda internacional, os cofres do Estado estavam praticamente a zero. Segundo apurou o Expresso junto de uma fonte comunitária, o Estado tinha apenas €300 milhões em caixa no início de abril. Isto poucos dias antes de Portugal ter que amortizar uma série de obrigações num valor próximo de €4500 milhões (juros incluídos). O Governo nunca o admitiu e sempre insistiu que o reembolso da dívida agendado para 15 de abril estava assegurado. Mas a realidade é que, a 6 de abril, quando Sócrates anunciou o pedido de auxílio financeiro, Portugal estava no fio da navalha. Pelas contas do Expresso, o saldo entre colocações e amortizações de dívida rondava €700 milhões. Mesmo com uma almofada de €2000 que vinha do final de 2010, segundo noticiou o “The Wall Street Journal”, era uma verba claramente insuficiente para garantir a amortização de 15 de abril e muito menos para assegurar o financiamento normal do Estado. Para acorrer, por exemplo, às necessidades das empresas públicas de transportes, que viam os bancos fechar-lhes as portas. O caso, afinal, era ainda mais grave do que os números oficiais do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) deixavam transparecer. Percebe-se, por isso, a preocupação do ministro das Finanças, que, segundo foi noticiado na semana passada pelo Expresso, há muito estava em rutura com o primeiro-ministro. Teixeira dos Santos terá mesmo forçado o pedido de ajuda ao admitir essa necessidade, por escrito, ao “Jornal de Negócios”. Uma forma pouco usual de comunicar ao país uma decisão desta importância e que obrigou Sócrates, pouco depois, a fazer uma comunicação oficial aos portugueses a partir de São Bento. É que o financiamento do Estado português estava em risco e não se tratava apenas de não haver dinheiro para a emissão de obrigações que vencia na semana seguinte — e que foi paga. O caso era mais grave. Em causa, poderia estar o pagamento de salários e de outras obrigações do Estado. Em entrevista à agência Reuters, na semana seguinte, Teixeira dos Santos admitiu mesmo que Portugal estava com a corda ao pescoço e que o financiamento só estava garantido até maio. Para junho, quando é necessário amortizar outra série de obrigações na ordem dos €5000 milhões, já não havia dinheiro. É nesse ponto que Portugal está neste momento. Foi realizada uma emissão de €1000 milhões em Bilhetes do Tesouro na semana passada e está agendada outra para a próxima quarta-feira, num montante entre €750 milhões e €1000 milhões. Mas são valores claramente insuficientes para as necessidades do Estado. Na prática, sem ajuda externa o Estado não tem dinheiro para funcionar a partir do final de maio. Daí a urgência de uma solução a curto prazo. Se, como se espera, o fecho das negociações está por dias, a primeira tranche do auxílio financeiro pode chegar a Lisboa antes do final de maio".

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