quinta-feira, julho 22, 2010

Opinião: "Crise no país dos arraiais"

"A austeridade e a distância das eleições autárquicas secou a agenda de concertos de Verão. Sobram os grandes festivais e pouco mais. Este é o guia do melhor que pode ver e ouvir em tempos de crise. A regra é simples: não há dinheiro não há palhaços. Em Portugal, o cartaz de concertos é um dos melhores indicadores da saúde das contas públicas - ou melhor, da liquidez dos cofres públicos. E a razão é tão simples como a regra: é que por cá música é coisa que se dá, não que se paga, e os grandes patrocinadores sempre foram e continuam a ser as câmaras municipais. Quem vê tanto festival de música apinhado pode até julgar que o circo está armado como de costume. Engano. O País estendido para lá de Lisboa, Porto e respectivas colónias balneares não se anima à conta de festivais mas de arraiais. E é aí, no terreiro das festas, que se desenha a grande folha da agenda de concertos anual. Ora, em ano de crise e na ressaca de umas eleições autárquicas, os agentes de espectáculos estimam que o volume de contratos tenha caído à volta de 30%. Estão a ser optimistas.
Seja nas festas de Cabeceiras de Basto, seja na Marina de Vila Moura, não espere grandes borlas. Há por aí muita coisa boa para ver e ouvir, é verdade, mas o que há mais são espectáculos de entrada paga (um conceito a que os portugueses têm uma estranha aversão) e festivais (um conceito por que os portugueses nutrem uma eufórica adoração, embora também se paguem e bem). No itinerário festivaleiro deste Verão sobram então quatro grandes etapas, cada uma delas com um público fidelizado e distinto e todas elas com cartazes respeitáveis apesar da crise. A corrida já começou com o Cool Jazz Fest, que desde o início deste mês anda a render concertos entre Cascais e Mafra (esta noite mesmo há Maria Bethânia e Celso Fonseca no Hipódromo Manuel Possolo em Cascais, é às 21h30 e os bilhetes começam nos 20 euros) e que prossegue até ao último dia de Julho. Enquanto isso, lá na terra do vinho verde, faz-se o festival à antiga (pó no ar e cama no chão) e o mítico Paredes de Coura regressa com quatro dias de campismo e música na Praia Fluvial do Taboão. Começa na próxima quarta-feira, dia 28, e termina no domingo seguinte, dia 31, o cartaz não está nada mau (veja ali ao lado). Depois disso a música foge para a Costa Alentejana. Primeiro com o grande Festival Músicas do Mundo de Sines, já justamente eleito como uma etapa obrigatória no circuito europeu da World Music, que corre em Sines precisamente nos mesmos dias de Paredes de Coura; depois com o Sudoeste, ali uns quilómetros abaixo, na Herdade da Casa Branca, junto à Zambujeira do Mar, entre 4 e 8 de Agosto: também já conheceu edições mais faustosas, mas mantém o cartaz no nível de qualidade e ecletismo que o transformou num dos maiores festivais do País" (por João Pedro Oliveira, no Diário Económico)

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