quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Défice português nos grandes jornais norte-americanos

Li no Jornal de Negócios, "raramente mencionado nos "media" norte-americanos, Portugal está subitamente a ocupar espaço nos grandes jornais norte-americanos. Mas se, nas raras vezes que Portugal é mencionado, versa geralmente reportagens sobre turismo, vinhos ou culinária, desta vez o país surge como exemplo da "doença mediterrânea" que na semana passada lançou pânico nas bolsas e nos mercados cambiais causando uma súbita subida do valor do dólar em detrimento do euro. O influente New York Times enviou mesmo uma das suas repórteres a Lisboa de onde escreveu uma reportagem hoje publicada no jornal sob o título "A Europa observa enquanto a economia de Portugal luta em dificuldades". Rachel Donadio entrevistou o primeiro ministro José Sócrates que lhe garantiu que Portugal irá resolver a questão do défice orçamental "em três anos" , algo que, acrescentou a correspondente, "os mercados e observadores não estão tão certos" de ser possível. "Sócrates, um homem que se veste elegantemente com uma face aberta e expressiva e que sublinha os seus pontos de vista com gestos teatrais, pareceu ao mesmo tempo profundamente preocupado com a gravidade dos problemas do seu país mas misteriosamente rejeitando as estatísticas da União Europeia," escreveu Donadio. "Sócrates rejeitou a noção de que Portugal está atrasado em relação à produtividade e proficiência laboral dos seus parceiros na União Europeia," afirma o jornal, que cita Sócrates como tendo dito que Portugal "não precisa de nada de Bruxelas". No fim de semana Portugal já tinha estado também na primeira página do Washington Post numa notícia sobre a situação financeira de Portugal, Espanha e Grécia, afirmando que os investidores não parecem acreditar" nas garantias dadas por estes países de que vão resolver a sua situação financeira". O jornal afirma que Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha são agora conhecidos como os PIGS (porcos) da Europa, sendo a palavra formadas pelas iniciais em inglês desses países (Portugal, Ireland, Greece, Spain. O Washington Post sublinhou que a situação política em Portugal é vista por muitos como estando a reduzir a margem de manobra do governo de José Sócrates. "Entidades oficiais portuguesas prometeram cortar os gastos. Contudo legisladores da oposição fizeram aprovar uma controversa lei com dezenas de milhões de euros para as ilhas dos Açores e Madeira algo que o ministro das Finanças do país descreveu abertamente como podendo ter 'consequências graves' para as contas públicas de Portugal", escreveu o repórter Anthony Faiola para quem a crise "tem alguns paralelos com as crises das dívidas que atingiram a América Latina e a Ásia no passado". Sebastian Mallaby, do Centro de Estudos Geoeconómicos no influente Conselho de Relações Externas, um centro de estudos sediado em Nova Iorque, disse que as crises em Portugal, Grécia e Espanha podem significar que "se chegou a um ponto em que os governos já usaram todas as suas munições" para tentar estimular as economias e a fraqueza resultante disso é "uma nova instabilidade para o sistema". Para Mallaby é isso "que estamos a testemunhar na Europa" com a situação na Grécia "e em certa medida em Portugal logo a seguir à Grécia". Numa altura em que a recuperação económica na Europa é "anémica" quando comparada com a Ásia e Estados Unidos, a Europa faz face ao problema adicional que "os mercados estão a forçar uma consolidação fiscal - a retirada de gastos de estímulo", disse Mallaby em declarações ao próprio "site" do Conselho de Relações Externas. Mallaby afirmou ainda que a Europa "não tem escolha" sobre reduções orçamentais que vão ter que ser feitas em Portugal Espanha, Grécia e Irlanda e isso vai reduzir o crescimento económico na Europa com consequências para toda a economia mundial".

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