domingo, junho 21, 2009

Diálogo e sabedoria

Tenho acompanhado a evolução da situação no serviço de Anestesia do Hospital do Funchal depois da directora, Henriqueta Reynolds, ter sido demitida, não se percebe bem porquê e em que circunstâncias. Aliás, em termos comunicacionais, porque é disso que falamos, o pior que pode acontecer a um serviço público com esta responsabilidade é a falta de comunicação, ou, se preferirem, uma sucessão de “casos” que ficam sem explicação plausível. Sou uma pessoa duplamente suspeita e tenho que o referir logo. Em primeiro lugar, porque sou amigo pessoal, desde o Liceu, dos médicos Duarte Correia e Rui Silva, ambos na Unidade da Dor do Hospital do Funchal, pela qual tenho um enorme respeito e admiração. Em segundo lugar, porque, por razões pessoais e familiares, tive oportunidade de constatar, em diversas ocasiões e intervenções, a importância desta Unidade, a competência dos seus profissionais, e a forma empenhada como acompanham os doentes e por eles são recebidos. Repito: não quero com isto por em causa qualquer outro serviço hospitalar nem nenhum dos seus profissionais, mas deixem-me puxar a brasa à minha sardinha. Quando afirmo que acho que esta Unidade deveria ser, não só mantida como respeitada e apoiada, e que considero um grande erro confundir, as especificidades próprias da Unidade com o sector da Anestesia em geral, podem considerar que estou a ser “sectário” pelos factos anteriormente referidos. Mas se é isto que eu penso, acho que nada me impede de o afirmar. Temo, sinceramente – e não estou a criticar ninguém, muito menos os que têm a capacidade e a obrigação da decisão, porque não estou na posse de informações porventura essenciais, apenas achando que devo dar a minha opinião – que estejamos a caminhar para uma dispensável desestabilização numa área – a hospitalar - que precisa de eficácia, de tranquilidade interna, de uma correcta gestão de recursos humanos e de recursos financeiros. Acho contudo que esta eficácia pode se conseguida, aliás, tem que ser conseguida, com a implementação de imprescindíveis políticas de contenção de despesas, que acabem com certos vícios e com eventuais "status quo" pouco abonatórios. Mas essas medidas e orientações não podem transformar-se num pretexto para radicalismos ou para atitudes pouco conciliatórias. Eu não sei o que pensam os responsáveis pelo Hospital, nem sequer me dei ao trabalho de ler o volumoso diploma que alterou os serviços regionais do sector. Sei que existiu um levantamento, por sinal feito pelos mesmos autores do estudo que viria a estar na origem do Simplex, aprovado pelo governo socialista em Lisboa, documento que foi mantido à margem das decisões, já que proponha medidas radicais em termos de serviços públicos, de redução drástica dos funcionários públicos, enfim, transpondo para a Madeira os mesmos problemas que os socialistas em Lisboa tiveram e que ditaram o despedimento do antigo ministro da saúde, que por sinal não deve estar nada chateado com o que lhe aconteceu já que acaba de ser eleito para o Parlamento Europeu! Mas a saúda, para além da sua componente económica, tem muito a ver com o programa de governo (político) e com decisões políticas tomadas pelos eleitos, por pessoas que têm a legitimidade do voto popular. E por esse motivo, cabe aos políticos, apenas a eles, olhar pelas decisões tomadas, evitando a ideia de que ou vão a reboque dos acontecimentos ou se situam mesmo à margem deles. Neste quadro, e ressalvando que conheço há muitos anos o médico Miguel Ferreira, mas que sou amigo pessoal com actual secretário regional dos assuntos sociais, Jardim Ramos, que considero uma pessoa competente e empenhada em resolver os problemas numa área que ele conhece, recomendo o diálogo apelando para que se evite uma degradação dos serviços ou a evolução para uma sucessão de factos em relação aos quais se constata depois uma perda de controlo da situação. E há que dissipar as dúvidas, esclarecendo, informando devidamente a opinião pública. Como é possível que uma directora seja demitida três meses depois de ter sido reconfirmada num cargo para um mandato de três anos? Como é que as pessoas ficam a saber o que efectivamente se passou? Aliás, não me estranha que esta semana venham alguns partidos da oposição desencadear iniciativas ou tomar posições que voltem a gerar instabilidade. O que recomendo – e eles não me pediram que fizesse fosse o que fosse, quer em seu nome ou da unidade à qual estão ligados – é que essa unidade da dor, mesmo com as novas orientações de contenção de despesas – AS QUAIS DEVEM SER GENERALIZADAS – seja mantida e que se apoie e incentive a COMPETÊNCIA. Um apelo ao diálogo que desejo muito fosse observado, porque as mudanças podem (devem) ser feitas não forçosamente de uma forma sistematicamente conflituosa. Porque depois, quando chegar a hora do julgamento, quando as pessoas tiverem que pronunciar-se sobre medidas tomadas, quem seja submetido a esse veredicto popular serão os políticos. Confio incondicional e plenamente em Jardim Ramos. E espero que nenhum de nós venha um dia a precisar, como infelizmente já constatei noutras pessoas, não de um médico anestesista (sem com isto pretender desvalorizar a competência, a experiência e o papel relevante destes clínicos num contexto da saúde hospitalar), mas de uma unidade da dor que leve a quem está em sofrimento e desespero, uma forma de estar e de apoiar e acompanhar o doente, que não tem rigorosamente nada a ver com um certo fundamentalismo que temo possa ameaçar o serviço do Duarte Correia e do Rui Silva, e de outros profissionais, médicos ou enfermeiros, cujo nome me escapa, mas que sei serem igualmente importantes, e aos quais peço desculpe por não os referir.

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