Vale a pena ler este artigo hoje publicado no Jornal de Negócios, pelo seu director, Pedro Santos Guerreiro, com o título "Cambada de poupadinhos...": "Consumismo desenfreado, crédito demasiado fácil, famílias sobreendividadas, economia hipotecada. Lembra-se de todas as lições de moral? Esqueça: agora é preciso que gaste dinheiro. Estes economistas estão loucos.Se quer ajudar a economia, gaste dinheiro. Consuma! Comprar mais um plasma, adquirir um automóvel e jantar fora, se possível duas vezes no mesmo dia, é mais patriótico que apoiar a recandidatura de Durão Barroso. Quem produz precisa de clientes para manter o presente, que diabo!Trata-se de um exagero, claro, mas ilustra a esquizofrenia destes tempos modernos: os macroeconomistas que durante anos avisaram para a irresponsabilidade dos consumos alertam agora para a responsabilidade que as poupanças vão ter nas economias. É como o sal: de mais gera doença, de menos traz insipidez.Os consumidores não passaram da bulimia para a anorexia mas a economia pode morrer da cura. Silva Lopes foi dos primeiros a dizê-lo, há uns valentes meses: é urgente poupar, mas de todos os momentos em que isso se manteve essencial, agora é a pior altura para começar.A economia portuguesa representa um mercado doméstico pequeno. Mas, com a queda brutal nas exportações e no investimento dos últimos meses, a redução do consumo é mais um prego no caixão: todas as variáveis conduzem a falta de vendas e de margens das empresas, que logo cortam custos e reduzem a sua dimensão, logo empregando menos e, sim, pagando salários menores.Se os consumidores empregados não consomem é porque têm medo. Com esta baixa inflação, redução dos bens alimentares, das gasolinas e das prestações, este ano resultará, para os empregados, num dos maiores aumentos de rendimento disponível em décadas. Para onde está a ir esse dinheiro? Para o colchão, para os depósitos a prazo (40 milhões por dia no último ano), poupanças.Pode parecer estranho ouvir Sócrates justificar mais investimentos em vez de menos impostos porque assim as pessoas não gastariam dinheiro. Mas o primeiro-ministro está a falar como um economista informado. Se os economistas lhe pedem que gaste hoje o que está a adiar para amanhã, não lhe estão a desejar o suicídio. Mas estão a pedir-lhe que dê um passo atrás antes de dar dois em frente". Estamos a falar de gente séria, eticamente irrepreensível e que sabe do que fala, não de idiotas, doentes esquizofrénicos e incompetentes reféns de derrotas e frustrações mal curadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário