quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Açores: trabalhadores acusam RTP de navegar "sem rumo"

Escreve o jornalista João Paz do Correio dos Açores que “o problema básico da RTP/Açores “é de incompetência”. São os próprios trabalhadores que o reconheceram numa assembleia “com uma participação sem paralelo nos últimos anos”. Nesta reunião de quatro horas, houve queixas de que o Centro Regional dos Açores “navega sem rumo e com um projecto que só o director conhece”. O comunicado não fala em ingerência do poder político regional. Uma assembleia de trabalhadores da Rádio e Televisão dos Açores, de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, realizada a 30 de Janeiro, manifesta “desagrado” pela gestão levada a cabo nos últimos tempos pelo actual director, Pedro Bicudo, com realce para a “instabilidade nos cargos de estrutura, desbaratando-se os poucos recursos para ocupar cargos de chefia”. Alguns dos trabalhadores presentes, demissionários de cargos de chefia, citados num comunicado da subcomissão de trabalhadores da RTP/Açores datado do dia 5 de Fevereiro (anteontem), fizeram questão de salientar na reunião de quatro horas que “pediram dispensa dos seus cargos alegando questões pessoais, embora tivesse pesado na sua decisão a falta de planeamento, desmotivação e desconhecimento do projecto director para o Centro”. “Houve queixas repetidas de que o Centro Regional dos Açores navega sem rumo e com um projecto que só o Director conhece”, lê-se no comunicado. Foi “quase unânime” na assembleia de trabalhadores que o problema básico da RTP/Açores “é um problema de incompetência”. “Às expectativas veiculadas pela actual direcção de um projecto galvanizador e inovador, que encontrou terreno fértil para mobilizar entusiasticamente os trabalhadores, sucedeu ao fim de ano e meio o desânimo, a desilusão e a insatisfação generalizada”, acrescenta”. Entretanto, confirma-se que o director da RTP/Açores, Pedro Bicudo, esteve ontem no parlamento açoriano a prestar esclarecimentos na sequência de acusações do PCP sobre uma alegada ingerência do Governo regional na informação da estação pública, anunciou o parlamento açoriano. A proposta socialista de ouvir Pedro Bicudo, aprovada por unanimidade, surgiu na sequência de notícias que dão conta de uma alegada ingerência do Governo regional na informação da estação, uma situação denunciada pelo líder regional do PCP no início de Janeiro. Tanto o Governo açoriano como as chefias da RTP/Açores já negaram as alegadas interferências nos alinhamentos noticiosos. Embora sem provas de alegada ingerência, a subcomissão de Trabalhadores garantiu existirem dados que comprovam "uma atitude de pressão arrogante e prepotente" do Executivo açoriano, apontando o caso de uma jornalista acusada de tentativa de desinformação pelo Governo açoriano. Segundo o AO, “chamado a pronunciar-se sobre cobertura noticiosa da RTP/A acerca da recepção de Ano Novo oferecida pelo presidente do Governo Regional - reportagem que foi alvo de críticas por parte do Executivo açoriano e que levou o director do canal regional a solicitar que fosse enviado um pedido de desculpa - o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas assegura “que nada há na reportagem e no comportamento da jornalista que mereça reparo do ponto vista ético ou deontológico”. De acordo com o parecer a que o AO online teve acesso, “o responsável do centro regional da televisão pública considerou de muito mau gosto e ‘eticamente condenável’ a utilização na peça da técnica de ‘fast forward’ (movimento acelerado), considerando que essa opção da jornalista ‘desacreditava a seriedade de toda a equipa de informação’”. Contudo, no referido parecer o Conselho deixa claro que é a atitude do director da RTP/A que “merece reparo”, questionando ainda a qualidade que legitima a sua intervenção. “Caso o cargo de director do centro regional corresponda, como tudo indica, a uma função executiva de gestão, a atitude de Pedro Bicudo é invasiva das competências do Departamento de Informação. A conciliação de funções de gestão e representação institucional com as de direcção editorial são de todo incompatíveis e ferem o estatuto ético/deontológico dos jornalistas”, refere o Conselho, que levanta outra questão. “No cargo que desempenha, Pedro Bicudo não pode ser jornalista em exercício. E, de facto, o director da RTP/Açores não consta como dispondo de título profissional, de acordo com a lista da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ). Mas, como resta a dúvida, o Conselho Deontológico vai solicitar esclarecimento à CCPJ”, refere o documento. Ainda assim, o Conselho considera que a posição tomada por Pedro Bicudo indicia uma intervenção abusiva na esfera de competência editorial, quer assumida por sua iniciativa ou em cumprimento de ordem hierárquica superior”.

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