Obama tem três vez mais apoio dos jornais do que McCain
Escrevem os jornalistas do Publico, Ana Fonseca Pereira, Paulo Miguel Madeira que "Los Angeles Times", "Washington Post" e "Chicago Tribune", são apenas alguns dos jornais norte-americanos que nas últimas semanas anunciaram o seu apoio a Obama. O democrata lidera as sondagens, mas é também o preferido da imprensa dos Estados Unidos, país onde, contrariamente a Portugal, os jornais revelam quem é o candidato que apoiam.“É com orgulho que acrescentamos o nome de Barack Obama ao de Lincoln na lista de pessoas que apoiámos para Presidente dos Estados Unidos”. Foi com esta frase que o conselho editorial do "Chicago Tribune" fez história na última sexta-feira ao anunciar, pela primeira vez em 161 anos, o seu apoio a um candidato democrata à Casa Branca, num exemplo seguido por outros 26 títulos que em 2004 apoiaram George W. Bush e agora preferem Obama a McCain.A mais recente contagem da "Editor & Publisher" (E&P, publicação que cobre o sector da imprensa) revela que Barack Obama obteve o apoio, ou endorsement em inglês, de 127 jornais, enquanto John McCain é apoiado por apenas 49 publicações, numa vantagem de quase três para um, que é ainda mais significativa em termos de tiragem (13,9 milhões de exemplares contra 3,9). Em 2004, John Kerry conseguiu uma ligeira vantagem sobre Bush (213-205), que quatro anos antes fora o favorito da imprensa face a Al Gore (137-99), mas é preciso recuar até 1988 para verificar uma vantagem semelhante, quando George Bush foi apoiado por 195 jornais, enquanto Michael Dukakis recolheu a simpatia de 51.Apoios imprevistosMas se há apoios previsíveis – o Washington Post, que anunciou a decisão no mesmo dia, tem uma sólida reputação de centro-esquerda –, esta campanha tem sido marcada por decisões inesperadas, como a do "Chicago Tribune", principal diário da metrópole onde Obama reside, mas também do LA Times que não tomava posição desde que o escândalo Watergate forçou a renúncia de Nixon, cuja reeleição o jornal apoiara em 1972. Também o "Salt Lake Tribune", principal jornal do Utah (estado que Bush venceu em 2004 com 72 por cento dos votos), surpreendeu ao declarar num editorial que os EUA “precisam de Obama na Casa Branca”. O Tribune, com uma maioria de leitores entre a comunidade mórmon, não poupa críticas a McCain, em particular pela escolha de Sarah Palin para a vice-presidência, a quem classifica de “pouco articulada, insular e eticamente duvidosa”.Segundo a E&P, Palin é mesmo a principal razão invocada pelos jornais tradicionalmente republicanos para justificar a mudança de orientação. “McCain falhou na decisão executiva mais importante”, a escolha de um vice-presidente, lamentava o jornal de Chicago. Endorsements são determinantes?Mas até que ponto estes endorsements são determinantes na escolha dos eleitores indecisos? A influência é pequena, admitem analistas e responsáveis editoriais, tanto mais que os jornais continuam a perder terreno para outros meios – Internet e televisão – na formação de opiniões. Contudo, nos estados onde o desfecho eleitoral é incerto, todos os apoios são contabilizados e são as próprias campanhas a cortejar o apoio da imprensa. Na Florida, um dos mais disputados swing states, Obama conseguiu o apoio de sete jornais, incluindo o "Miami Herald" e o "Orlando Sentinel" (num total 467 mil exemplares diários), enquanto McCain é a escolha do "Tampa Tribune" (220 mil). Cenário semelhante no Colorado e Ohio, onde o democrata obteve o apoio dos maiores títulos.O E&P nota que mesmo em estados convictamente republicanos, onde a vitória de McCain não está ameaçada, há um número significativo de jornais que apoiam o democrata, como é o caso do insuspeito Texas, onde Obama conseguiu o endorsement do "Houston Chronicle" e do "Austin American-Statesman", ambos apoiantes de Bush em 2004. Um sinal, afirmam os analistas, de que também na imprensa há a crescente convicção de uma vitória democrata.
Uma tradição que não é consensual
O apoio aos candidatos é uma tradição que se perde na história da imprensa americana, onde muitos jornais nasceram dentro da esfera de influência partidária. Já em 1860, Abraham Lincoln recebia o apoio entusiástico do Chicago Tribune e da Atlantic Monthly, revista abolicionista fundada três anos antes e que previa que o republicano conseguiria apaziguar as divisões no país e evitar uma guerra civil.O apoio é decidido pelo conselho editorial do jornal, estrutura independente da redacção e que é responsável pelas páginas de opinião. O endorsement, apesar de vincular todo o jornal, não tem reflexos na cobertura que os jornalistas fazem da campanha, mas esta separação não é evidente para todos os leitores, o que tem levado vários jornalistas a pedirem o fim desta política. Há mesmo jornais, como o USA Today, o único com distribuição nacional e o mais lido do país, que defendem o fim desta prática. Contudo, Esteves Cardoso apoia a tradição anglo-saxónica de se ser claro naquilo que se defende, de se fazer uma “declaração de interesses antes de se defender uma coisa”. “Os jornais americanos estão a ser honestos, mais do que a dar uma indicação de voto”, diz".
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Candidatos à Casa Branca gastam o dobro do que em 2004
Diz o Jornal de Negócios, num texto de Carlos Filipe Mendonça, "que seriam as eleições presidenciais norte-americanas mais caras de sempre já toda a gente sabia. O que não se sabia, embora se imaginasse, era a dimensão relativa. Os dois candidatos à Casa Branca, Obama e McCain, já gastaram neste duelo quase 1,4 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros), o dobro do que Bush e Kerry gastaram em toda a campanha de 2004. Os números são da “OpenSecrets, Center for Responsible Politics” e não deixam margem para dúvidas. Desde que começou a actual corrida à Casa Branca, os dois partidos gastaram 1,32 mil milhões de dólares (1,04 milhões de euros), contra os 717 milhões (566 milhões de euros) gastos na disputa de 2004. Mas a comparação ainda é mais impressionante quando se observam os dados de 2000. Na altura, Al Gore e Geroge W.Bush gastaram apenas 343 milhões de dólares (270 milhões de euros). O que equivale a um quarto das despesas actuais de Obama e McCain. Estima-se que cerca de dois terços do valor gasto até agora seja da responsabilidade de Obama, uma vez que a máquina de campanha do democrata tem-se mostrado muito eficaz na obtenção de fundos. Esta é a primeira vez na história das eleições norte-americanas, desde 1972, que um candidato recusa aceder ao financiamento público para alimentar a máquina de campanha".
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O "New York Times" anunciou que apoia Barack Obama - O candidato democrata parece correr para a vitória nas eleições dos Estados Unidos e John McCain decidiu investir mais na campanha porta a porta em estados-chave (veja aqui o video da RTP com a notícia).
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Indícios de passado esclavagista na família de McCain - O candidato republicano afirmou durante a campanha que não tem na sua família esclavagistas. Mas foi descoberta numa cidade do Mississipi uma família negra descendente de escravos dos McCain (veja aqui o video da RTP com a notícia).
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Há uma maldição Palin na campanha republicana? - "A governadora do Alasca e candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos, Sarah Palin, vai ser hoje oficialmente interrogada no âmbito de um novo inquérito ao seu papel no despedimento de um dirigente estadual, desta feita conduzido pelo departamento de pessoal do governo daquele estado.É a primeira vez que Palin aceita falar aos investigadores para explicar a sua versão dos acontecimentos do chamado "Troopergate", que tem a ver com o polémico despedimento do comissário estadual para a segurança pública Walter Monegan, alegadamente por se ter recusado a despedir o ex-cunhado da governadora.Este segundo inquérito surge depois de um procurador especial a trabalhar para a legislatura do Alasca ter concluído que, apesar da demissão de Walter Monegan não ter sido ilegal, houve abuso de poder da governadora durante o processo.Sarah Palin tinha inicialmente prometido colaborar com a investigação, mas depois de ter sido convidada a juntar o seu nome ao ticket de John McCain mudou de opinião, acusando os legisladores de estarem a conduzir o inquérito com uma agenda política. Palin concordou com esta segunda investigação, que aliás resulta das suas próprias queixas contra os legisladores. O departamento de pessoal é uma agência sob a alçada do ramo executivo do governo do Alasca, com autoridade para sancionar os comportamentos dos funcionários e membros eleitos daquele estado. Os oficiais estaduais são cargos de nomeação política e podem legitimamente ser despedidos pela governadora" (texto da jornalista Rita Siza, do Publico).
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