terça-feira, junho 03, 2008

Os concelhos onde se morre mais

Segundo o Expresso, num texto das jornalistas Ana Sofia Santos e Vera Lúcia Arreigoso, "o Alentejo é a região do país onde o risco de morte por doença é mais elevado. A conclusão é de quatro investigadores do Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa. O documento mostra ainda que o Norte tem maiores taxas de internamento hospitalar. Veja em que lugar da tabela está o seu concelho. Alvito, Cuba. Aljustrel, Serpa e Murtosa são os concelhos portugueses onde a população residente corre mais risco de morrer por doença. A conclusão consta do estudo inédito 'Análise da Mortalidade e dos Internamentos Hospitalares por Concelhos de Portugal Continental 2000-2004', realizado por uma equipa de investigadores do Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa (ver mapa aqui).
Pobreza e iliteracia são causas
Quem vive nos concelhos alentejanos de Alvito, Cuba, Aljustrel e Serpa e em Murtosa - distrito de Aveiro - corre um risco de morrer por doença 22% a 37% maior do que qualquer outro residente em Portugal Continental. A conclusão consta de um estudo inédito de quatro investigadores do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, em Lisboa, que analisa a mortalidade e os internamentos - em hospitais públicos - ao nível concelhio, de 2000 e 2004. Entre as curiosidades e dados surpreendentes do estudo, verifica-se que um habitante de Cascais tem o dobro de hipóteses de morrer de uma doença isquémica do coração, uma espécie de enfarte, por comparação com o risco equivalente calculado para o Continente. Contudo, no concelho vizinho de Oeiras, são os internamentos que se destacam. Esta doença provoca mais hospitalizações do que mortes. E para quem vive em Monção o maior perigo está nas patologias cerebrovasculares, como o AVC (acidente vascular cerebral). A probabilidade de morrer por esta causa é 87% superior ao padrão nacional. E o que é que os ‘alfacinhas’ e os naturais de Melgaço têm em comum? Estão no grupo de risco das neoplasias malignas, vulgo cancro. Nesta categoria, a Área Metropolitana de Lisboa e do Porto estão no topo da lista dos cancros dos brônquios e dos pulmões como principais causas de morte. A Norte, respira-se mal. As doenças respiratórias evidenciam-se. Os autores ainda estão à procura das causas que explicam a mortalidade em determinadas áreas geográficas devido a estas três principais doenças. As primeiras pistas são dadas pelo especialista em Saúde Pública José Luís Castanheira, no prefácio do livro sobre este estudo. Pobreza, iliteracia, comportamentos de saúde e estilos de vida são os factores de peso referidos. O pneumologista e ex-coordenador nacional para as doenças respiratórias, Teles de Araújo, acrescenta: “A poluição atmosférica e as variações climáticas são, certamente, factores importantes nas variações regionais”. A distribuição dos cuidados médicos, que peca por defeito, não é considerada uma razão importante: “Se assim fosse, as zonas urbanas estariam em vantagem”, salienta José Luís Castanheira. Também a idade das populações não vicia os dados. Os investigadores recorreram a taxas padronizadas que eliminam esse efeito, permitindo comparar concelhos com estruturas etárias diferentes. E o trabalho tem uma conclusão taxativa: “Contrariamente ao esperado, não há concordância entre a localização das maiores taxas de mortalidade e de internamentos”. Os autores ainda não têm uma explicação científica para este fenómeno mas admitem que pode estar associado à oferta, acessibilidade e funcionamento dos hospitais: “Nos grandes centros urbanos poderão existir mais episódios de internamentos ocasionados por altas ao fim-de-semana seguidas de readmissões”. O antigo coordenador para as Doenças Cardiovasculares Seabra-Gomes também foca a distribuição dos cuidados de saúde. “Há uma discrepância, com uma maior concentração nos centros urbanos”. Por outro lado, no período em análise, era frequente os doentes recorrerem a moradas falsas para terem acesso a unidades fora da área de residência. Director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, António Vaz Carneiro avança outras razões para explicar as divergências entre os números das mortes e dos internamentos na mesma área. Em sua opinião, podem dever-se a “doenças de baixo risco de mortalidade mas que necessitam de internamento, à existência de apoio extra-hospitalar para doentes terminais e a ausência de recurso dos doentes ao hospital nos momentos finais de vida”. As respostas para todas as questões trazidas por este estudo estão agora a ser procuradas. A coordenadora da investigação, Rita Nicolau, revelou ao Expresso que a sua equipa já está em campo para tentar encontrar os factores que explicam as diferenças nas taxas de mortalidade por concelho. “Os dados que estamos a analisar relacionam-se com as emissões poluentes estimadas por concelho, os hábitos tabágicos e estilos de vida, as condições sócio-económicas, os índices de massa corporal, a localização dos hospitais, a percentagem de superfície florestal bem como a proximidade de extracções mineiras”. O único médico na equipa, José Marinho Falcão, salienta que este estudo é o ponto de partida para outras investigações. Ainda assim, dá o mote para a utilização imediata dos dados já existentes: “Vão ajudar a nova organização administrativa com os agrupamentos de centros de saúde”, que vão substituir as actuais Administrações Regionais de Saúde. Do ponto de vista clínico, por exemplo, o mapa dos focos de incidência de gripe - também disponibilizado no trabalho - é um contributo valioso para planear a vacinação anual das populações. O estudo tem o patrocínio da Fundação Merck Sharp & Dhome, à qual os investigadores submeteram “um protocolo científico independente”.

Sem comentários: