segunda-feira, junho 02, 2008

Gaula: o frentismo artificial e os partidos

Para o bem ou para o mal - nunca me ouviram dizer que os partidos políticos são uma espécie de instituições sacro-santas., isentas de erros - considero-me uma pessoa adepta do sistema partidário por entender que é através dele que as pessoas podem ter participação na vida política e, em muitas situações, aspirar ao exercício de funções que em situações normais não alcançarão. Portanto, o que se passa em Gaula, quanto a uma pretensa "revolta" de cidadãos - que alegadamente de um momento para outro descobriram que se fartaram dos partidos... - é atípico. Atípico porque, não sendo novo - já tivemos um fenómeno semelhante em São Gonçalo, há uns anos - além de não conseguir revelar a falência do sistema partidário também, mostra que o exercício da cidadania, enquanto tal também está fortemente condicionado ou manipulado por situações que nada têm a ver com a política. Julgo que no caso de Gaula estamos perante um ajuste de contas, que tem o seu epicentro nas regionais de 2007. Quando vemos partidos, por mero oportunismo saloio, serem eles próprios a colar-se a projectos pretensamente emergentes dos cidadãos mas que no fundo apostam na desmistificação do sistema partidário e carregam um desejo de ajuste de contas por motivos que me transcendem (embora tenha a minha opinião), fico atónitos, porque uma coisa é a pretendida derrota de um partido (PSD), outra coisa é uma convergência oportunista e efémera de interesses, que se cruzam num pantanal de ideologias que nem se sabe sequer se existem, tais as cumplicidades artificialmente construídas à volta de um projecto não partidário. Se a ideia é garantir a derrota do PSD - e neste caso estamos perante uma concertada reacção de alguns sectores minoritários da oposição, incapazes de apresentar listas próprias, facto que não revela a fragilidade nem muito menos o esgotamento do sistema partidário, mas antes confirma o divórcio dos eleitores, livremente por eles assumidos, face a determinados projectos ideológicos e/ou partidários - então esta ideia frentista alargada, onde todos cabem, mas onde todos, em caso de uma vitória que não acredito possa acontecer, exigirão a partilha dos despojos revela a impotência eleitoral de alguns partidos, por natureza intrínseca de pequena dimensão, que por não poderem aspirar seja ao que for, acabam por envolver-se em situações caricatas que na sua essência se viram contra esses partidos. Na perspectiva do PSD, obviamente que quanto mais divisões existirem melhor, na convicção de que conseguimos manter o nosso eleitorado e que, para além do desgaste que o PS - vencedor da Junta em 2005 - sofrerá por causa da política nacional, acresce um projecto de cidadãos apoiados por vários partidos que pelos vistos combate ao mesmo tempo PSD e PS, o que não deixa de ser hilariante para quem sonha com projectos políticos oposicionistas únicos. Mas na lógica do que penso e aqui escrevi, não concebo que se confundam as coisas até por razões que adiante referirei.

Sem comentários: