O CDS-Madeira de José
Manuel Rodrigues tem um problema complicado entre-mãos, apesar de ser evidente
que os centristas regionais tudo fazem para que ninguém os cole demasiado a Portas e do governo de coligação de Lisboa ou fale no "saneamento"
político de Rui Barreto, um dos deputados regionais que maior visibilidade
tiveram na anterior legislatura até pelas posições políticas assumidas, na sequência
de decisões tomadas pelos órgãos regionais do CDS.
Digamos que o
CDS-Madeira precisa de um enorme tapete para debaixo dele esconder aqueles que
são os ossos mais duros de roer com os quais terá que haver-se nesta corrida eleitoral.
Mas José Manuel Rodrigues
tem outro problema que aos olhos da opinião pública até pode não lhe ser favorável.
Ele é deputado regional, é vereador da Câmara do Funchal pecar por excesso quando
também quer ser deputado à Assembleia da República, ainda por cima deixando a ideia
de ter afastado quem lhe podia fazer alguma sombra (Rui Barreto). Uma das
explicações dadas na altura da confusão foi a de que o ainda deputado em São
Bento passaria a ter funções de responsabilidade política acrescida no Grupo
Parlamentar do CDS na Assembleia Legislativa. Confesso que não entendi este
argumento. Como não vejo Barreto nem como Vice do Parlamento, nem como líder
parlamentar – salvo se existir algum acordo interno no CDS com Lopes da Fonseca
– não vejo que mais poderá ser Barreto a não ser apenas e só deputado regional.
Temo que as pessoas olhem para JMR e concluam que ele mais parece querer dizer
aos eleitores (ou ao seu partido?) que é ele que dá votos, que é ele que garante
determinados objectivos eleitorais e que, sendo assim, tem que ser ele a dar a
cara em frentes diferentes. Mesmo que as pessoas achem que José Manuel Rodrigues
está apenas a defender-se de eventuais críticas, incluindo a necessidade de ter
uma alternativa política caso surjam problemas políticos regionais. Por
exemplo, caso o CDS-Madeira não mantenha o mandato em Lisboa, dificilmente JMR terá
condições para continuar na liderança e ainda mais dificilmente não deixará de
ser obrigado a convocar um congresso para discutir a sua própria liderança, não
sei mesmo se para definir o processo de rendição na cúpula do CDS regional. Depois
da queda nas regionais de Março – e continuo a dizer que o CDS se limitou a
beneficiar dos estragos políticos e eleitorais que a situação política, social
e financeira regional indesmentivelmente causou no PSD-Madeira - caso se
verifique, por exemplo, uma queda eleitoral que afaste o CDS da Assembleia da República,
JMR deixa de ter condições políticas para liderar o CDS regional e dificilmente
Rui Barreto deixará de ser obrigado a assumir-se como a alternativa natural no
consubstanciar de uma ideia de renovação ao nível mais alto da estrutura
hierárquica centrista regional, renovação que, apesar de reclamada para outros,
em traços gerais, e no que aos principais lugares políticos do CDS regional diz
respeito, nunca existiu de forma consistente.
Acredito que o
dilema do CDS-Madeira nestas eleições é duplo: por um lado está obrigado a
eleger o próprio líder regional para a Assembleia da República - algo que não
dou por adquirido, por muito que esta afirmação não seja bem acolhida no partido.
Acresce a isso a constatação de que ao andar a fazer campanha eleitoral com
Portas o CDS-Madeira não se livra do facto de ser uma espécie de extensão
natural do governo de coligação de Lisboa, de Passos e do CDS de Portas, que
tanto mal causou aos portugueses devido a uma austeridade que assentou
essencialmente no corte de rendimentos às pessoas e famílias, no roubo com
pensões e reformas, no ataque ao estado social no esmagar dos deveres constitucionais
do estado e a uma carga fiscal que constitui uma autêntica roubalheira. Um cenário
que só não foi bem pior e bem mais carregado e violento porque o Tribunal
Constitucional – que protagonizou diversas disputas com este governo de coligação
– travou os apetites devoradores desta corja de bandalhos que nos governa. Aliás,
não deixa de ser curioso que, ao contrário do PSD-Madeira que se colou totalmente
a Passos e à sua governação (só entendido pela esperança de Albuquerque e do
PSD-Madeira continuarem a ter o PSD nacional como interlocutor no poder em
Lisboa), o CDS foi sempre mais calculista, menos entusiasta, mais cauteloso,
apesar de no momento decisivo – como aconteceu com Portas recentemente - acaba por
desdizer-se e colar-se totalmente à governação nacional e ao estranho papel de
Portas que passou quatro anos a tentar vender a falsa ideia de que é possível ter uma perna em cada margem do rio, sem que ninguém dê por isso.
O CDS regional tem
ainda outro problema. Nos impostos, na segurança social (pensões e reformas) e
na agricultura (problemas burocráticos exigidos aos agricultores, demagogia sem
fim em torno da política agrícola europeia) estão figuras do CDS, pelo que JMR
por muito que se esforce por vender a ideia de que o CDS na Madeira não tem
nada a ver com o CDS nacional - não tem e trás Portas ao Funchal, como já o fez
com outros figurões centristas nas regionais de Março passado?! - obviamente
que sabe, melhor do que ninguém, que apesar do descalabro que é António Costa,
os portugueses não se esquecem de quem os atirou para o desemprego, de quem obrigou
os jovens a emigrar, de quem rouba os cidadãos e as empresas através de uma
carga fiscal vergonhosa e violenta, de quem roubou rendimentos aos funcionários
públicos, de quem protagonizou aquela cena execrável da demissão irrevogável
mas que rapidamente deixou de ser mediante a oferta de mais tachos e de promoções
pessoais na estrutura governativa, etc.
Ou seja, JMR sabe
que o CDS-Madeira, para além da perda natural de eleitorado - e isso tende a
acontecer à medida que o PSD regional for capaz de recuperar muitos eleitores descontentes
que engrossaram a abstenção e fizeram o CDS aumentar a votação - será julgado pela cumplicidade política e ideológica que sempre teve, e pelos vistos continua
a ter, com este governo de coligação.
Em resumo, a
manutenção do deputado em Lisboa é o objectivo político e eleitoral do CDS-Madeira.
Um fracasso quanto a este desiderato dificilmente deixará de empurrar José
Manuel Rodrigues para fora da liderança do partido, terminando deste modo um
ciclo que dará origem ao início de um outro consubstanciado na implementação de
um processo de renovação protagonizado por uma vaga de jovens militantes,
incluindo alguns dirigentes, que aguardam a sua oportunidade.
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