sexta-feira, setembro 11, 2015

Mania de escrever: o que joga a JPP até 4 de Outubro?

A JPP enfrenta estas eleições legislativas nacionais de 4 de Outubro - as primeiras depois das regionais - com o objectivo claro de eleger um deputado que provavelmente será o único. 
Contudo existem vários obstáculos a superar e que não têm nada a ver com o candidato, até porque acho que Nelson Veríssimo entra mais facilmente em determinadas faixas do eleitorado regional nas quais nem Filipe Sousa nem o irmão Élvio Sousa entrariam.
O problema da JPP tem a ver com a incerteza, que o próprio partido tem, quanto a saber se os resultados nas regionais de Março deste ano - 13 mil votos – e que propiciaram em ano de estreia a eleição de 5 deputados regionais, se manterá estabilizado em Outubro, escassos sete meses depois, ou se sofrerá pressões dos demais partidos da esquerda e particularmente do PS, susceptíveis de causarem estragos.
Os socialistas já anunciaram por Carlos Pereira que pretendem eleger 3 deputados dos 6 que a RAM elegerá. Isso colocaria, presumo eu, o PS de Pereira a disputar com o PSD de Albuquerque, taco-a-ataco, a vitória eleitoral na Madeira (o que para os social-democratas não seria de todo recomendável), o que significaria também dizer, com base na lógica socialista, que o CDS de Rodrigues e a JPP de Veríssimo ficariam à margem destas contabilidades socialistas.
O que quero dizer é que o PS sabe, tal. como Carlos Pereira sabe, que para eleger 3 deputados os socialistas não devem estar a contar com os eleitores do PSD. Provavelmente contarão com uma parte dos eleitores do CDS - que no entanto admito que ideologicamente não se revejam numa candidatura socialista já que se trata de eleitorado flutuante, descomprometido, mas que se movimenta na área dos partidos do centro-direita - mas essencialmente contam com a recuperação do eleitorado que claramente a JPP "roubou" ao PS e que acabou por ser a causa próxima da catástrofe eleitoral do PS nas regionais de Março deste ano, quando obteve o pior resultado de sempre, quer em percentagem, quer em termos absolutos (apesar de ter concorrido este ano em coligação com outros pequenos partidos que acabaram por ser os principais prejudicados, desfecho que deveria constituir uma lição política perante a leviandade com que se encara o recurso a coligações eleitorais, matéria exigente e regra geral desvalorizada pelos interessados...
Ou seja, Carlos Pereira ao anunciar que o PS aposta em, 3 deputados, não diz que vai ser o partido mais votado na RAM – nem precisa de ser para eleger 3 mandatos - mas não abriu o jogo todo. Para que isso aconteça o PS tem que resolver um pequeno-grande problema eleitoral que enfrenta neste momento, a JPP, retirando-lhe votos e eventualmente jogando no argumento da desnecessidade ou do voto perdido. Caso este partido mantenha a sua votação de Março elegerá um deputado e deixará o PS à beira de um outro desastre eleitoral, até porque tudo passará a depender quer da forma como o CDS resistirá (importante no apuramento dos mandatos por método de Hondt) quer da dimensão dos estragos que outros partidos da esquerda, sem possibilidades de eleição de deputados, podem causar aos socialistas.
Percebe-se que a JPP esteja, na óptica do PS. na ponta da espada. Nelson Veríssimo e Manuel França - meus colegas dos tempos de Liceu - comportam-se de forma sóbria, são pessoas com um discurso limpo, são facilmente entendidos, mas não podem ser arrastados para o erro estratégico que poderá ser complexo para a JPP de misturarem alhos com bugalhos, perdendo-se em questões domésticas que não são chamadas para nada nesta campanha eleitoral. Aliás esse erro é cometido por outros partidos que julgam erradamente que é por aí que ganham votos. Não ganham coisa nenhuma. Ou seja, estas eleições destinam-se a eleger 6 deputados das Madeira à Assembleia da República, não pretendem discutir a banana, o Jornal da Madeira (lembram-se, a propósito, da privatização da TAP e da postura do governo de coligação ainda no poder que se recusou fornecer aos partidos e aos deputados documentos que entendeu serem essenciais ao processo e que dizem respeito ao exercício da governação?!) ou se aquela estrada ali ou acolá vai ser ou não construída ou concluída, sem me pronunciar sobre os assuntos em causa e a importância que a JPP acha que eles terão para a opinião pública e os seus objectivos eleitorais. A JPP se entrar por divagações idiotas, se confundir o eleitorado, corre o risco de aos olhos dos eleitores se tornar desnecessária em Lisboa, porque as pessoas perguntarão para que serve um único deputado de um partido em Lisboa, argumento que os demais partidos com aspirações à eleição de mandatos obviamente suscitarão? Que espaço de manobra terá um deputado único? Muito pouco, demasiado insignificante. Diria mesmo nenhum espaço de manobra e poder de dissuasão ou nenhum. Não é este o caminho que a JPP quer porque com ele dificilmente elegerá deputado. Nessa ordem de ideias, o que a JPP precisa de fazer – ao não alinhar pela abordagem concreta de assuntos que interessam às pessoas e que mexem com as suas vidas, optando por tontices que nesta conjuntura nada dizem às pessoas - é de criar uma agenda política com 3 ou 4 pontos de dimensão nacional, que preencham o discurso dos candidatos, aos quais juntará depois uma espécie de compromisso - também muito reduzido e de fácil leitura e percepção – que seja o compromisso assumido com os eleitores da RAM e que funcione como o caderno de encargos com o qual Nelson Veríssimo - que provavelmente jogará tudo na eleição – tem que convencer os eleitores. Balizando ao mesmo tempo a sua intervenção. Não precisa a JPP de outras intervenções nesta fase por parte de personagens que dificilmente trarão mais-valias eleitorais ao partido, independentemente de serem deputados ou dirigentes da JPP, porque creio que a dupla Nelson-França resolvem melhor que ninguém o problema. Finalmente parecer-me óbvio que a JPP neste ano de estreia tem que apostar tudo por tudo nos tempos de antena, usando-os para se tornar conhecido e passar a mensagem política e eleitoral, viradas sobretudo para os mais de 3 a 4 milhões de eleitores indecisos ou que não votam.
Este será sem dúvida um dos enigmas destas eleições no que ao círculo regional da Madeira diz respeito e à JPP mais em concreto. Além de que não sabemos como vai o PS desacreditar o partido que, gostem ou não os socialistas de ouvir, lhes “roubou” entre 8 a 9 mil votos, no mínimo atirando o PS para o 4º lugar, lodo depois do PSD, CDS e JPP (LFM)
Este quadro mostra porque era desnecessária em termos eleitorais a coligação PSD-CDS
Neste quadro compare os resultados eleitorais das regionais de 2015 e legislativas 2011
Esquema de apuramento dos deputados com base nos resultados das regionais de 2011. A JPP não elegia nenhum mas os resultados do PS pertencem à coligação

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