segunda-feira, dezembro 02, 2013

Opinião: "A táctica PCP da ‘acção directa’ não dispensa a TV"

"Depois abortada manif a pé na Ponte, o PC mudou a táctica de protestos. Através da CGTP, sua principal organização de massas, ocupou quatro ministérios; promoveu a acção ilegal dum piquete na greve nos CTT; organizações de polícias, associadas ao PC, romperam o cordão policial em S. Bento.
Porquê a nova táctica? A mobilização de grandes massas pelo PC diminuiu muito nos últimos meses, como se viu em Alcântara. Depois do êxito de 2012, a manif ‘Que Se Lixe a Troika' fracassou em 2013. As massas cansaram-se da rua. O PC voltou, pois, à táctica de 1975: um pé dentro e um pé fora da legalidade.
É um toca e foge: polícias em S. Bento e o piquete de greve nos CTT rompem com a lei, mas sem violência; militantes sindicais invadem ministérios, mas sem estragos; 30 pessoas manifestam-se sem autorização frente à casa de Passos em Massamá; funcionários da câmara PC na Moita apupam Maria Cavaco Silva. O PC quer manter a fachada de amante da legalidade - Jerónimo falou da "ilegalidade" dos polícias em S. Bento - ao mesmo tempo que está à frente, ou por trás, dessas acções à beira ou fora da lei. Opta por uma táctica que o ilibe de ilegalidade.
E assim desgasta o poder eleito do Presidente e do governo. Este mostra não ter receio, mas Cavaco está "amedrontado", como disse um arguto Soares.
Sem conseguir grandes manifes que façam cair o governo, com sondagens mostrando a oposição dos portugueses a eleições antecipadas, o PC faz acções de grande visibilidade mediática, talvez esperando que alguma delas desencadeie violência que leve um Cavaco fraco a convocar eleições. O PC precisa de acções que só existam pelos media, em especial nas TVs.
Arménio Carlos disse, sobre as invasões "secretas" dos ministérios, que precisa de "puxar pela imaginação", isto é, de imaginar acções que atraiam as TVs: os PCs ocupantes dos ministérios enviaram mensagens convocando as TVs, nomeadamente a SIC, que esteve nas quatro invasões. Sem massas na rua, o PC tem as TVs para criar desgaste. Sem a cobertura televisiva, estas iniciativas de umas dezenas não teriam qualquer impacto. Talvez o PC nem as organizasse.
É uma nova era: não do espaço público, mas do ecrã público. Não pode durar muito: a táctica de desgaste também se desgasta. Mas o PC, com o BE e a facção socratinista do PS, tem de arriscar. Não tem muito tempo: se a economia melhorar no primeiro semestre, só uma inesperada violência de rua, resultante dalguma acção minoritária, conseguiria derrubar o governo. E, sem as TVs, isso não poderá acontecer.
A RTP não tem dinheiro para o plano megalómano de Maduro
O plano megalómano do ministro Maduro para a RTP não só contraria a evolução dos media num mundo dinâmico como é insustentável financeiramente. Mesmo com o aumento da taxa, as receitas da RTP no próximo quinquénio não chegam para a sua actividade actual, muito menos para a multiplicação de canais e de ‘lusofonias' audiovisuais que Maduro propõe. Das duas, uma: ou a RTP é reduzida para cumprir o que já faz ou terá de haver um brutal aumento de receitas.
Lamento, mas o ministro é alguém sem contacto com empresas, sem experiência fora da universidade pública, e ainda por cima com uma visão do mundo formatada pela burocracia bruxelense: a RTP megalómana que ambiciona não cabe no mundo moderno e num país em ruínas.
Adeus canais, olá conteúdos
A Amazon produziu uma série de TV para vender... na Amazon. A linguagem é TV, a série é ‘de TV', mas não passa pela TV. Ou antes, passa, se se quiser: os gigantes Microsoft, Samsung e Sony lançaram aparelhos e software em que o ‘TV da sala' obedece ao ambiente Internet. Adeus canais, olá conteúdos concretos. Será que quem fala do ‘futuro' da RTP percebe o que se passa?" (texto de Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã,com a devida vénia)