"Há anos que ouço
falar em Ana Avoila e ontem, num momento que tive, decidi pesquisar quem era
e o que fazia. Primeira surpresa: os nomes dos sindicalistas não têm biografias
na Internet, ao contrário dos nomes de quase toda a gente que aparece na
televisão.
Retiro
pelo contexto, pelo facto de ser coordenadora da Frente Comum dos sindicatos da
Administração Pública que é funcionária pública. Mas faz (ou fez) o quê?
Deserto absoluto. Fosse outro o cargo e não faltaria quem dissesse que esta
ausência de currículo era suspeita... mas adiante.
Que
idade tem? Não se sabe, mas deve ter 59 anos. Porque há uma Ana Avoila,
Funcionária Pública e membro da Direção do Setor da Função Pública de Lisboa
do PCP, membro do secretariado Permanente da Direção do Sindicato dos
Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, Coordenadora da Frente
Comum dos Sindicatos da Administração Pública que foi candidata pelo Partido
Comunista às Europeias de 2009 e que tinha, na altura, 55 anos. Presumo que
seja a mesma.
Continuando
a pesquisa denoto que em 19 de fevereiro de 1998, há mais de 15 anos, uma
Ana Avoila era subscritora de um abaixo-assinado a defender a interrupção
voluntária da gravidez. Como tinha, por profissão dirigente sindical, presumo
ser a mesma.
Em
11 de maio de 2003, há 10 anos, já falava em nome dos trabalhadores da
Administração Pública, acusando o então Governo de Durão Barroso de asfixiar
os funcionários com as suas medidas. Em 25 de setembro de 2006, há quase
sete anos, acusava o governo de Sócrates de querer "liquidar a
Administração Pública entregando os serviços mais rentáveis ao patronato".
Há 15 dias disse que o Governo de Passos está a "governar em
ditadura" e faz "reuniões a correr para lixar os trabalhadores".
Presumo que seja a mesma Avoila que marca greves sem passar cavaco aos outros
sindicatos, porque acha que sim.
Não
entendo bem a credibilidade da senhora. Se ela é dirigente há 15 anos e não
conseguiu melhores resultados do que estar tudo cada vez pior, seja em que
Governo for, pode ter a humildade de perguntar a si própria se o
problema não será também um pouco seu, pois não soube melhorar, ou impedir
que piorassem as condições dos trabalhadores que representa. Mas, curiosamente,
nestes cargos, ao contrário de nos partidos e nos clubes, nunca há oposições
internas visíveis. Mais: quando se acusa um Governo eleito há dois
anos de governar em ditadura, que pode ouvir quem está à frente de uma
organização há 15 anos (pelo menos)?
O
que faz correr uma pessoa assim? É a fé? Quem a segue fá-lo por motivos
idênticos? Às vezes é bom interrogarmos estes profissionais da contestação,
porque nem sempre as coisas são muito claras no campo de quem mais se queixa" (texto
de Henrique Monteiro, Expresso com a devida vénia)