Escreve o Expresso que "Vítor Gaspar fez as contas com multiplicador orçamental de 0,8. Se for considerado o intervalo entre 0,9 e 1,7 do FMI, a recessão será mais grave do que a previsão de 1% do Orçamento do Estado.
Vitor Gaspar revelou hoje no Parlamento, durante uma audição na Comissão de Orçamento e Finanças, que o Orçamento do Estado para 2013 tem implícito um multiplicador de 0,8. Ou seja, que por cada euro de austeridade o produto interno bruto (PIB) cai 80 cêntimos. É um valor superior aos 0,5 normalmente utilizados mas, ainda assim, abaixo do 'novo' intervalo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que aponta para um valor entre 0,9% e 1,7%. O Expresso fez as contas e, caso se confirmem os multiplicadores do FMI, o PIB poderá cair entre 1,2% e 2,4%. É o efeito na economia das novas medidas de austeridade que somam 1,5% do PIB. O pacote total são 3,2% mas parte estava já prevista e, por isso, 'acomodada' na anteiror previsão de PIB para 2013. Recorde-se que o governo prevê uma queda do PIB de 1% no próximo ano. A polémica do multiplicador estalou há duas semanas, quando o FMI publicou um estudo no seu World Economic Outlook de outono, assinado por Olivier Blanchard (economista-chefe) e Daniel Leigh, que alertava para o facto de o multiplicador orçamental ser superior aos 0,5 normalmente considerados. Blanchard acabaria por fazer uma leitura política deste resultado, avisando que talvez a austeridade deva ser moderada. Declarações que a diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde, aprovou e que, uma semana depois, foram objeto de muitas dúvidas por parte de Vítor Gaspar. Na conferência de imprensa de apresentação do OE/2103, Gaspar desvalorizou o resultado e a leitura política que estava a ser feita. E não avançou um número quando questionado sobre qual o multiplicador implícito nas contas para o próximo ano. Agora, depois de muita polémica e até de um pedido do grupo parlamentar do PS à UTAO para calcular o multiplicador, acabou por avançar o valor de 0,8. Um número que é, de facto, superior aos 0,5 inicialmente considerados, tal como tinha garantido na semana passada o chefe de missão do FMI. Abebe Selassie acabou por emitir um comunicado na quarta-feira para colocar alguma água na fervura e assegurar que não há razão para rever as previsões do governo, uma vez que já têm um multiplicador superior ao habitual. Mesmo assim, trata-se de um valor inferior ao intervalo do FMI e aos 1,6 calculados pelo economista Barry Eichengreen e publicados ontem num artigo do Vox".
