Teve resultados recorde em 2008. Não sentiu quebras do mercado inglês?
Não é do mercado inglês que me vêm as grandes preocupações até ao fim do Verão. Tive um aumento de ingleses no Inverno, e neste momento tenho toda a operação garantida até ao Verão. Porque os operadores turísticos compram euros para suprir as suas necessidades e o preço final que colocaram nas brochuras foi concebido numa taxa de câmbio de 1.39.
É a parceria com operadores turísticos que lhe permite taxas de ocupação de mais de 90%?
A parceria com a Thomas Cook dá-nos sobretudo capacidade de chegar à rede de distribuição de forma mais efectiva. Como a legislação comunitária não admite ambientes de cartel ou exclusividade dentro da distribuição, também temos relações prioritárias com a concorrência deste operador, nomeadamente o grupo Tui. Mas o que marca a nossa diferença também é a extrema fidelização dos clientes finais, e 38% são repetentes. Um em cada três clientes que nos visita já esteve no universo Porto Bay, o que nos dá mais confiança na operação.
Que quebras prevêem os operadores nos destinos nacionais?
O cliente-tipo do Algarve é diferente do da Madeira, que tem uma idade mais elevada e outro estrato social. Segundo os operadores, a previsão de decréscimo para a Madeira é inferior à previsão de decréscimo para o Algarve. O Algarve é um destino mais de família, de clientes que vivem confrontados com algum espectro de desemprego e instabilidade laboral. A informação que temos dos operadores é que os apartamentos turísticos ressentir-se-ão ainda mais que a hotelaria convencional, porque os estratos sociais que os procuram são mais afectados. Não esquecer que há três mercados importantes para Portugal (Inglaterra, Suécia e Rússia) cujas moedas tiveram uma acentuada desvalorização em relação ao euro.
O que devem fazer os hotéis?
Temos de agir no momento presente com promoções agressivas. O paradigma de gestão mudou e temos todos de aprender a navegar à vista para poder garantir mercado. Temos de ser reactivos a situações do exterior e criar promoções fortes para manter o lastro da própria operação. É muito importante para destinos como os nossos que não haja cancelamentos da operação turística. Temos de agir rápido, não só eu mas todo o sector, para que os operadores, fruto de uma manifesta regressão de clientes, não cancelem as suas operações para Portugal.
Mas há hoteleiros que dizem que vão subir preços em 2009.
Cada hoteleiro terá a sua estratégia. Mas, no turismo, sem ovos não há omeletas. E nunca vi o mercado dar voltas por imposição da oferta. Numa situação em que a oferta é manifestamente superior à procura, não estamos no melhor momento para ter posições rígidas.
Vamos abandonar agora o mercado inglês ou o mercado russo?
É mentira, são mercados de grande expressão, e não é no mercado húngaro ou eslovaco que vamos encontrar grandes alternativas, apesar de haver mercados fortes por explorar. E Portugal tem de eliminar rapidamente os factores que lhe trazem perda de competitividade no turismo.
E que factores são esses?
Portugal tem um problema na afirmação como destino turístico: está depois de outro país que na Europa se considera periférico. Ganhar dimensão mínima para Portugal exige a definição de uma estratégia ibérica. Por isso sou um forte defensor do TGV, é a única forma de nos aproximarmos de mercados com dimensão. As acessibilidades não se fazem só por via aérea, onde Portugal se liga hoje num ‘clique’ a qualquer país. As grandes ligações rodoviárias e ferroviárias numa lógica ibérica são fundamentais para afirmação dos nossos destinos turísticos. E sobretudo num ambiente de recessão, para garantir acessibilidades baratas a um português ou um espanhol, mais do que procurar novos mercados com ganho acrescido diminuto.
Concorda com a nova campanha no mercado interno e o apelo aos portugueses para passarem mais férias em Portugal?
Estou totalmente de acordo. É fundamental encontrarmos mercados alternativos aos que estão a mostrar debilidades e os de expansão natural para destinos portugueses são em primeiro lugar o mercado nacional e tendencialmente o espanhol. Mas neste desafio para os portugueses passarem férias no país, terá de haver formas de os compensar nestes momentos difíceis, designadamente na dedução de portagens de auto-estrada. Um português para se deslocar de Lisboa ao Algarve paga mais 36 euros do que um espanhol ao ir do centro de Espanha para uma praia do Sul. Há formas possíveis, juntando intervenientes do turismo, Brisa e o próprio Estado, de compensar quem, tendo pago as portagens, vai depois gastar o seu dinheiro nos destinos nacionais. Outra das grandes disfunções está nas taxas aeroportuárias. Na Madeira, são o dobro das espanholas, e no total nacional são 50% mais.
Defende que é preciso mexer nas taxas aeroportuárias?
Regular as taxas com uma política agressiva e então, se for necessário, fazer incentivos de novas rotas — que o Ministério da Economia já está a fazer, e bem. Mas não faz sentido o que acontece no momento presente: cobrar mais nos aeroportos e dar depois subsídios a novas rotas.
Vai abrir hotéis em 2009?
Estamos a negociar um hotel em São Paulo (Brasil) num edifício de referência, e mantemos interesse num projecto em Lisboa para recuperação de um palacete. Esperamos que os problemas sejam resolvidos, Lisboa tem um parque imobiliário cada vez mais degradado e que é património cultural da cidade.
Prevê manter-se como campeão em taxas de ocupação?
O grande concorrente do Porto Bay em 2009 é o Porto Bay em 2008. Seria estultícia minha dizer que neste ambiente vou atingir os mesmos resultados. Mas as primeiras reservas que recebemos para o Verão no hotel do Algarve, o Porto Bay Falésia, estão acima do ano passado em todos os operadores. Parto para 2009 com alguma margem de conforto para enfrentar um ambiente difícil, pelo lastro de reconhecimento junto dos clientes e da operação turística gerado nos nossos hotéis. Além dos resultados financeiros, somos o grupo hoteleiro português mais premiado internacionalmente. Dá-nos prazer ter dois hotéis na lista dos melhores do mundo já de 2009 da TripAdvisor, o maior auditor de viagens internacional, ou ter recebido a primeira estrela Michelin da Madeira num dos nossos restaurantes. É muito importante colocar os cintos de segurança no momento certo para poder conduzir bem em tempos de turbulência".
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Uma família de hoteleiros da Madeira
Largou a carreira de Direiro aos 26 anos para começar a dirigir a empresa de hotéis da família na Madeira, a Dorisol. “Desde os 13 anos que trabalho em hotéis e até geri o meu próprio bar. O meu pai habituou-me assim a ganhar o dinheiro das férias e repeti a experiência com os meus filhos. O Bernardo aos 15 anos foi recepcionista e também trabalhou nas piscinas”, conta António Trindade, que fundou o grupo hoteleiro Porto Bay, actualmente com oito hotéis (Madeira, Algarve e Brasil). Apostando na parceria com um operador internacional (Thomas Cook participa em 15% na holding de gestão) o Porto Bay fechou 2008 com receitas operacionais a crescer 20% para €53 milhões. Dois dos seus hotéis, The Cliff Bay no Funchal e Porto Bay Rio no Brasil, acabaram de ser classificados pela Travellers Choice 2009 da TripAdviser como dos melhores do mundo.