“As pessoas que
costumam dispensar alguns minutos para me lerem, independentemente de
concordarem ou não com as minhas opiniões - que sendo pessoais, devem ser
respeitáveis na exata proporção em que as ideias que não são coincidentes com
as minhas são credoras do meu respeito - certamente que não duvidam que mantive
sempre uma linha de crítica a Passos Coelho. E que não retiro rigorosamente
nada ao que escrevi e disse.
Crítica que não
tem nada a ver com questões pessoais - acho que não podemos confundir política
com essas matérias - mas sim com toda uma série de decisões e procedimentos adotados
enquanto governante. Acho que os resultados obtidos foram positivos para as
contas públicas - era o que faltava que assim não fosse depois de 4 anos de
vergonhosa austeridade e roubalheira institucional - mas foi péssimo para o
país, para os cidadãos em geral, para os jovens e idosos, para os homens e
mulheres, na medida em que o desemprego vergonhoso, a pobreza, a exclusão
social, os dramas dos jovens, a roubalheira descarada a reformados e
pensionistas, a perseguição a funcionários públicos, a degradação dos serviços
públicos prestados pelo Estado aos cidadãos, e hipocrisia criminosa de uma
propaganda que esconde a verdade aos portugueses, etc, são a prova provada de
que as patifarias foram muitas e representam o lado negro de tudo o que se
passou nestes quatro anos.
Não tolero a
tentativa de banalização do caso das dívidas de Passos Coelho à Segurança
Social, promovida pelo próprio e seus seguidores, não entendo como lhe foi
possível "regularizar" o pagamento de dívidas de alguns milhares de
euros e não aceito as explicações dadas - se havia dos serviços públicos a
obrigação de notificar os devedores, segundo reclamou Passos, da parte deste
havia a obrigação de cumprir as obrigações para com a segurança social, as
quais ele tinha obrigação de conhecer e o dever de cumprir. Mas também recuso
alinhar pela procissão de histeria eleitoralista do PS e dos seus parceiros da
esquerda visando retirar algum aproveitamento eleitoral e político demagógico
deste "caso", reconhecidamente complexo e incómodo para o PSD e que,
repito, excita tanto o PS claramente a tentar "esconder" a polémica sobre
as alegadas suspeitas vergonhosas que parecem cercar o processo de Sócrates que
diz respeito a dezenas de milhões de euros.
Mas quando a
reboque do "caso" da Segurança Social - e admito que foi o próprio
Passos, pateticamente, a dar a "deixa" aos jornalistas - se fica a
saber que, afinal, o primeiro-ministro também foi alvo de cinco processos, entre
2003 e 2007, despoletados pela autoridade tributária e por causa de dívidas e/ou
incumprimento de prazos, constato que a hipocrisia então tudo o que é
tolerável, opinião que nada tem a ver com o facto da política portuguesa andar
tanto na sarjeta.
Confesso-vos
que tenho medo dos que dizem ser "certinhos",
dos “moralistas” deste regime da treta, dos ”guardiãs” das públicas virtudes,
das Fertuzinhos ou das Catarinas e outros que tais, dos que reclamam para si comportamentos
“exemplares” e o cumprimento integral de prazos, dos que dizem que nunca
pagaram multas ou coimas às finanças, à segurança social ou a qualquer outra
entidade pública. Tenho medo porque nos últimos anos, com tantos casos BES,
BPN, BPP, vistos Gold, casos de corrupção envolvendo o aparelho de estado e na
política, etc, percebe-se do que são capazes todos esses "certinhos"
esfomeados, da voragem corrupta desses "impolutos" que carregam nas
calças bolsos sem fundo da hipocrisia doentia de uns tantos "anjolas" de trazer por casa. É o
gamanço sem controlo, é o vale tudo. Para estes, dizem eles, não há problemas
com incumprimentos de prazos, com coimas e com multas. Porque para eles há
sempre outros expedientes, que acabam por engordar a certeira ou as contas
bancárias, graças a “comportamentos” que, de uma forma ou de outra, acabam por
ser suportados pelos desgraçados do costume, dos pata-rapadas, dos milhões de
portugueses que pagam sempre os custos do gamanço e de todas estas patifarias e
habilidades destes “certinhos” que não passam de uma corja de corruptos de
colarinho branco.
Passos
incumpriu prazos fiscais? E depois, qual é o problema? Passos pagou multas ou
coimas às finanças? E depois, qual é o problema? Problema seria aproveitar-se
da política e dos cargos para não pagar. Se pagou, como é que uma situação
desta natureza – e pela qual milhares de portugueses, de cidadãos que nada têm
a ver com a política, já passaram, sem que a sua dignidade tenha sido beliscada
- se pode comparar às desculpas esfarrapadas dadas no caso do calote à
Segurança Social? E, já agora, sempre gostaria de saber, entre tipos da
oposição que agora aparecem tão excitados e "santinhos", quantos
deles não passaram pela mesma situação de Passos perante o fisco, ou mesmo por
situações bem piores? E ainda juntaria, no caso deles, eventuais falências fraudulentas,
dívidas nunca pagas e negócios manipulados pelos próprios, em seu benefício
pessoal, aproveitando-se de cargos políticos e recorrendo a um carrossel de
empresas criadas e/ou extintas com a maior das facilidades deste mundo.
Moralismos? De facto são estes os primeiros a ocupar os lugares da frente
destinados aos "apontadores" dos erros dos outros" (LFM/JM)