sábado, janeiro 18, 2014

Jornalista no exílio explica sistema de censura na Coreia do Norte



Li aqui que “um jornalista norte-coreano, que atualmente vive na Coreia do Sul, explicou que o líder da Coreia do Norte e assessores "transmitem instruções detalhadas sobre os programas a emitir" na televisão estatal KCTV. O sistema de propaganda norte-coreano nada deixa ao acaso e os conteúdos mediáticos "são sujeitos a três filtros de censura: interna, estatal e `a posteriori`", disse Chang Hae-song, que durante 20 anos trabalhou na KCTV (1976-1996), num encontro com um grupo de jornalistas estrangeiros em Seul.  "Fui enviado para um campo de trabalho por escrever o nome do líder com um erro", contou Chang, que só quando chegou a Seul descobriu que "os desenhos do gato e do rato não eram norte-coreanos, mas dos Estados Unidos, e chamavam-se Tom e Jerry". Chang explicou que Pyongyang transmite conteúdos estrangeiros ignorando quaisquer direitos de autor. Na televisão, os norte-coreanos têm um canal generalista, outro educativo e um terceiro chamado Mansudae TV, que transmite programas estrangeiros, normalmente de entretenimento, que o regime seleciona e corta a gosto. Os "media" da Coreia do Norte incluem a televisão e a rádio estatais, o jornal Rodong e a agência noticiosa KCNA, todos controlados pelo Governo. Os jornalistas norte-coreanos gozam de um elevado estatuto social e para conseguir ocupar um dos cerca de 800 postos de trabalho na KCTV há que cumprir dois requisitos básicos: apresentar um percurso académico brilhante e pertencer a uma família respeitada, disse. Chang Hae-song concluiu a prestigiada universidade Kim Il-sung e o avó foi um militar que morreu em combate na Guerra da Coreia (1950-53), o que facilitou o acesso à televisão norte-coreana e, com isso, uma vida relativamente cómoda. Os jornalistas norte-coreanos têm acesso "à informação sobre o que se passa no estrangeiro, mas têm que a falsear" para esconder os progressos económicos em outros países, enquanto a Coreia do Norte está em crise desde a década de 1990.Chang afirmou que sentia vergonha quando recrutava grupos de crianças e adultos "para ensaiar sete e oito vezes palavras de ordem de fidelidade ao líder", transmitidas pela KCTV como se fossem manifestações espontâneas. "Estive três meses num campo de trabalho por escrever, com um erro, num documentário, o nome de Kim Il-sung", fundador da Coreia do Norte em 1948 e líder do país até à morte em 1994, disse. "Como estava bem visto na KCTV, o campo de trabalho foi como umas férias pagas", em que podia beber álcool nos tempos livres e falar com os camponeses, que ajudava nas tarefas agrícolas, indicou. O grande erro de Chang Hae-song ocorreu em 1996 quando, numa conversa informal, comentou que tinha sido a Coreia do Norte e não os Estados Unidos a iniciar a Guerra da Coreia e que Kim Jong-il - líder na altura - tinha nascido na Rússia e não no "sagrado" monte Paektu, como afirmam os livros norte-coreanos. Acusado de fazer uma declaração contra o Estado, caiu em desgraça e, recorrendo aos seus contactos, conseguiu atravessar, com a família, o rio Tumen (na fronteira nordeste da Coreia do Norte com a China e com a Rússia). Daí, atravessou território chinês até chegar a Hong Kong (no sul da China) e, finalmente, à Coreia do Sul. Uma vez em território sul-coreano, Chang colaborou com os serviços secretos e hoje preside ao centro de escritores norte-coreanos no exílio. Chang, que acaba de lançar o livro "Rio Tumen" em Seul, acredita que muitos jornalistas norte-coreanos "têm consciência de que a Coreia do Norte já não é socialista, mas uma monarquia feudal", mas o regime de medo imposto pela família Kim mantém o silêncio, de acordo com a agência noticiosa espanhola EFE”.