terça-feira, julho 10, 2012

Ministro confrontado com proposta de sistema de saúde centrado nas pessoas

Li no site da RTP que "a resolução dos problemas do sector da saúde em Portugal passa por uma mudança de paradigma que centre a organização dos serviços nos doentes e não nas unidades de atendimento, defendeu esta segunda-feira, em Lisboa, o professor norte-americano Michael Porter, para quem em caso algum a solução passa pela desvalorização salarial de médicos e enfermeiros. O ministro da Saúde, Paulo Macedo, considerou as propostas interessantes, escusando-se, no entanto, a comentar a greve dos médicos das próximas quarta e quinta-feira. Profissionais que, entre outros objetivos, lutam contra a contratação de serviços a empresas de trabalho temporário. Michael Porter afirmou que “reduzir os salários dos médicos e dos enfermeiros não cria valor” e defendeu que estes profissionais devem ser bem pagos. O conhecido professor da Harvard Business School participou numa conferência organizada pela Universidade Católica e subordinada ao tema “Sistemas de saúde em tempos de crise”, que contou com a presença do ministro da tutela, Paulo Macedo. A solução para o sistema de saúde português não passa, para o consultor, por desvalorizar o valor dos médicos e dos enfermeiros. Deve, antes, “ser centrada no paciente”.
“Temos de parar de defender o que foi feito anteriormente, uma vez que ficou demonstrado que falhou”, afirmou Michael Porter, que explicou que “a bênção desta crise é que obriga a pensar diferente”. Portugal deve, no seu entendimento, mudar de visão estratégica face à saúde, uma vez que “o problema é solúvel” desde que se não continue “com uma organização do século XIX com os avanços tecnológicos do século XXI”. Michael Porter deu vários exemplos daquilo que deve constituir a alteração do paradigma português. Um dos principais pilares seriam as unidades de tratamento especializado em grandes áreas que permitiriam que um paciente não tivesse de consultar vários especialistas e ter de se deslocar a vários locais para conseguir fazer os inúmeros testes a que tem de ser sujeito. O serviço dessas unidades deveria, em termos de pagamento, ser considerado como um todo e não um somatório de serviços pagos individualmente. "Há que pagar de forma diferente, um serviço deve ser pago em pacote e não consulta a consulta", diz Porter. "O desafio de Portugal é desenhar um sistema que aumente dramaticamente o valor centrado no paciente e temos de pensar esse valor por doenças e não por hospital", adiantou. Esta nova visão da saúde recentraria a forma com o Estado se organiza. Atualmente Portugal está organizado "à volta dos fornecedores [médicos, hospitais, clínicas] e não à volta do paciente", num sistema em que "não é possível criar valor", mesmo que "os médicos e enfermeiros sejam os melhores do mundo".
"Propostas interessantes", diz Paulo Macedo
Presente na conferência, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, acolheu com alguma simpatia as propostas que ouviu do professor da Harvard Business School. Aos jornalistas afirmou que escutou "com interesse as propostas concretas para Portugal". O ministro garantiu que irá debruçar-se sobre a proposta de criação de unidades especializadas de tratamento centrado no doente.
"Algumas propostas são bastante pertinentes", observou Paulo Macedo, que sempre foi dizendo que Michael Porter "acabou de fazer um estudo sobre o sistema alemão e americano", que embora sejam sistemas muito diferentes do português "se debatem com o mesmo tipo de questões". À margem da conferência, o ministro da Saúde escusou-se a comentar a greve dos médicos anunciada para os próximos dias.
A dois dias da greve dos médicos
Nas próximas quarta e quinta-feira, o Serviço Nacional de Saúde vai conhecer uma greve dos médicos da iniciativa de todos os sindicatos representativos destes profissionais. E que desta vez conta com o apoio expresso e ativo da Ordem dos Médicos. Na justificação da greve, os médicos explicam que exigem o fim do concurso de aquisição de serviços médicos – uma das 20 exigências na base da greve – e a recusa das "múltiplas e graves medidas governamentais de restrição no acesso aos cuidados de saúde". Recorde-se que recentemente surgiram notícias de que estariam a ser contratados enfermeiros a empresas de trabalho temporário a receber menos de quatro euros por hora. No domingo o ministro da Saúde esperou três horas pelos representantes dos sindicatos dos médicos para conseguir estabelecer uma plataforma que convencesse os sindicatos a desconvocarem a greve, mas a espera foi em vão, já que os sindicalistas não compareceram. Já esta segunda-feira o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos mostraram abertura para desconvocar a greve, mas impondo como condição essencial a calendarização das medidas que respondam às suas reivindicações”.

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