sexta-feira, junho 03, 2011

Opinião: votar com convicção e liberdade

"Hoje termina a campanha eleitoral. Os madeirenses não estão à espera destes últimos momentos para decidirem como vão votar, porque vão votar e com que objectivos o fazem. Aliás, estou convencido que as sondagens – e tudo o que isso despoletará em termos de debate – serão as grandes derrotadas das eleições de domingo, tal como aconteceu com as europeias de 2009 onde o nível de manipulação e de mentira atingiu foros de escândalo e um descaramento tal que era de prever que as entidades competentes interviessem neste sector abandalhado, impondo regras claras e aplicação exigências que não são hoje reivindicadas, a começar pelo desvendar de eventuais ligações entre estas empresas e sectores políticos, e a identificação de todos os seus proprietários.
Tenho a certeza que os portugueses não precisam que lhes andem sistematicamente a dizer, quase apenas isso, que o grande responsável pela crise e pelo caos em que nos encontramos, é Sócrates e a sua governação socialista de meia-tijela. Os portugueses sabem isso, sabemos tudo isso. O que é imperioso é que as pessoas construam uma alternativa, se afirmem como alternativa, não caindo no erro grosseiro das banalidades e do discurso vazio de conteúdo e sem qualquer razoabilidade, mas que sejam capazes de trazer algo de novo, de mobilizar, de motivarem um povo agoniado, triste e frustrado com tudo o que se tem passado e que, de uma maneira geral, penaliza e responsabiliza a política e os políticos. Enquanto isso não for assimilado, nada feito. É pela diferença, na diferença, na capacidade de transmitir confiança e de levar as pessoas a aceitar a mudança, que as alternativas de constroem e consolidam. Não caindo no vazio de banalidades idiotas e fúteis que no fundo escondem os maus tempos que nos esperam.
Pouco importa, sobretudo quando o cinto aperta e ninguém sabe ainda qual a dimensão do sacrifício pedido, perder tempo com a dialéctica entre direita e esquerda, dois conceitos ideológicos que foram perdendo razão de ser ao longo do tempo, à medida que a História produzia acontecimentos que iam mudando o mundo, as mentalidades, a política e as ideologias e lideranças. Direita e esquerda continuam a ser chavões, apenas isso, usados para formalizar uma pretensa separação de ideias entre pessoas ou partidos. Não vou discutir hoje o que é a direita nem a esquerda, tão pouco saber se a esquerda é geradora ou não de políticas de direita e outras questões similares a esta.
Virgílio Ferreira (Pensar) escreveu que “os políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio de se ser político, estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente esquecer-se ou julgar que mudaram de poiso. Mas dito isso, não é preciso ter de explicar de que sítio são os actos que a necessidade política os vai obrigando a praticar. Como os de direita, aliás, que é um lugar mais espinhoso. O que importa é dizerem onde instalaram a sua reputação, na ideia de que o nome é que dá a realidade às coisas. E se antes disso nos explicassem o que é isso de ser de esquerda ou de direita? Nós trabalhamos com papéis que não sabemos se têm cobertura, como no faz-de-conta infantil. Mas o que é curioso é que o comércio político funciona à mesma com os cheques sem cobertura. Ninguém tira a limpo esse abuso de confiança, para as cadeias existirem. Mas o homem é um ser fictício em todo o seu ser. É precisa a morte para ele, enfim, ser verdadeiro”.
O PSD da Madeira não precisa de entrar em pânico, porque não existem razões para isso. Já aqui referi, e repito, que os social-democratas para ganharem as eleições precisam de conquistar 3 mandatos dos 6 que a Região por enquanto elege. Se conseguir manter o 4º deputado que inesperadamente obteve em 2009, tal a dimensão da derrota socialista – mais isso do que o crescimento eleitoral do CDS local – isso significa que alguém perdeu, pelo que a questão da futura coligação nacional que governará o país não se compadece com perdas de mandatos a favor dos socialistas. E podem deixar-se de valorizar histórias idiotas que ciclicamente são trazidas para estas eleições. Durante algum tempo eram os discursos de João Jardim em inaugurações. Agora reconhecem que isso não tem acontecido – até o DN local em função de cujo conteúdo os partidos da oposição actuam – mas mesmo assim o desleixado e desacreditado PS local insiste nesse tecla. Há duas ouvimos um dirigente e candidato dizer que o PS local quer combater a avaliação de professores, as privatizações, a perda de benefícios sociais, os despedimentos, etc. Mas não foi o PS nacional, com a sua governação incompetente e corrupta, o maior o arauto de tudo isso? Não foram os socialistas em Lisboa os maiores símbolos de todas essas patifarias cometidas contra os portugueses? Afinal qual a ética, qual a dignidade, qual a dimensão moral e a espinha dorsal de crápulas que, com a maior sem vergonha deste mundo, recorrem a semelhante demagogia para caçar votos e conquistarem um há muito ambicionado tacho em Lisboa? Será que o povo, o eleitorado madeirense, ainda se deixa enganar e vai atrás desta gente?
A segunda questão, outra idiotice que resulta de relações indignas e conspurcadas entre política e comunicação social (hoje não vou falar das relações entre esta e determinados grupos económicos...), tem a ver com o facto de que sempre que ser que se fala na renovação da classe política, as pessoas – incluindo alguns meios de comunicação social mais tendenciosos e sem rigor deontológico e princípios éticos – apontam o dedo para o PSD da Madeira e para Alberto João Jardim, mas esquecem-se de referir, por exemplo, há quantos anos andam certas figuras do CDS e do PS locais na política, com a particularidade de terem sempre a garantia de segurança de lugares, sobrevivendo a sucessivas derrotas. Jacinto Serrão é disso o expoente máximo dessas habilidades, quando ensaiou em 2007, na sequência da copiosa derrota eleitoral nas regionais antecipadas desse ano, a demissão da liderança do PS, indo refugiar-se em Lisboa onde tinha à sua espera o lugar de deputado na Assembleia da República, para regressar pouco depois à Assembleia da Madeira para ocupar o lugar que tinha conquistado em 2007, tudo isto devido ao facto do parlamento nacional ter sido dissolvido devido às eleições em Setembro de 2009 e a liderança socialista regional de então, da responsabilidade de João Carlos Gouveia, o ter afastado da lista.
Esqueçam as sondagens, esqueçam as promessas, esqueçam estes exemplos de indignidade que desacreditam a política todos os dias e votem em liberdade, com convicção, dando a esse acto uma dimensão de expressão livre de uma escolha, de uma opção. Votem com convicção, sempre de acordo com o que acham ser o melhor para a Região e também para o País, numa das alturas mais difíceis da nossa história recente, resultante da delapidação dos dinheiros públicos, da incompetência que varreu a governação em Lisboa nos últimos seis anos, dos sacrifícios infindáveis que nos foram pedidos para nada e que nos conduziram a uma triste e repugnante situação de bancarrota. Votemos com dignidade, com isenção, com convicção, transformando a ida às urnas num acto de coerência e de libertação, numa expressão de revolta contra aqueles que nos desgraçaram. Votemos convictamente pela mudança, para que Portugal retome os caminhos da dignidade e do respeito, interno e externo
" (in Jornal da Madeira/LFM)

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